Desde a aprovação e veiculação da chamada do presente dossiê, intitulado “Memórias e práticas {sociais} de resistências”, idealizamos o convite à Magali Mendes – tanto pela amizade que cultivamos com a entrevistada, como pela admiração que por ela nutrimos. Se utilizamos alguns parágrafos para expressar um pouco sobre essa relação, foi porque os transbordantes encontros desta entrevista só foram possíveis por conta dos vínculos políticos, éticos e afetivos com Magali. No final de 2021, já estávamos completando dois anos de muitos traumas que transbordavam em dores espraiadas em nossos corpos-almas-psiques, com milhares e mais milhares de mortes evitáveis em um país governado pelo (denunciado como genocida) Jair Messias Bolsonaro e o negacionismo que embalou sua equipe na gestão da pandemia. Feitas essas considerações, complementamos que a conversa sob o formato de “entrevista” com Magali Mendes se deu em ao menos quatro momentos, diferentes e complementares entre si. O primeiro foi o encontro presencial no dia 24 de junho de 2022, em Campinas/SP, com Magali nos recebendo em sua casa. Durante a intensidade desse encontro de “corpo-presença”, recebemos a notícia do assassinato de Vitor Fernandes, vítima de uma violenta e ilegal ação de despejo praticada pela Polícia Militar (PM) do estado de Mato Grosso do Sul no tekoha Guapo’y. O segundo encontro ocorreu em formato virtual pela plataforma Google Meet. Um possível roteiro, que serviria como fios condutores da prosa, foi encaminhado com antecedência para Magali, a fim de que pudesse maturar o que tanto desejava conosco partilhar. Após a gravação dessa conversa, ocorrida em 28 de julho de 2022, a transcrição literal foi realizada pelo querido Vinícius Ferraz Martins, para que posterior edição tecida por Dani, Simone e Magali se fizesse neste real que segue.
A decisão de veicular o projeto de pesquisa de Satine Rodrigues Borges submetido ao edital de 2010-2011 da FUNDECT/MS, a fim de ser desenvolvido ao largo dos anos de 2012 e 2013, junto ao mestrado acadêmico em Antropologia da UFGD – o PPGAnt, e sob a orientação de Simone Becker, se deu no “apagar das luzes”. O dossiê "Memórias e Práticas {Sociais} de Resistências" já estava em vias de se findar, quando o projeto de Satine saltou em meio às revisões de arquivos do “google drive” que Simone estava a fazer. Assim, rimando Memórias e Práticas Sociais de Resistências à vida em potência que pulsa em cada uma das pessoas que com Satine conviveram, ao lembrarmos dela. E àquelas tocadas a partir de suas memórias.
Nosso dossiê, cuja chamada esteve aberta ao público de março a setembro de 2022, objetivou suscitar reflexões sobre necropolítica, biopolítica e demais ferramentas conceituais voltadas à compreensão do Estado e suas engrenagens de moer gente, como aquelas que mortificam re-existências, especialmente da cartografia política localizada no sul/subsolo: “corpos-territórios” negros, travestis, indígenas, quilombolas, afeminados, sapatões, favelados, bichas, trabalhadores, refugiados, (d)entre tantxs outrxs. Se tais corpos são alvos certeiros de balas/bombas, canetadas/sentenças, decretos, bisturis e falos, ao mesmo tempo são corpos que se rebelam em “aliança” (Butler, 2018) contra o neoliberalismo que abjetifica e aprofunda a precarização de vidas que (des)importam ao Estado e seus tentáculos.
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