] o nascimento do leitor deve pagar-se com a morte do Autor." (Roland Barthes) Os dez artigos de nossa terceira edição de 2017 podem ser agrupados em cinco conjuntos que fazem convergir grandes temas contemporâneos: o feminino/feminismo (dois artigos), o letramento escolar (quatro artigos), a teoria de gênero (um artigo), os estudos de mídia (dois artigos) e o olhar jurídico (um artigo). Figuram aí os constantes encontros e desencontros nas práticas dos vários campos sociais, mostrando em traços mais ou menos fortes o que se concebe como fluidez em nossas sociedades. Mantivemos parcialmente nosso foco na subjetividade e na alteridade em seu movimento espiralado, tal como perspectivado na edição dois, mas mudamos o ângulo de reflexão para um tópico que será tomado em sua qualidade crítica: a autoria, categoria que amarra o conjunto, até mesmo porque a injunção à produtividade, com seus ângulos positivos e negativos, leva ao desejo de um julgamento de autoria, pela produção a ser submetida, olhada, avaliada, e, finalmente, publicada, havendo mérito. Não se trata de definição de lugares, como se fora um concurso classificatório, mas especificamente de como sentimos e interpretamos ou somos sentidos e interpretados, uma vez submetidos a parâmetros sociais que nos incluem ou rejeitam, agora ou adiante, neste ou naquele lugar.Dentre as múltiplas possibilidades de olhares para a autoria, escolhemos partir de um que se aplica sobre crise, pontuada em artigo de Rodrigo Ielpo (2013) 1 . E podemos continuar relembrando considerações feitas em edições anteriores sobre nosso modo político de vida -ideológico, imaginário -, no qual se engendram encontros e desencontros, em que as linguagens estão sempre presentes -e aqui tão destacadas, em nosso modo científico e pedagógico de tratamento dos temas. A autoria, agora, não é um tema dos artigos: é uma figura que sobrevoa todos eles, com um relevo especial, implicando saberes especiais -no caso, saberes em construção pelos pesquisadores. E não apenas sobrevoa, como uma cobertura que se pretende protetora, mas também é assombrada: "há um fantasma que assombra essa caminhada [desenvolvimento da autoria]: o plágio, que pode intervir sub-repticiamente, minando o efeito-autor." (FURLANETTO, 2015, p. 171-172) 2 .De que crise se trata, em Ielpo? "Trata-se da crise de uma morte, mais especificamente, a morte do autor, pois que na instância do discurso não só a vida entra 1 IELPO, Rodrigo. Da crise de uma morte aos impasses da ressurreição. Revista Criação & Crítica, n. 11, p. 48-60, nov. 2013
Um clássico da biologia, divulgado em 1976 -The selfish gene -, de autoria de Richard Dawkins 1 , serve-nos de inspiração para tratar do fundamento de não poucos trabalhos que investigam as práticas sociais humanas, aí incluída relevantemente a linguagem humana em suas características culturais, desdobradas em uma miríade de temáticas: racismo, humor, violência, poder, cognição, interação..., em todos os campos discursivos, pela memória.Como as espécies surgem e evoluem? Com seu evidente bom humor, Dawkins crê que a pergunta fatal de um alienígena que chegasse à Terra e tentasse avaliar nossa civilização seria: "Eles já descobriram a evolução?" E desde esse início até o final da obra, o autor consegue, com uma linguagem informal (divulgação científica) e explorando as possibilidades da metáfora, explicar a função e o alcance dos genes como replicadores biológicos, indo além, a partir daí, ao que diz respeito, analogamente, às Ciências Sociais: as unidades replicadoras de transmissão social -os memes.
