RESUMOO presente artigo tem como objetivo realizar um estudo sobre a percepção das áreas de risco do município de Rorainópolis, estado de Roraima, Brasil. O local da pesquisa foi limitado ao perímetro de influência da foz do rio Chico Reis que corta a cidade onde se localizam três bairros: Suelândia, Novo Horizonte e Floresta. A escolha das casas entrevistadas levou em consideração a sua localização. Foram entrevistadas 24 famílias residentes nesses locais, considerados de risco. Os resultados das entrevistas demonstraram que a população que vive nessas áreas não está satisfeita com seu local de moradia, porém afirmam que devido sua condição econômica, não têm para onde irem. Palavras-chave: áreas de risco, percepção, Amazônia Setentrional (Rorainópolis). ABSTRACTThis paper aims to conduct a study on the perception of risk in the areas of the municipality of Rorainópolis, Roraima state, Brazil. The research site was limited by the influence of the mouth of the river that cuts the Chico Reis, that flow through the city, where three neighborhoods: Suelândia, Novo Horizonte and Floresta. The choice of interviewees houses took into account its location. 24 families were interviewed residents at these locations considered at risk. The results of the interviews showed that people living in these areas is not satisfied with their place of residence, but stated that because of the economic condition, have nowhere to go.
RESENHA A importância da vida e da obra de Milton Santos extrapola as fronteiras brasileiras e sul americanas justamente pelo amplo reconhecimento internacional de seu esforço cientifico, acadêmico e também de cidadania para construir um pensamento crítico sobre as relações do homem no espaço que fora forjado em bases humanistas e éticas, razão pela qual ele tenha sido reconhecido ao longo do século XX como um dos mais destacados epistemólogos das Ciências Geográficas. Contando com 40 livros e cerca de trezentos artigos publicados em revistas cientificas no Brasil e no exterior, Milton Santos não apenas inaugurou uma nova vertente crítica do pensamento científico com ampla influência acadêmica, a Geografia Nova, mas também foi amplamente reconhecido em vida por meio de 15 títulos de Doutor Honoris Causa e de vários prêmios e honrarias, incluído o Prêmio Internacional Vautrin Lud, considerado o Nobel da Geografia. A numerosa e complexa obra legada por Milton Santos possui diferentes fases, paradigmas científicos e marcos de teorização que contribuíram para a conformação de distintas leituras críticas sobre ontologia e a fenomenologia das relações humanas no espaço, embora, sempre compartilhando entre si o mesmo objetivo finalístico de fomento epistemológico a uma geografia cidadã (ELIAS, 2002). Tomando como referência o livro “O espaço do cidadão”, publicado inicialmente em 1987 em um contexto de redemocratização brasileira, procura-se mostrar este texto miltosantiano como uma obra clássica que oportuniza uma reflexão profunda sobre o que é ser cidadão, justamente na estrutural crise da democracia representativa no mundo, inclusive no Brasil em função das conjunturais instabilidades sociopolíticas difundidas por mobilizações sociais desde o ano de 2013. A obra surge em um contexto de reflexão sobre a redemocratização do país no qual o autor demonstra bem que a luta pela democracia não é simples, mas antes, tortuoso frente ao campo de poder consubstanciado assimetricamente pelo sistema conjugado por forças de verticalidade e horizontalidade, razão pela qual a cidadania não se esgota com a promulgação de uma nova Constituição e a definição de uma democracia representativa. A obra aponta para um problema estrutural no país de dependência no qual os modelos políticos e cívicos são passivos como instrumentais do modelo econômico, definido internacionalmente como verticalidade, num perverso processo de manipulação das massas onde estas são despertadas para a necessidade, o interesse, a vantagem de ampliação do consumo, mas não para o exercício da cidadania. A visão clássica do livro evidencia que só existe uma democracia verdadeira, quando o modelo econômico é subordinado ao modelo cívico, demonstrando que o fortalecimento das horizontalidades de uma democracia deliberativa, alicerçada na participação social, se faz como condição sine qua non para a superação de um sistema assimétricos dinamizado inicialmente por verticalidades