EditorialA ooforectomia profilática durante uma histerectomia por agravo benigno do útero é praticada de forma excessiva em expressivo número de países. Estatísticas norte-americanas desvelam que, anualmente, são realizadas 600.000 histerectomias, sendo que, entre essas, estão incluídas concomitantemente mais de 300.000 ooforectomias 1 . No Brasil, o número de histerectomias anuais alcança 107.000 e não se dispõe de dados pertinentes às ooforectomias praticadas em associação 2 . A ooforectomia efetuada tanto no estágio da transição menopausal como no da pós-menopausa acarreta expressivo comprometimento endócrino. Fisiologicamente, durante o processo do envelhecimento ovariano, observa-se queda progressiva na população de folí-culos, redundando em 20.000 folículos em torno dos 37 aos 38 anos. A partir daí, apesar do comprometimento funcional da gônada, a esteroidogênese ainda se mantém preservada por um período, até a população alcançar 1.000 folículos, quando o ovário cessa a produção estrogênica, instalando-se, então, a menopausa.Após a menopausa, o ovário ainda persiste como um órgão endócrino ativo, pois mesmo sem a síntese folicular do estradiol, o estroma ovariano continua a produzir testosterona e androstenediona, que, nos tecidos periféricos (gordura e músculos), sob ação da aromatase, são convertidos em estrogênios (estrona). Dessa forma, no estágio da pós-menopausa, apesar da redução dos níveis do estradiol sérico, os androgênios e, especialmente, a testosterona mostramse dentro da faixa da normalidade 3,4 . Interessante estudo confirmou a fisiologia acima descrita, mostrando que mulheres ooforectomizadas após a menopausa exibem redução de 40 a 50% na estrona sérica, decorrente da ausência de androgênios ovarianos e, portanto, diferente dos valores normais da estrona nas mulheres com ovários preservados nesse período 5 . Com esses dados da fisiologia ovariana após a menopausa, torna-se claro compreender as repercussões endócrinas da ooforectomia bilateral: a retirada cirúrgica dos ovários propicia redução abrupta dos níveis de estradiol e testosterona séricos, tanto na transição como na pós-menopausa. As repercussões imediatas e mais intensas são as ondas de calor, que acometem 90% das mulheres ooforectomizadas, diferentemente dos 50% observados naquelas com menopausa natural 6 . Ademais, pela maior intensidade dos sintomas, essas pacientes, além de necessitarem de maior dose da terapia hormonal (TH), apresentam maior dificuldade na descontinuação do tratamento 7,8 . A atrofia cutâneo-mucosa (pele e urogenital) se instala em médio prazo, bem como outras manifestações decorrentes da queda da testosterona, como distúrbios do humor, queda da libido e redução da energia, que comprometem ainda mais a saúde da mulher.