O ambiente literário brasileiro no século XIX foi marcado por sua relação com a cultura estrangeira, através de uma imprensa formatada nos moldes europeus e da intensa circulação de bens e produtos culturais provindos do exterior. Os literatos manifestaram-se a esse respeito em seus escritos ao buscarem corresponder ao ritmo de funcionamento da imprensa e ao repertório dos leitores, que estavam interessados nas novidades do mundo, cada vez mais presentes em seu cotidiano. As crônicas de José de Alencar testemunham esse movimento e demonstram as respostas que o escritor deu às condições das Letras do Brasil, sinalizando para as posições que iria defender ao longo de sua carreira. Este artigo propõe-se a apresentar algumas considerações sobre a relação entre a nacionalidade brasileira e a cultura estrangeira nas crônicas de Alencar, atentando para a inserção do escritor numa dimensão internacional de composição jornalística e literária.
A definição do repertório literário no século XIX em diferentes países foi decorrente da atuação de agentes, que estabeleciam redes internacionais de contatos e, a partir delas, efetuavam escolhas de obras que atenderiam ao leitorado e delineavam estratégias de atuação no mercado livreiro. Baptiste-Louis Garnier entreteve relação com diversos intermediários e profissionais do campo editorial, coadunando suas ações com os interesses das pessoas com quem negociava, com as demandas de seu público e, claro, com seus próprios anseios de êxito de seus empreendimentos. Este artigo tem como objetivo compreender as ações de Garnier e sua interferência no delineamento da literatura traduzida oferecida aos leitores brasileiros. A partir de correspondências desse editor enviadas a Louis Hachette, buscaremos analisar como a preservação dos direitos autorais de autores estrangeiros ou sua violação impactou a circulação no Brasil de obras traduzidas de dois dos mais célebres romancistas de seu tempo, Jules Verne e Condessa de Ségur.
Debruçar-se sobre livros centenários não nos permite acessar o mundo de onde vieram, a menos que consigamos traçar a história de suas formas de existência ao longo do tempo, ou seja, de suas diferentes vidas. Mas quantas vidas afi nal pode ter uma obra? De acordo com Roger Chartier, a Brevissima relacíon de la destruycíon de las Indias, de Bartolomé de las Casas, por exemplo, tem sete vidas, referentes às sete diferentes edições publicadas em circunstâncias e espaços distintos entre os séculos XVI e XIX. E quando uma obra ganha outras formas de circulação, ao ser representada, adaptada, reescrita? Daí suas numerosas vidas podem garantir-lhe a posteridade ou mesmo a imortalidade. Em Mobilidade e materialidade. Traduzir nos séculos XVI e XVII, publicado no Brasil em 2020 pelas editoras Argos e EDUFBA, com tradução de Marlon
Resumo: Os periódicos do século XIX conservam o nome de muitos literatos que tiveram uma relevante atuação nas letras brasileiras, mas que acabaram no esquecimento. Salvador de Mendonça (1841-1913 construiu uma trajetória semelhante às de escritores hoje canonizados, a qual lhe permitiu reconhecimento em seu tempo e motivou a escrita de biografias a seu respeito em meados do século XX. Nem assim obteve sua inserção nas histórias literárias brasileiras. Este artigo tem por objetivo desvelar a atuação de Salvador de Mendonça e suas posições em relação à presença da literatura estrangeira, num momento em que os literatos brasileiros estavam empenhados na consolidação da literatura brasileira. Por meio de seu exercício na imprensa, de sua colaboração com um dos mais proeminentes livreiros-editores da corte e da publicação de um romance, buscaremos verificar suas posturas e interpretar, através delas, as condições das letras no Brasil frente à coexistência da nascente literatura nacional com a intensa circulação de romances estrangeiros, atentando para as implicações desse fator na construção de uma carreira literária no Brasil no século XIX.
Resumo O pertencimento de uma obra ou autor à literatura mundial não resulta, necessariamente, da qualidade da escrita literária. Significa, na verdade, o ponto máximo de uma trajetória envolvendo múltiplos agentes, que permitem a difusão e o reconhecimento de obras não apenas nos países considerados centrais para a consagração literária, mas em todo o globo, já que a literatura mundial só adquire essa designação quando é conhecida em diferentes campos nacionais que integram o espaço literário internacional. Este artigo busca retraçar a repercussão internacional de Jules Verne, autor exponencial na literatura mundial, por meio da análise do exercício de dois editores: Pierre-Jules Hetzel, responsável pelas edições de Verne na França, e Baptiste-Louis Garnier, mediador das traduções de Verne no Brasil. Para isso, investigarei as estratégias de Hetzel, que favoreceram o sucesso mundial dos romances de Verne, e as ações de Garnier, que viabilizaram a propagação das traduções desse autor em um espaço nacional. Verificarei, ainda, alguns elementos da recepção crítica de Verne na França e no Brasil, com o fim de identificar o status que esse escritor adquiriu nesses países a partir da iniciativa dos dois editores.
The Honey-lips et The Guarani : les romans de José de Alencar en langue anglaise à la fin du XIXe siècle V a l é r i a C r i s t i n a B e z e r r a Il a également pour but de vérifier le rôle des traducteurs, éditeurs, critiques et de la presse dans la configuration de l'évaluation de cet écrivain et de ses oeuvres dans ces pays, en considérant, toujours que possible, le rapport de ces passeurs avec la culture brésilienne. La réception critique de Alencar dans ces pays révèle sa bonne évaluation aussi bien que la traduction de ses romans semble avoir répondu à l'intérêt du public étranger à s'illustrer.
A partir do momento em que José de Alencar adquiriu destaque no meio literário brasileiro, houve muitas tentativas fracassadas de tradução e publicação de suas obras em língua francesa. Décadas após a morte desse escritor, quando a sua obra passava para o cânone literário do país, dois de seus romances ingressaram no mercado editorial francês e tiveram publicação em jornais e numa coleção de aventuras. Les aventuriers ou le Guarani foi publicado no jornal Les Droits de l’Homme em 1899 e em livro em 1902, sob o título Le fils du soleil. Já Iracema: conte brésilien apareceu no jornal L’Action Républicaine em 1907, mas sua edição em livro só foi dada à estampa muito posteriormente. Este trabalho tem como objetivo identificar as iniciativas para a tradução das obras de Alencar entre 1863 e 1907 bem como investigar as formas de circulação e recepção das traduções de O Guarani e Iracema na França.
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