internacionais de natureza econômica e em seguida por verticalidades políticas. Com base em uma leitura de que as ciências geográficas apresentam, tanto, um discurso descritivo, quanto, um discurso normativo, o livro “O espaço do cidadão”, foi estruturado em treze capítulos que objetivam não apenas mostrar os problemas estruturais que regem a democracia no país, mas principalmente prescrever que a cidadania deve ser uma condição determinante da política e anterior à economia por meio de um processo sócio construtivista fundamentado na cultura e no espaço. A análise construída transversalmente ao longo dos treze capítulos fundamenta-se em uma concepção de ciência geográfica que, tanto, descreve criticamente, sob uma leitura neomarxista, quais são os problemas estruturais do funcionamento sócio espacial, quanto, prescreve subsídios normativos para se repensar o seu adequado fundamento com fundamentação no fortalecimento da cidadania. Por um lado, o livro descreve ao longo de todos os capítulos os principais problemas e dilemas estruturais de um sistema internacional e assimétrico de verticalidades econômicas que repercutem nacionalmente na determinação das concepções ideológicas e conceituais dos modelos políticos verticais, inclusive se difundindo nos modelos cívicos horizontais. Por outro lado, a obra, prescreve uma leitura crítica para se avançar na construção do espaço da cidadania, tomando como núcleo ontológico a passagem de um padrão de democracia representativa permeado pelas lógicas do elitismo no modelo político e do consumismo no modelo econômico em direção a um padrão de democracia deliberativa por meio da construção de um modelo cívico no qual se valoriza a lógica do pluralismo de diferentes valores e maior participação do cidadão nas decisões. Na dimensão descritiva, os capítulos do livro apresentam uma clara visualização sobre as razões estruturais da consolidação das tendências de homogeneização dos espaços sem valores de cidadania sincrônicas às tendências de heterogeneização espacial de instituições ou serviços públicos que seletivamente acabam hierarquizando o grau de acessibilidade dos cidadãos. Parte-se da premissa de que o sistema capitalista e os diferentes discursos econômicos construídos em razão das transformações da divisão social do trabalho são caracterizados pela leitura crítica de Milton Santos como os responsáveis pela atrofia da cidadania, seja nos momentos positivos dos ciclos econômicos, quando o consumo se torna um fim em si mesmo e o cidadão se torna um mero consumidor, seja, nos momentos negativos dos ciclos econômicos, quando surgem retrocessos e cortes em temas de conquistas sociais e políticas a fim de se ajustar a economia nacional. Em um contexto estrutural de mutilação dos direitos civis e políticos, o individuo se converte de cidadão imperfeito a consumidor mais que perfeito, promovendo um grande impacto negativo da cultura do consumo na vida coletiva e na formação do caráter de cada pessoa, razão pela qual o espaço vivido passa a ser marcado por enorme desigualdades e injustiças, constituindo-se, em um espaço sem cidadãos. O espaço sem cidadãos se constrói como fenômeno não apenas devido à difusão da cultura do consumidor, onde prevalece a alienação da moda, a especulação mobiliária e a construção de templos modernos (shopping centers e os supermercados), mas também, em razão de um processo esvaziamento dos espaços de cidadania, no qual a cultura da cidadania se dilui diante da falta de recursos humanos e equipamentos em hospitais, postos de saúde, escolas, ou, em órgãos de atendimento ao cidadão. Na dimensão normativa, os capítulos do livro prescrevem que a desalienação é um processo natural em um sistema econômico assimétrico, justamente por existirem momentos de crise nos ciclos econômicos que forçam a reflexão social e por conseguinte impõem incrementais processos de mudança comportamental e de formação do capital social local com base em novas estratégias e lógicas que não necessariamente obedecem às tradicionais verticalidades econômicas. Observa-se nesta leitura neomarxista, uma clara leitura de geografia crítica fundamentada na dialética, embora, com uma natureza normativa ligada à uma concepção democrática que busca novos valores sem ser golpista, na qual a democracia deliberativa se estrutura por meio de participação social em função das especificidades do espaço e da