Para Risolá de Gongombira e Mãe Stella de Oxossi, mulheres-pássaro, ancestrais no que vive; e viver é como espantar-se numa floresta. Apresentação Ao ingressarmos no Mestrado do Programa de Estudos da Tradução da Universidade de São Paulo, sob a primorosa orientação do professor Álvaro Faleiros, já havíamos sofrido o impacto do contato com a obra aberta e sistematizadora do congolês Bunseki Fu-Kiau em relação a filosofias bantu, especialmente, no que diz respeito aos princípios bantu-kongo de pensamento. A "Cosmologia africana dos bantu-kongo" entrou nas nossas prioridades reflexivas e não poderia deixar de compor a espinha dorsal da nossa pesquisa. A partir dos rumos por ela tomados, na Qualificação do Mestrado, por meio da imprescindível leitura e sugestão dos professores Roberto Zular, Pedro Cesarino e Maurício Salles de Vasconcelos, ao lado do professor orientador, fomos projetados ao Doutorado Direto, a fim de que tivéssemos mais tempo para que desvelamentos que poderiam ser trazidos à tona se apresentassem; era o que esta pesquisa, segundo os componentes da Banca de Qualificação, potencialmente, proporia. Aceitamos o desafio a exigir fôlego e aqui chegamos, com recortes, limitações, faltas, escolhas e inacabamento, a uma teoria de tradução a partir de âncoras filosóficas africanas e afro-diaspóricas. Há o olhar brasileiro, em diálogo com outros olhares brasileiros, latino-americanos, europeus, africanos, ameríndios, etc. Aspiramos a que gire a roda dos diálogos teóricos de modo cada vez mais simétrico entre perspectivas culturais distintas. A escolha por traduzir o referido livro de Bunseki Fu-Kiau fundamenta-se no fato de, a nosso juízo, tal obra dar uma ideia panorâmica do sistema bantu-kongo de pensamento, ao tempo em que apresenta, de maneira aprofundada, alguns dos seus princípios. Essa seria, pensamos, uma via por intermédio da qual leitoras e leitores do Brasil (a princípio) poderiam acessar camadas de pensamento que lhes constituem, histórica e presentemente, a cultura, ainda que não se reconheça ou mesmo saiba. A "Cosmologia africana dos bantu-kongo" é um livro escrito originalmente em inglês por um Fu-Kiau já radicado nos Estados Unidos. A sua origem, no entanto, é remetida a um relevante conjunto de manuscritos, com mais de quatro centenas de páginas, intitulado "Makuku Matatu: os fundamentos culturais bantu entre os kongo", obra desenvolvida ao longo das décadas de 1960 e 1970, num contexto de descolonização de nações africanas. Conforme podemos verificar nos prefácios da primeira e segunda versões, a "Cosmologia africana dos bantu-kongo" foi impressa, primeiramente, em 1980, ainda como "O livro
This text aims to reflect on musical art as translation of realities, especially cultural ones-regarding their historical dimension. As an example of what one aspires to analyze, the experience of the Bahian artist Roberto Mendes is reestablished, since he is a translator of chulas-and the chulas of Recôncavo Baiano are more than a musical genre, because they are a complex cultural behavor. Such a translational process found explicitly in the album called "Tradução" is similar to what can be understood as intersemiotic translation. Bantu African cosmological references, among others, support this analysis.
Esta pesquisa tem o intuito de fazer emergir um contexto teórico em que se contrastam estudos paremiológicos vigentes no Ocidente e outras chaves de pensamento, principalmente aquela que diz respeito ao pensar africano bantu-kongo, conforme apresentado pelo autor congolês Bunseki Fu-Kiau em seu ensaio African Cosmology of the bantu-kongo: principles of life and living, obra jamais traduzida para a língua-cultura (luso)brasileira. O principal meio de contato entre os distintos modos de pensar envolvidos no presente artigo dá-se através da tradução, seguida de comentários, do que cunhamos como sentenças em linguagem proverbial (kingana), registradas, originalmente, de modo bilíngue (língua kikongo – língua inglesa) no ensaio aludido. Desta forma, trazemos a potenciais leitores brasileiros uma tradução necessariamente vinculada aos referenciais de linguagem e pensamento ancorados na cultura bantu-kongo, um dos vetores constitutivos da cultura brasileira.
Resumo: À luz de aspectos fundamentais do pensar bantu-kongo e em consonância com pensadores contemporâneos, tais como Bunseki Fu-Kiau e Zamenga B., este artigo aspira a refletir acerca de ontologias distintas daquelas hegemônicas euro-ocidentais. Tais ontologias são vivenciadas em parte do continente africano e foram deslocadas para territórios afrodiaspóricos, como o Brasil, ainda que com adaptações, por meio de práticas cosmológicas que situam a ancestralidade em lugar central. As ideias de “mesmo pluriontológico” (conforme nós cunhamos, com base hermenêutica na filosofia kongo), opacidade (a partir da sugestão teórica de Édouard Glissant), estágios do cosmograma kongo, vazio, transmutação, inclinação à outridade, ciência do feitiço, sistema, entes ecológicos, inter-ações propõem possibilidades complexas de ser-viver, em relação, as quais se distanciam, radicalmente, de metafísicas e éticas desenvolvidas no seio do pensamento ocidental, assim como podem com elas dialogar, o que faz com que, ao pensar do lado da margem afrodiaspórica do Atlântico, consideremos as tensões entre esses distintos modos de pensar que ocupam espaços assimétricos nos construtos históricos.
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