Este artigo tem como intento refletir, a partir da perspectiva da Análise do Discurso de linha francesa, a inscrição dos saberes e os efeitos de sentidos sobre o significante "Amazônia", instalado pelos sujeitos-navegadores nas enciclopédias de conteúdo colaborativo, Wikipédia e Desciclopédia, no ambiente da Web 2.0. Investigaremos as condições de produção do discurso por meio da escrita coletiva na rede e as marcas ideológicas deixadas pelos sujeitos nas enciclopédias online. Discutiremos também, o confronto de sentidos instalados na Desciclopédia, sob a forma de desconstrução dos "moldes tradicionais" de funcionamento de uma enciclopédia, com o discurso próximo à paródia e ao nonsense. Assim, buscamos refletir sobre como se dá o processo de constituição, produção e circulação de discursos de/sobre a construção coletiva de uma enciclopédia.

Resumo: Temos por objetivo investigar discursivamente recortes de um corpus constituído por reportagem do jornal Folha de São Paulo, em sua versão eletrônica, que falam sobre as "comemorações" dos doze anos do massacre de Eldorado de Carajás, ocorrido em abril de 1996, no interior do estado do Pará que resultou na morte de 19 trabalhadores rurais sem-terra, ligados ao movimento do MST. Buscamos estudar a materialidade linguística entrelaçando-a com as noções de memória discursiva e arquivo, apresentados por Michel Pêcheux.Palavras-chave: hipermídia; discurso; memória; arquivo; Eldorado de Carajás.Apresentamos, aqui, uma breve análise do discurso hipermidiático do jornal Folha de São Paulo (jornal de grande circulação no estado de São Paulo) sobre o relato das "comemorações" relativas ao tema "doze anos do massacre de Eldorado de Carajás". Ao escopo da Análise do Discurso (AD) de matriz francesa, observamos como a voz da mídia constitui sentidos de autoridade e suposta verdade, fazendo falar a narrativa sobre um acontecimento já passado no tempo agora marcado por outras condições de produção. Interessa-nos mostrar a maneira como essa voz formula e faz circular seus dizeres, inscreve o efeito de estabilização dos sentidos, atualizando-as, tanto para manter alguns sentidos, quanto para rompê-los.Procuramos sinalizar que a mídia majoritária, ou corporativa, controla os sentidos mais disseminados, hegemônicos e tidos como evidentes no imaginário social, e sua difusão é apoiada pela classe dominante que detém os principais meios de comunicação no Brasil.[...] a classe dominante, detentora dos equipamentos de transmissão cultural e de comunicação, filtra, recorta e seleciona um único sentido para circular, destinando todos os outros possíveis ao banimento, marginalidade e silenciamento. É preciso, então, levar em conta o lugar social dos interlocutores, investigar de quais regiões de poder ele está investido, observar que posição o sujeito ocupa na ordem social (ROMÃO, 2005, p. 4). Pois, recordar um dos acontecimentos sociais de grande importância em relação à disputa de terras no Brasil significa, nas palavras de Nepomuceno (2007, p. 18) "soprar as brasas da memória para impedir que se tornem cinzas mortas"; ou seja, significa colocar em discurso sentidos, atualizando-os. Para situar as condições de produção dos discursos que analisamos, registramos que a tragédia de Eldorado de  Esse texto é um recorte do TCC "Arquivo e memória no discurso e na arquivologia: um estudo de caso, Eldorado de Carajás" (2009).