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A cultura do país de origem de pais migrantes traz elementos importantes na construção da identidade de filhos nascidos no país de acolhimento. Este estudo objetivou compreender quais elementos da cultura polonesa e da brasileira foram transmitidos e como influenciaram a construção da identidade de três filhos (segunda geração) de uma família polonesa estabelecida no Brasil, a partir das narrativas da trajetória migratória familiar, da vida e das práticas alimentares pessoais e familiares. A partir da análise de conteúdo, foram identificados três núcleos temáticos, que apontam dois elementos como principais marcadores da identidade polonesa: o idioma e a alimentação. No dia a dia, a comida característica do cotidiano brasileiro foi adotada, porém a comida polonesa é protagonista nas datas especiais, caracterizando tradições étnicas, religiosas e familiares. Ainda que as receitas tenham sido modificadas, os rituais que cercam sua preparação, seu consumo e sua convivialidade se mantêm, e é quando a identidade polonesa se manifesta. Cada filho demonstra graus e formas diferentes de manutenção dessas “tradições” familiares. Outras referências culturais, suas trajetórias pessoais e redes sociais de apoio agregam novas práticas alimentares, embora o sentimento de duplo pertencimento ainda se mantenha na segunda geração. Este estudo permite compreender como a cultura alimentar contribui para a construção identitária e da trajetória alimentar de indivíduos expostos a diferentes culturas.
Pais imigrantes e filhos nascidos no país de acolhimento têm suas identidades construídas a partir de universos culturais distintos; no entanto, as referências culturais do país de origem dos pais, dentre elas, as alimentares, podem constituir elementos importantes na construção dessa identidade. Este estudo de natureza qualitativa procurou compreender quais elementos da cultura polonesa e da brasileira foram transmitidos e como influenciaram a construção da identidade bicultural em uma família estabelecida no Brasil. Três filhos, com 57 a 66 anos, representando a segunda geração, foram entrevistados a partir da perspectiva das escolhas alimentares ao longo do curso da vida sobre a trajetória migratória de seus pais e as práticas alimentares pessoais e da família. A partir da análise de conteúdo foram identificados três núcleos temáticos: “Trajetória migratória”; “Biculturalismo: trajetórias pessoais e redes sociais” e “Tradições e rituais alimentares e a identidade polonesa”. A migração dos pais ocorre no contexto da Segunda Guerra Mundial. Embora os pais tenham se estabelecido em uma cidade sem diáspora polonesa, os filhos se sentem poloneses em maior ou menor grau, caracterizando a internalização de duas culturas, ou biculturalismo. Dois elementos surgem como os principais marcadores da identidade polonesa: o polonês como primeiro idioma dos filhos e a alimentação. Apesar da adoção de uma alimentação caracteristicamente brasileira no cotidiano, a comida polonesa, cercada de rituais, é protagonista nas datas especiais, principalmente nas festas católicas (Natal e Páscoa), caracterizando tradições étnicas, religiosas e familiares. A responsabilidade pela preparação da comida polonesa aparece como sendo das mulheres, assim como a transmissão de receitas. Embora as receitas tenham sofrido inúmeras modificações quando comparadas às receitas originais, devido à falta de ingredientes, às diferenças climáticas e às preferências alimentares da família, os rituais que cercam sua preparação e consumo e a convivialidade se mantêm e é nesses momentos que a identidade polonesa se manifesta. No entanto, essas “tradições” familiares são mantidas exclusivamente quando os momentos são organizados pelos pais, se perdendo nos núcleos familiares da segunda geração. Cada filho demonstra graus e formas diferentes de manutenção dessas “tradições” familiares. Outras referências culturais específicas do país de acolhimento, assim como das trajetórias pessoais e redes sociais, indicam que outras experiências agregaram novas práticas alimentares, embora o sentimento de duplo pertencimento ainda se mantenha na segunda geração. Este estudo traz elementos que ajudam a entender como a cultura alimentar contribui para a construção identitária e a trajetória alimentar de indivíduos expostos a diferentes culturas.
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