Não há cultura inocente. Dizer que não se está a fazer política, é uma das formas de fazê-la. Jorge Luís Borges passa por apolítico, até seus íntimos pretendem testemunhá-lo, mas envolvem-se em contradições, ao apontarem Borges, tão cere bral, deixar-se levar por paixões políticas inclusive motivadas pelos seus inter esses de classe e família. 1 Volodia Teitelboim-que tem a grandeza de estudar objetivamente Bor ges, apesar de ele, Teitelboim, haver estado sob perseguição na época em que Borges apoiava abertamente os opressores ditatoriais militares argentinos-Teitelboim interroga-se e responde: "Borges apolítico? Não parece tão certo. Já conhecemos suas proclamações anarquistas e comunistas de juventude". 2 O próprio Borges mais uma vez se encarregou de explicar-se, em seu Um Ensaio Autobiográfico, ter começado politicamente pelo elogio da "re volução russa, a fraternidade do homem e o pacifismo", em livro destruído pelo autor, Os Salmos Vermelhos ou Os Ritmos Vermelhos, em versos livres em parte publicados... Eram influências de Pio Baroja, confessa Borges, e da recente Primeira Guerra Mundial vista quase de perto, de Genebra, onde seus pais passavam temporada, a alongar-se por cinco inesquecíveis anos de forma ção. Fiel a eles, Borges optará por passar seus últimos dias na Suíça. Interes sante também a iniciação de Borges na poesia por Walt Whitman, cujo intenso amor ao povo deve ter contribuído para aquela fase inicial. Em lenta volta a Buenos Aires, a família de Borges passa quase três anos na Espanha, em Sevilha e Madrid interessa-se pelo ultraísmo a ponto de trazê-lo à Argentina e por ele, depois, desinteressar-se. 3