Este trabalho trata de visões e narrativas sobre a cidade do Recife, a partir das quais se pretende discutir as seguintes indagações: Constituem essas narrativas representações que se eliminam e contrapõem? Indicam essas narrativas sentidos de estranhamento e familiaridade? Para tanto, foi relegada à perspectiva das evoluções contínuas no tempo e foi adotado o entendimento sobre representações em Roger Chartier, "A História Cultural: entre práticas e representações". Foram igualmente pesquisados relatos de memorialistas portugueses e holandeses que aqui estiveram nos primeiros tempos da colonização, séculos XVI e XVII, e narrativas de urbanistas, geógrafos e jornalistas das décadas de 1930 e 1950. A interpretação realizada ao se fazer a discussão indicada procura mostrar que as representações contidas nas narrativas das origens não se dissiparam: mantiveram-se e superpõem-se às da atualidade, constituindo a tessitura cultural do Recife. Contudo, enquanto as primeiras expressam um sentido de positividade, as atuais estão repletas de negatividades, tão pró -prias aos urbanistas e jornalistas.
A intenção deste artigo é traçar um paralelo entre a experiência do espaço urbano do século XIX representada pela flânerie e a nova experiência que se difunde no início do século XXI no ciberespaço, procurando reconhecer neste último uma nova condição de flânerie ou o aparecimento do ciberflâneur.
Resumo: A contribuição do engenheiro Antônio Bezerra Baltar para a constituição da prática do urbanismo no Brasil ainda apresenta lacunas historiográficas. A presente narrativa ao seguir a perspectiva da história cultural traz outros aportes à medida que apresenta Baltar não apenas inserido em um cenário local, mas também no nacional e internacional, articulando em instituições suas ideias às suas práticas urbanísticas. Neste sentido é mostrada no presente artigo a sua passagem no Centro de Estudos de Planejamento Urbano e Regional (CEPUR) e na Sociedade de Análise Gráfica e Mecanográfica Aplicada aos Complexos Sociais (SAGMACS). Aborda também a contribuição do padre dominicano francês Louis-Joseph Lebret para a formaçãodo pensamento de Baltar. Em um movimento inverso, indica como a prática urbanística de Baltar contribuiu para o entendimento de Lebret sobre cidade e urbanismo. A interpretação documental das práticas urbanísticas de Baltar situa obras, ideias e instituições que constituíramo campo do urbanismo no Brasil dos anos 1950.Palavras-chave Baltar; CEPUR; estudos urbanos; Lebret; prática urbanística; SAGMACS. Abstract: The contribution of the engineer Antonio Bezerra Baltar to constitutethe practice of urban planning in Brazil still presents historiographical gaps. Following theperspective of cultural history, thi paper shows Baltar not only inserted in the local scene but alsoin the national and international levels, articulating ideas to practices in urban institutions: atthe Centro de Estudos de Planejamento Urbano e Regional (CEPUR) and Sociedade de Análise Gráfica e Mecanográfica Aplicada aos Complexos Sociais (SAGMACS). The paper discuss thecontribution of the French Dominican priest Louis-Joseph Lebret for the formation of Baltar’sthought, and in a reverse movement, indicates how the urban practice of Baltar contributed forthe understanding of Lebret on town planning. The interpretation of the documents of urbanpractices of Baltar reveals works, ideas and institutions that constitute the field of urbanism inBrazil in the 1950’s.Keywords: Baltar; CEPUR; Lebret; SAGMACS; urban practice; urban studies.
e nas diretizes de Baltar (1951). A escrita de tal narrativa compara esses planos explicitando as diferentes concepções e representações do Recife e coloca em discussão a permanência desses saberes em relação à emergência de outros na atualidade.P A L A V R A S -C H A V E História; modernização; saber; urbanismo; representações. INTRODUÇÃOA gênese da modernização da cidade do Recife remonta ao século XIX, porém não se constituiu num processo em que sucessivamente foram elaboradas representações e realizadas intervenções modificadoras na fisionomia da cidade. Como bem mostrou Moreira (1994), a modernização do Recife teve origem no governo do conde da Boa Vista (meados do século XIX). O segundo período modernizador ocorreu entre 1909 e 1913, com um extenso programa de planos e obras: Plano de Saneamento do Recife; reforma completa do Bairro do Recife; reaparelhamento do porto; e incremento das ações higienistas, com a reorganização da Inspetoria de Hygiene. Posteriormente, entre 1922 e 1926, no governo Sérgio Loreto, presenciaram-se as obras de expansão urbana na periferia, com a urbanização do Derby, a construção da avenida Boa Viagem e a reforma de vários largos e praças nos núcleos suburbanos. Porém, a modernização empreendida no Estado Novo não consistiu a última fase, como foi afirmado por Moreira, nem as citadas épocas modernizadoras se estabeleceram segundo um processo cumulativo e complementar; mas por efeito da atualização e diferenciação de planos urbanísticos.Essa noção de modernização está subjacente à articulação saber-poder, portanto, aos dispositivos da sociedade