cultura que acabam se manifestando na formação de capital social. Embora a obra apresente uma leitura descritiva neomarxista sobre a relação fragmentada do espaço e da cidadania, ela traz uma distinta visão prescritiva de mudança de paradigmas em relação à leitura marxista tradicional, fundamentando-se em uma leitura normativa neoinstitucional do espaço, na qual os indivíduos, suas organizações e suas culturas importam na construção de alternativas justamente por trazerem consigo as experiências de culturas populares e espaços vividos, os quais se coadunam na formação de capital social. A mudança de paradigma fundamentada em um modelo cívico de democracia deliberativa com valorização da cidadania ativa em detrimento de um modelo político-econômico de democracia representativa com cidadania passiva é vista na obra de Milton Santos não como um processo fácil ou linear, mas antes, um processo vivo e dinâmico permeado por conflitos entre diferentes culturas e espaços próprios de uma geografia assimétrica da cidadania, muito próximo à concepção dialógica do espaço público como espaço comunicacional de Habermas (1984). Com base nestas discussões, observa-se que a construção de uma cidadania baseada em princípios de solidariedade, liberdade, de personalidade ativa dentro de um projeto social compreende que o exercício da cidadania não é uma conquista individual e tão pouco se esgota na mera confecção de uma ou outra lei, trata-se de um processo vivo e dinâmico demandante de constantes ampliações das arenas de democracia deliberativa em que haja a possibilidade de construção de uma cidadania ativa ligada à sua realidade geográfica de cultura popular e espaço vivido. Conclui-se que a obra oferece uma leitura agradável e instrutiva, sendo amplamente recomendada como um livro clássico, tanto, para o público geral que objetiva fomentar um modelo cívico e participativo de democracia, quanto, para o público especializado de cursos de graduação e pós-graduação que objetiva compreender as contribuições de um intelectual às Ciências Geográficas e porque elas continuam possuindo uma natureza assincrônica de resposta e militância normativa em prol da sócio construção espacial da cidadania. REFERÊNCIAS ELIAS, Denise. "Milton Santos: a construção da geografia cidadã". Revista Scripta Nova, vol. VI, n. 124, 2002. Habermas, Jürgen. The theory of communicative action. vol 1. Boston: Beacon Press, 1984. SANTOS, Milton. O Espaço do Cidadão. São Paulo: Editora Nobel, 1987.
RESENHA Tranformado em estado no ano de 1988, Roraima têm sido palco de uma crescente dinamização institucional e migratória, a qual tem transformado significativamente o dia-a-dia de um vasto território na Amazônia Setentrional pouco conhecido pelos próprios brasileiros, mas que pela pequena escala populacional permite refletir o próprio Brasil quanto a desenvolvimentos e contradições. À guisa de celebração dos 25 anos de formação do estado, as professoras Maria das Graças S. Dias Magalhães e Carla Monteiro de Souza organizaram uma obra de reflexão de Roraima e sua capital, Boa Vista, com base nas contribuições multidisciplinares de um seleto grupo de professores da Universidade Federal de Roraima (UFRR). O livro, “Roraima/Boa Vista: Temas sobre o regional e o local”, pode ser caracterizado como uma relevante contribuição científica sobre um território com escassa produção de estudos, uma vez que as discussões trazem uma ampla e crítica análise sobre aspectos socioculturais por meio de três partes que definem em 10 capítulos, respectivamente, a formação do estado, a centralidade da capital Boa Vista, bem como as relações internacionais com os países vizinhos. Na primeira parte, “Roraima, sua história e sua gente”, a obra apresenta cinco trabalhos com um conteúdo historiográfico de análise, tanto, na longa duração, quanto na curta duração, os quais permitem caracterizar as forças estruturais e conjunturais que influenciam na caracterização do perfil social da população e nos processos de formação histórica das dinâmicas políticas, econômicas, sociais e de construção da atual identidade de parte dos roraimenses. Embora abordando temas distintos, o resgate histórico da formação do Território Federal trata-se da espinha dorsal da primeira parte do livro, demonstrando a centralidade de verticalidades oriundas do governo federal por meio de políticas de determinação de elites alienígenas, ocupação