No contexto da literatura brasileira da primeira metade do século XX, vamos tratar, inicialmente, de dois autores cuja imaginação esteve empenhada em reelaborar o mito da identidade nacional: Paulo Prado [1869-1943] e Oswald de Andrade [1890-1954]. Ambos procuraram dar uma resposta ao problema que, no âmbito da cultura da época, surgia como enigma, mas com estratégias distintas, como veremos, apesar de convergências em alguns pontos. Em seguida, iremos traçar um paralelo entre a noção de “crioulização” de Édouard Glissant, passando pelas considerações teóricas de Raphaël Confiant, e o construto antropofágico e literário de Oswald de Andrade. Por fim, deduziremos que o escritor paulista elabora uma noção de mestiçagem mais restritiva e datada na concepção crítica, ainda que mais avançada em relação a Paulo Prado. Será no texto literário que Oswald, contudo, deixará uma marca de mestiçagem, tanto na forma como no conteúdo, mais aberta e atual.
Em linhas gerais, o presente texto tem como objetivo apresentar uma releitura sobre o modernismo literário brasileiro. Na tentativa de romper com o olhar canônico sobre esse movimento, iremos analisar o discurso crítico de Oswald de Andrade [1890-1954]. Nossa intenção será a de apontar, no texto de Oswald, tanto aspectos impulsionadores de uma nova maneira de ver e fazer literatura quanto elementos ainda reminiscentes de uma cultura literária arcaica. Partindo da própria sugestão crítica de Oswald, iremos, em seguida, discutir com mais interesse, a presença de João do Rio [Paulo Barreto, 1881-1921] no imaginário do escritor paulista. Por fim, questionaremos a ideia de ruptura estética tout court no modernismo, sugerindo, no seu lugar, uma compreensão sobre o movimento mais abrangente, que possa incluir, também, autores remanescentes do período.
O artigo propõe uma leitura de “Tribulações de um balanta” – um dos contos de ficção publicados no Boletim Cultural da Guiné-Portuguesa - com o fim de analisar criticamente tanto a aplicação do imaginário do colonizador, por se tratar de um aspecto característico no processo de colonização, quanto a expressão cultural guineense dada por esse viés eurocêntrico. Verifica-se, na análise dessa narrativa, marcas de silenciamento impostas sobre a comunidade da Guiné. Por outro lado, apesar do enquadramento colonial dado, notam-se no texto tradições, crenças e valores da comunidade local que colaboram para a formação da identidade étnico-cultural de Guiné-Bissau. No Boletim, a Guiné-Portuguesa aparece como uma “invenção”, ocupando-se da literatura como forma de colonizar/domesticar os locais através de boletins e da literatura, posicionando-se também como voz autorizada e legítima para denominá-los no mundo. Este artigo trabalha com críticos pós-colonialistas, como: BONNICI T., CANDIDO, Antônio. CÉSAIRE, Aimé. GLISSANT, Edouard. E NAYAR, Pramod K.
voz pode, de alguma maneira, representar a classe dos desfavorecidos ou subalternos. Palavras-chave: estudos culturais e pós-coloniais; literatura brasileira; Patativa do Assaré; representação social; identidade cultural.
O presente trabalho tem como objetivo investigar a cultura popular nordestina, em especial as marcas da tradição oral na obra Auto da Compadecida de Ariano Suassuna. Notadamente híbrido, o texto do autor se identifica majoritariamente aos espetáculos de circo e à tradição popular, por sua maneira de apresentar os acontecimentos. Nesta obra, a moral católica aparece em primeiro plano, dialogando com o estilo quinhentista português de Gil Vicente e com as tradições locais e regionalistas do folclore brasileiro. Os instrumentos culturais mais relevantes na peça são as crendices e a literatura de cordel da realidade regional brasileira, mais precisamente da realidade regional nordestina. Acredita-se que as lendas, mitos, contos populares e fábulas não fazem parte apenas do exótico no mural da literatura brasileira. Indagaremos, assim, se a grandiosidade do conteúdo comunicativo que percorre a narrativa deve-se à transposição de elementos da cultura popular brasileira presentes nas diferentes personagens e descrições do texto. Para o alcance desses propósitos, utilizaremos o aporte teórico de Ortiz (1992); Cascudo (1982; 1988); Vassalo (1993), Canclini (1983); Hall (2000), Antonio Candido (2010), entre outros.
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