Tendo em vista um dos objetivos atuais do Banco Mundial -o da "luta contra a pobreza" - I. INTRODUÇÃOÉ notória a centralidade que o conceito "pobreza" passou a assumir desde início dos anos 1990, sobretudo em função de sua ampla utilização, tanto em relatórios de organismos internacionais quanto em documentos de formulação e avaliação de políticas públicas, principalmente de países seguidores das recomendações dessas agên-cias.Diante de tal evidência, busca-se mostrar neste artigo que, a partir da análise das recomendações de combate à pobreza do Banco Mundial, é possível identificar uma "teoria" social implícita delineada em seus relatórios, que, por um lado, sugere um tipo específico de política social e, por outro, descreve e reafirma o modelo de sociedade característico da atual configuração da ordem social, ou seja, o mundo que sucedeu à crise do Welfare State e à derrocada do mundo comunista.Nesse sentido, pretende-se explorar aqui que o que poderia ser visto como uma mudança de política -de uma política apenas voltada para o ajuste fiscal para uma política mais "social" (por meio do "combate à pobreza") -faça parte da pró-pria lógica do marco teórico do neoliberalismo: políticas focalizadas e compensatórias voltadas para "pobres".Para tanto, serão analisados os relatórios do Banco Mundial, sobretudo aqueles voltados para a temática da "pobreza". Posteriormente, sugerirse-á que o uso do conceito de pobreza refere-se a um marco teórico definido -proposto pelo neoliberalismo -, que, ao priorizar os pobres como alvo de suas políticas, implica o deslocamento da política social da noção universalizada de direito e, em última instância, sugere a supressão da idéia e da realidade da cidadania social. II. ANTECEDENTESA partir dos anos 1970, a chamada "Era de Ouro" (HOBSBAWM, 1995, p. 253) característi-ca do período posterior à II Guerra Mundial, entrava em crise. Assistia-se no mundo desenvolvido a um quadro de diminuição do crescimento, queda dos investimentos no setor produtivo e aceleração geral dos preços, endividamento dos governos -o que representou, em última instância, tanto a falência do modelo fordista de acumulação capitalista quanto a crise da ordem social do Welfare State.No esforço de lidar com essa crise, o chamado "neoliberalismo" começou a ganhar terreno e emergiu como contraponto político, econômico e ideológico à predominância da intervenção estatal característica da Era de Ouro. Resgataram-se e disseminaram-se idéias que, desde 1947, vinham sendo discutidas, nas reuniões da Sociedade de Mont Pèlerin 1 , cujo propósito era combater a po-1 Seus principais expoentes eram Friedrich Hayek, Milton Friedman e outros (cf. ANDERSON, 1995).
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