A literatura, em seu plano semântico, pode conter múltiplos sentidos e devires. Dependendo do grau de profundidade da leitura pretendida, podemos explorar situações e fazer considerações jamais antes pensadas. Em um confronto com "A terceira margem do rio", de Guimarães Rosa, numa relação de exílio e melancolia, através de uma riqueza linguística ímpar, esboçamos, pelos processos rizomáticos propostos pelos filósofos pós-modernos Gilles Deleuze e Félix Guattari, encontrar mais uma das inúmeras chaves de leitura que o texto pode nos proporcionar. Dessa maneira, a investigação buscou compreender, como nova chave, as águas, imagens oníricas elaboradas pelo escritor, como um mote essencial de sua narrativa.
Conta a lenda que três uruguaios estavam a bordo do Titanic no momento do naufrágio, em 1912. Um deles carregava uma marca especial: Ramon Artagaveytia era sobrevivente do incêndio que afundara o navio America, quarenta anos antes. "Alguém que sobreviveu a um naufrágio, mas não a dois", pensa diante do túmulo do viajante, em Montevidéu, a protagonista de O quarto branco (Aguerre, 2019). De naufrágios e recomeços se constrói o romance de estreia da também uruguaia Gabriela Aguerre. Espécie de jornada particular em busca de uma identidade aos pedaços, a narrativa gira em torno de Glória, que retorna ao país de origem para resgatar uma história de sucessivas perdas. Glória tem 40 anos, acaba de perder o emprego e vive com o companheiro húngaro em São Paulo, cidade para onde migraram seus familiares: Nasci no Uruguai no começo da tarde de uma segunda-feira de outono. Fazia pouco que o país estava em ditadura, palavra que aprendi a pronunciar em português, quase sempre falando baixo, dura, intangível, talvez na mesma época em que ouvi meus pais cochichando um com o outro sobre uma mala que chegara à porta da casa de uma conhecida, uma mala que continha partes do corpo de um amigo deles (Aguerre, 2019, p. 18).
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