A natureza e a matéria dela extraída potenciaram a imaginação formal e a imaginação material do homem. Estas duas entidades fundacionais da acção artística conduzem àquilo a que se pode chamar uma poética da criação (Bachelard, 1942). Dele decorrem em boa parte, os conceitos de paisagem e a história da sua metamorfose. Ou, se quisermos, o problema constante do artifício versus a natureza. Ou, ainda, o problema de dar forma a um corpo ou, de como a imagem da sua representação se priorizou relativamente a ele, na cultura actual e, na arte em particular. O tacto, conseguido pela materialidade da escultura é o que permite a esta distinguir-se da imaterialidade da cultura actual, oferecendo-nos um porto de abrigo face à indiscernibilidade do mundo virtual. Neste contexto e através do meu trabalho escultórico, verificar-se-á como a problemática da Paisagem em Metamorfose: Declínio e Reedificação do Natural na Arte actual se inscreve nas questões em cima enunciadas.
Alberto Carneiro, Fernando Lanhas e Clara Menéres, abriram em Portugal, no Século XX, um campo de trabalho entre a arte e o território, definindo novas géneses artísticas a partir da natureza. Neste artigo, a obra de Carneiro, revela aproximações às acções artísticas que, a partir de uma nova atitude perante a natureza, informam sobre componentes intrínsecas da prática da arte e da escultura, através do território. Numa leitura do país, as obras em causa abriram caminho às gerações de artistas mais novos, em consonância com tendências internacionais contemporâneas. Pesquisando a paisagem, Carneiro associa a actividade de escultor com práticas da jardinagem e da horticultura, procura equivalências do sentir estético no vazio como forma de conhecimento e eternidade, entre a arte e o ritmo espontâneo da natureza, articulando a prática da escultura com problemas de espaço e construção e com um saber-fazer manual. Em cerca de quarenta anos, Portugal mudou radicalmente, esta obra documenta-o evocando o país rural (memória) e país actual (ausência).
Pretendemos discutir a inserção da escultura como elemento qualitativo na recuperação urbana e paisagística, a partir de um projeto de recuperação e reabilitação de um velho caminho rural, desenvolvido e implementado em Belver, pequena povoação rural do centro de Portugal. Destacamos o impacto e o debate conceitual gerados pelo projeto – financiado com fundos Europeus – sobre quem nele participou, assim como as práticas colaborativas entre políticos, arquitetos e artistas que consideramos serem relativamente raras em contextos similares. Elas permearam os princípios e processos em que o trabalho foi realizado, e por isso nos pareceram dignas de estudo e atenção.
No território formado pelo anticlinal de Estremoz, a paisagem gerada no contraste entre o seu carácter agrícola e o seu carácter industrial, associado à extração do mármore, proporciona um fértil campo de heterogénea reflexão/ação no domínio das artes. A partir deste contexto abordar-se-ão as relações da paisagem com a escultura e o território, focadas nas construções negativas, as pedreiras, enquanto site e os objetos escultóricos como possíveis no site, assim como outras práticas artísticas relativas ao lugar. Analisa-se também o palimpsesto que constitui a paisagem atual do anticlinal, nas suas múltiplas potencialidades e oportunidades artísticas, no presente e futuro. Esta abordagem, parte ainda de um olhar envolvido com o território em causa, numa coabitação constante e próxima, proporcionada pela prática da escultura, do habitar e da docência, da autora, registando o histórico de algumas ações, iniciadas há cerca de duas décadas, abrindo a discussão e reflexão sobre as problemáticas do território em questão no domínio da arte e da paisagem.
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