No trabalho com os casais em sofrimento, torna-se fundamental o terapeuta conseguir levá-los a distinguir o que lhes acontece por estarem indiferenciados e inconscientes de seus parceiros invisíveis internos. Por inconsciência, onde se busca enquadrar o outro nessa projeção, existem lealdades e triangulações que os impedem de construir uma comunicação clara e não fusionada, uma parceria verdadeira, com seu companheiro de vida. O uso de técnicas conjugadas da Terapia Familiar e da Psicologia Analítica, de Carl G. Jung, é um excelente recurso para o sistema terapêutico favorecer o projeto nós (casal) em se tornar mais fluido e mais capaz de lidar de modo simétrico entre seus componentes, constituindo um caminho de individuação e diferenciação para eles.
Este artigo visa trazer à discussão a questão das relações encobertas (segredos) e mal resolvidas dentro da família que geram energia tóxica e lixo relacional, contaminando o sistema e, consequentemente, tornando necessária sua reciclagem. No seio da célula familiar, local da formação inicial do homem, a reciclagem da energia tóxica resultante do lixo familiar é fundamental. Este mesmo princípio de reciclagem deve ser amplificado na consciência humana, levando o homem a se reconhecer responsável por sua integração e participação na humanidade. Explorando a importância da formação de uma eco-consciência familiar se tem a base para a instituição de uma eco-consciência planetária e cósmica. Esta amplificação em cada indivíduo, de ser um coparticipante responsável na construção da vida, despertará e fortalecerá o cuidado ecológico com o planeta e o cosmos. Seguindo este caminho o terapeuta de família auxiliará o sistema familiar a ressignificar como energia criativa os fatos que, enquanto permanecerem encobertos, são causa de sofrimento e sintoma.
Tendo como pano de fundo o documentário russo Anna dos seis aos dezoito, de Nikita Mickhalkov, reflito sobre a conservação do sagrado, da fé, da criatividade, na luta entre a força e coragem da história, lema e resiliência familiar frente às orientações político-sociais impostas pelo poder do estado. Nessa luta de pressão do sistema político sobre as famílias e indivíduos de seu povo se distingue a resiliência de um núcleo familiar. A diferenciação alcançada pela matriarca Natália (a que o filme é dedicado) impulsiona seus descendentes a não deixarem de exercer sua criatividade mesmo frente à censura e perseguição vivida. Preservaram a fé e a sacralidade na ligação atávica ao torrão natal.
Trabalho com casais, principalmente casais em risco, tendo o casamento como facilitador de diferenciação, pelo confronto, como no espelho, dos handicaps individuais. Através de entrevistas e vivências avaliamos até onde nós e tramas inconscientes das famílias de origem, que formam o risco do bordado, a planta baixa onde o casal vai fincar os alicerces da vida futura trazem: enriquecimento? Ou histórias de insatisfações, uma dança macabra aonde cada um vai se perdendo mais do que se achando no outro? No casamento em risco aparece um terceiro como sombra, o próprio sujeito casamento. Funcionando autonomamente, com vontades, desejos, mágoas, sintomas e complexos, e o casal passa a se relacionar com e através deste OUTRO. Viemos de nossa origem com traçados diferentes. Perceber que o outro não é uma ideia inscrita na minha cabeça, aquilo que desejo, permite ao casal transformações criativas e o encontro Eu-Tu sobrevive no Nós.
Breve reflexão sobre como o espírito de época interfere e atualiza as relações entre parceiros que se buscam impulsionados pelas regras, mitos e lemas familiares próprios. Como na relação casal além de se buscar abranger os triângulos interconexos que atuam na escolha "sempre certa" do parceiro, atualizar um olhar abrangente sobre como as modificações sociais, que o espírito de época influencia e faz acontecer, participa dessa escolha e de sua função na família.
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