APRESENTAÇÃO/PRESENTATION FIGURAÇÕESOs pesquisadores do campo das linguagens têm dedicado tempo considerável a refletir sobre temas da linguagem a partir de práticas rotineiras ou seletivas e suas características culturais, como os que se apresentam nesta edição: direitos humanos e homofobia, interação humana em ambiente relativo a questões de saúde, divulgação científica em meio informatizado, questões sempre atuais que remetem ao culto ao corpo tendo o feminino como tópico, a forma de promover a emoção em gêneros e meios diversos, o professor de língua estrangeira e suas representações profissionais. Some-se a esse conjunto um material teórico como contraparte na rotina da humanidade: a discussão conceitual de dialogismo e intertextualidade em sua aproximação ou distanciamento.Escolhemos olhar esses desenvolvimentos utilizando uma tela especial, que, em seu trabalho sociológico-histórico, Norbert Elias ([1983]2001) * chamou de figurações, figurações específicas estabelecidas por interdependência de pessoas (modos de convivência, valores, crenças, normas culturais), pelas quais, no quadro de sua pesquisa sobre a sociedade de corte do Ancien Régime, ele explica como se desenvolveu e se manteve a corte real na França, tendo como ápice o reinado de Luís XIV.Nenhuma sociedade é um fenômeno existente fora dos indivíduos e das relações que mantêm, em pequenos ou grandes grupos, entre si e nos intercâmbios com os outros, estabelecendo um modo político de vida com sua vertente ideológica e imaginária, em que há parcial convergência tanto quanto divergência e confrontos, formas de uso do espaço (físico, virtual, psicológico) congregadas ao tempo (cronológico, linguístico, psicológico). Em suma, estamos falando de diferenças de modos conviviais nos mundos espaçotemporais possíveis (que podem ser utópicos), nesse processo de entrelaçamento complexo que é a interação humana.As designações que utilizamos para falar desse relacionamento estão aí para testemunhar figurações: racismo, humor, violência, poder, cognição, direitos humanos, homofobia, ressentimento, devoção, sensibilidade, solidariedade -formas que podem se aproximar ou se afastar dos polos que mais ou menos reconhecemos e aceitamos. O modo de vida mais ou menos benévolo ou mais ou menos malévolo depende das figurações criadas, estabelecidas ou desmanchadas no grande tempo. Inclinações, sentimentos e comportamentos testemunham as formas de vida e os laços (sempre um pouco frágeis) estabelecidos ou desmanchados. A memória do humano se funda e continua a ressoar em certas repetições consagradas pelo senso comum (que não é comum universalmente, mas existe num fundo de memória, pronto a aflorar com os acontecimentos.Nessa vaga humana das repetições que vão se consagrando, a partir de uma faísca geradora que "pega", consagramos aquela unidades que Dawkins ([1976]2007) ** * ELIAS, Norbert. A sociedade de corte. Investigação sobre a sociologia da realeza e da aristocracia de corte. Trad.
Queremos lembrar, no lançamento desta segunda edição de 2016 da Linguagem em (Dis)curso, as palavras de um pesquisador brasileiro especialista em Bakhtin e seu Círculo, por sua propriedade em rememorar e inspirar trabalhos científicos nesta área tão complexa e conturbada que é a das ciências da linguagem, pensando naqueles que têm de se haver com os gestos de linguagem, explícitos ou implícitos em todas as práticas humanas: "[...] como a verdade não existe, temos de assumir, sem distorções além das inerentes à condição humana-marcada por um aqui e um agora singulares, porém com um pé na universalidade-, a verdade de cada um como uma verdade provisória, mas válida, que outras não anulam, mas compõem." (SOBRAL, 2009, p. 15) * .
RESUMO Este artigo aborda o gênero romance histórico e suas particularidades a partir dos estudos de Bakhtin. O trajeto se faz em torno do conceito de cronotopo, figurando a indissociabilidade de tempo e espaço. A materialidade de análise é a obra Verde vale, de 1979, da catarinense Urda Alice Klueger. A análise realizada destaca o cronotopo da transmigração como figura que alicerça a narrativa histórica; ele se desdobra em dois temas subordinados: o cronotopo da soleira e o da terra, simbolizando os movimentos observados na construção narrativa do romance. Vinculado a essas representações cronotópicas, o tema da terra, que implica enraizamento e remete também a origem, permite a ampliação da análise aproximando os fenômenos de toponímia e antroponímia, trabalhados como eventos de memória e identidade.
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