e miscigenação, bem como na educação e construção de uma identidade brasileira e roraimense, as quais se tornaram forças profundasd com repercussões estruturais no nascente estado até os dias atuais. Os cinco capítulos se articulam com informações incrementais sobre a realidade histórica de Roraima, tanto, por meio de revisão histórica e documental, quanto, por meio do uso da história oral, permitindo assim uma compreensão dos meandros e dilemas das políticas verticais, os quais criaram dependência a um padrão de desenvolvimento exógeno que é responsável pelas dinâmicas econômicas e políticas mais além dos padrões de subsistência no aproveitamento das águas, florestas e lavrado. Na segunda parte da obra, “Roraima, espaço e desenvolvimento”, três capítulos abordam o desenvolvimento no estado, a partir de estudos urbano-produtivos, tanto, sobre a produção do espaço da cidade de Boa Vista, quanto, sobre a possibilidade de manejo de áreas degradas para implantação da atividade econômica da aqüicultura em crescente produção. Nos capítulos 6 e 7, a análise da produção do espaço urbano de Boa Vista é feita com base na identificação de diferentes atores e agentes, demonstrando que a dinâmica socio-espacial de Boa Vista traz consigo dilemas de um crescimento desordenado que incorrem em segregação residencial, além de impactos ambientais com o avanço da mancha urbana, uma vez que a capital têm dobrado de população a cada década e concentra 2/3 da população total do estado, com 400.000 habitantes. No capítulo 8, com forte apelo intervencionista, por parte do poder publico e poder privado interessado, o artigo coloca em discussão elementos de recuperação ambiental, manejo de áreas afetadas e ainda geração de emprego e renda e melhoria da alimentação com base na implantação de projetos de aqüicultura em áreas degradadas, haja vista o crescimento da piscicultura em Roraima e os potenciais impactos positivos socioambientais. Na terceira parte do livro, “Roraima e suas fronteiras”, dois capítulos trazem uma apreensão de Roraima em relação a sua posição geopolítica em área de fronteira internacional, assim, como, sobre as especificidades dos processos históricos, culturais e econômicos do estado em um contexto espacial de interconexão fronteiriça marcada por pelas culturas distintas de Venezuela e Guiana. Ambos os capítulos desta seção destacam o papel de Roraima no contexto de integração do Brasil na América do Sul e Caribe, por meio da identificação de crescentes pontos de diálogo do estado com a Guiana e a Venezuela e o papel estratégico que tem Boa Vista na interlocução de uma pretendida integração macro-regional, cuja natureza se caracteriza pelo resgate de um padrão de interação de Amazônia Caribenha, existente até o século XVI. Nos capítulos 9 e 10, Roraima e sua capital são apontados como pivôs estratégicos para uma prospectiva de crescente cooperação entre o Brasil e os países vizinhos, Guiana e Venezuela, a partir de um projeto político e infra-estrutural de integração que possa fomentar desenvolvimento regional nos setores de agroindústria, mineração, produção de energia, bem como fluida comunicação logística entre a Zona Franca de Manaus e os portos de Georgetown e a Zona Franca de Puerto Ordaz. Com base na discussão desta coletânea, organizada em três partes, observa-se a relevância dos dez estudos temáticos, desenvolvidos por pesquisadores da comunidade epistêmica local, para uma melhor compreensão da complexidade dos fenômenos que afetam a dinâmica de formação e desenvolvimento do estado de Roraima e de sua capital, Boa Vista, em sua complexidade fronteiriça e amazônica como ex-território no curto e longo prazo. Conclui-se que a obra oferece subsídios técnicos, teóricos e empíricos a quem pretende a desvendar a complexidade de Roraima no contexto de seu desenvolvimento e integração intra e internacional, motivo pelo qual é amplamente recomendado para utilização em cursos de graduação e pós-graduação de diversas áreas, bem como, leitura indispensável ao público geral interessado ou a pesquisadores dedicados ao estudo da Amazônia e dos novos estados brasileiros. Referência bibliográfica MAGALHÃES, Maria das Graças Santos Dias.; SOUZA, Carla Monteiro. (orgs). Roraima/Boa Vista: Temas sobre o regional e o local. Boa Vista: Editora da UFRR, 2012, 241p. ISBN 978-85-60215-82-9
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