O presente trabalho reflete sobre os efeitos de sentido estabelecidos a partir da produção artística de Ailén Possamay em muros de Buenos Aires. As intervenções da autora são compostas por uma imagem de uma mulher envolvida em alguma atividade doméstica sobre a qual está escrito o enunciado “Eso que llaman amor es trabajo no pago”, de Silvia Federici. Com base na Análise Materialista de Discurso, debatemos sobre o funcionamento discursivo dessas intervenções, atentando para o político no processo de disputa pelos sentidos hegemônicos sobre o que é considerado trabalho. Discute-se sobre o trabalho reprodutivo, que, na formação social capitalista e patriarcal, não é considerado trabalho, mas, como diz o enunciado, é tido como o amor da mulher (mãe, esposa, irmã, amiga).
Resumo Com base nos pressupostos teórico-metodológicos da Análise de Discurso pêcheuxtiana, este estudo busca compreender os efeitos de sentido que emergem do excesso de operações discursivas de negação nos relatos de sujeitos gordos. A partir da análise, propõe a possibilidade de tal excesso apontar para um processo de resistência no discurso desses sujeitos. O sujeito gordo, interpelado pela Formação Discursiva (FD) dominante, não consegue uma identificação com as evidências que a FD produz: seu corpo se impõe como uma barreira para o processo de identificação. O sujeito, contudo, também não encontra possibilidade de identificação fora da FD dominante. Percebe-se, então, que o processo de subjetivação do sujeito gordo é atravessado por uma negação: o sujeito é aquilo que ele não é. Em outras palavras, o sujeito gordo precisa se subjetivar pelo avesso da evidência. Esse processo se lineariza em seu discurso por meio do uso excessivo da negação.
Com base na Análise de Discurso materialista, o presente estudo, ao analisar relatos publicados em um blog, faz trabalhar os efeitos de sentido que emergem a partir de depoimentos de sujeitos autorreferenciados gordos, os quais ganham um espaço de enunciação a partir da plataforma virtual Tumblr. Para fins de análise, foram selecionadas duas sequências discursivas recortadas de dois dos relatos disponíveis no referido blog. Nosso gesto de interpretação traz o elemento do excesso (ERNST, 2009) do discurso do outro como sintoma da falta de o sujeito gordo reconhecer para si um lugar de enunciação (ZOPPI-FONTANA, 1999; 2017). Esta falta subjetiva está diretamente relacionada aos imaginários de normalidade, colocados em circulação pelo discurso médico, que, sob o efeito de neutralidade e legitimidade da ciência, produz a evidência de que o corpo gordo é um corpo inquestionavelmente doente e que deve ser eliminado. A partir da análise, podemos perceber que o sujeito gordo, embora resista, não consegue se desfazer das determinações da ideologia dominante e encontrar para si um lugar em outra formação discursiva.
Ancorado no gesto de abertura proposto por Orlandi (1990) em sua obra Terra à Vista, este artigo propõe-se a analisar a construção discursiva (imaginária) do trabalho nos pronunciamentos públicos de 1º de Maio de Getúlio Vargas. As materialidades em análise, constituídas pela ideologia de Estado personalista, remetem à razão novo-estadista, período ditatorial marcado por uma tentativa de modernização da nação brasileira. Baseado, fundamentalmente, nos princípios epistemológicos da Análise de Discurso materialista, fundados por Pêcheux e atualizados/territorializados por Orlandi, o trabalho atenta às imagens de trabalho pelo viés do pré-construído, funcionamento específico do interdiscurso que se marca na linearidade linguística como um impensado do pensamento, à revelia do sujeito. O gesto analítico levado a efeito pontua que o trabalho é imaginariamente construído como matriz que consubstancia os demais imaginários sociais, estando diretamente imbricado à representação das classes, da economia, do governo e da nação. O funcionamento da memória, social (PÊCHEUX, [1975] 2014; ORLANDI, 1990; 2003) e afetiva (SILVA, 2012), por via de retorno, marca no funcionamento sintático a reinserção do interdiscurso, fazendo emergir os pré-construídos (i) da produção e do consumo como motrizes da economia, (ii) da dignificação do trabalhador pelo trabalho frente à figura personalista do governante e o (iii) da colaboração de classes (em denegação dos litígios sociais).
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