Pode-se constatar que a utilização da literatura como material deinquirição, que pareceu ilegítima ou desqualificada aos historiadoresde ofício durante grande parte do século XX, disseminou-se como práticaa partir dos anos 1970, quando ocorreram movimentos de aproximaçãoque, a nosso ver, indicam modos diferenciados de operação com o textoliterário. Modos que, por sua vez, são decorrentes de formas tambémdistintas de conceber e lidar com as noções de autor, discurso, (con)textoe, sobretudo, com o literário e o político. Procurando compreenderafastamentos e aproximações e consultando parte das pesquisas que,no Brasil, têm a literatura como fonte, consideramos neste ensaio apossibilidade de explorar pelo menos dois modos contrapostos: um, emque o literário é tomado como substrato de inquirição pelo historiador,tendo em vista a reconstituição do que é identificado pelo nome deHistória, como algo que o antecede em existência; outro, em que étomado como substrato para o escrutínio de percepções, representações,figurações, por meio das quais se buscam os movimentos de instituição deimaginários e da própria temporalidade enquanto tal. Nesta aproximaçãodo tema, pretendemos detectar alguns dos elementos que compõem essasdiferentes formas, sem a intenção de rotular e determinar filiações.
O processo de edição das cartas enviadas por Paulo Barreto (João do Rio) ao poeta português João de Barros nas duas primeiras décadas do século XX é analisado neste artigo. Além de situar as circunstâncias e identificar personagens e situações citados, restituindo a comunicabilidade para os leitores de hoje, as autoras refletem sobre as diversas etapas do trabalho de edição e procuram sistematizar as distintas fases do estabelecimento de texto e da anotação desse conjunto de cartas que permite situar tanto as relações culturais entre Brasil e Portugal no período, como as estratégias adotadas pelos dois autores para promoção de suas obras nos dois países. Finalmente, essa correspondência evidencia a extrema ligação entre jornalismo, cultura e política no Brasil e em Portugal, e a existência de uma verdadeira “indústria cultural” entre os dois países naquele período.
As cartas que aqui se transcrevem, subscritas por Mário de Andrade, escritas e remetidas a menos de dois meses de seu falecimento em 25 de fevereiro de 1945, destinaram-se a João Chiarini (1917-1988), ele também, contumaz estudioso das tradições populares brasileiras, sobretudo musicais.
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