disciplinar, cuja materialidade mais expressiva é o Panóptico de Bentham. Segundo Deleuze, tal dispositivo "age como causa imanente não unificadora … cujo efeito a atualiza, integra e diferencia" (1988, p.46-8). Dessa forma, a motivação e o desejo do controle, da dominação na cidade, incitam práticas dos detentores do saber e do poder, cujos efeitos retroagem sobre elas, alterando-as, ou seja, fazendo aparecer outras e novas práticas. Nesse sentido, a noção de modernização, aplicada à concepção do futuro citadino, significa a atualização e diferenciação das regras e preceitos urbanísticos, de modo a assegurar o controle e a dominação da cidade.Para essa discussão, o caminho adotado foi o de reconstituir as idéias dos urbanistas, objetivadas nos planos urbanísticos elaborados nos anos 30 e 50 no Recife. Nos anos 30, os planos urbanísticos introduziram, principalmente, os preceitos dos Ciams, traduzidos por Domingos Ferreira (1927), Nestor de Figueiredo (1932), Atílio Corrêa Lima (1936) e Ulhôa Cintra (1943). Nos anos 50, as idéias propugnadas pelos urbanistas traduziram, entre outros, os preceitos do Movimento de Economia e Humanismo que estão apresentados no estudo de Lebret (1954) e nas diretizes de Baltar (1951). A escrita dessa narrativa compara esses planos, explicitando as diferentes concepções e representações do Recife, e coloca em discussão a permanência desses saberes em relação à emergência de outros na atualidade.
ResumoAs lacunas e as inquietações provenientes da reflexão sobre a dimensão social do urbanismo estimularam a escolha de narrar a trajetória de Lebret a partir da ideia de que este foi um intérprete da América do Sul. O corpo documental consultado durante a pesquisa evidenciou essa condição. Como ponto de partida analítico, foi adotado, neste artigo, o fato de Lebret ser um religioso católico, integrante da ordem dominicana, em um contexto de disseminação do catolicismo social na França do início da Segunda Guerra Mundial. Seguindo procedimentos de paralelismos, ajustes, autoria e analogia, compôs-se uma análise da interpretação de Lebret sobre América do Sul, subdesenvolvimento e desenvolvimento. Os entendimentos construídos pelo padre francês e os sentidos atribuídos ao lugar estiveram fundados, como é demonstrado, em teorias e paradigmas ligados à sociologia, à economia e à doutrina social da Igreja. A posição ocupada pela interpretação de Lebret do desenvolvimento na América do Sul pode não ser consensual entre os juízos historiográficos, mas sua contribuição para a formação de intelectuais, em especial os da esquerda cristã, é algo que não pode ser refutado. Palavras-chave:Lebret. América do Sul. Subdesenvolvimento. Abstract Gaps and concerns stemming from the reflection on the social dimension of urban planning led to the decision of narrating Lebret's story as an interpreter of South America. This is demonstrated by the body of documentary evidence. The starting point was the assumption that Lebret was a devout Catholic and member of the
RESUMOO artigo discorre sobre as possibilidades de pesquisa geradas a partir da inventariação do acervo de livros que pertenceu ao urbanista Antônio Bezerra Baltar, autor de importantes contribuições como "Diretrizes de um Plano Regional para Recife" e "Índices Característicos do Desenvolvimento Urbano". Doado em 1998, à Universidade Federal de Pernambucoo acervo contém cerca de 2000 exemplares, em diversos idiomas e temáticas no campo da arquitetura, urbanismo, planejamento urbano e regional, sociologia, economia entre outros. Embora seja marcado pela dispersão em diferentes momentos, o acervo ainda constitui um importante conjunto documental passível de ser explorado não só pelos que buscam compreender a trajetória de Baltar, mas pelo mais diversos interesses elencados nas páginas seguintes. Palavras-chaveAntônio Bezerra Baltar; Biblioteca; Urbanismo. ABSTRACTThe article discusses the possibilities of research generated from the inventory of the
No abstract
O presente artigo trata da articulação entre os campos da conservação, planejamento urbano e a noção de turismo cultural por meio da análise dos Encontros de Governadores ocorridos em Brasília e Salvador, respectivamente, no início da década de 1970. A investigação histórica permitiu contextualizar a circulação de ideias no âmbito nacional e internacional que culminaram na elaboração de dois documentos reconhecidos pela historiografia: o Compromisso de Brasília e o de Salvador. Por meio do cruzamento de fontes primárias, como atas, relatos, revistas, discursos, entre outros, foi possível perceber que tais documentos não deram conta da complexidade das questões discutidas nos eventos. A contextualização institucional e intelectual permitiu perceber os eventos como desdobramentos do amplo debate internacional e do esforço em configurar maior articulação dos agentes nacionais. Neste sentido, apresenta-se uma contribuição para compreensão do campo da conservação no Brasil no momento em que se atrela ao planejamento urbano, com vistas à exploração turística e econômica do patrimônio cultural.
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