A partir da experiência de duas pessoas aprisionadas em uma penitenciária feminina de São Paulo, o presente texto reflete sobre os modos de produção de territórios e condições de existência no cotidiano do cárcere. As formas criativas e táticas de adequar os ambientes de modo a torná-los morada e as redes de suporte, favores e afetos tecidas ao longo de anos são justapostas às formas de dominação e tentativas institucionais de anulação do sujeito aprisionado. Em situações extremas, o corpo torna-se território último de resistência, a partir do qual são agenciadas linhas de fuga capazes de produzir verdadeiras máquinas de guerra contra o Estado, de modo a fazer vida perseverar. Por meio de narrativas que fazem ver diferentes formas de produzir territórios de vidas vivíveis, busca-se discutir as fronteiras entre subjugação, resistência e criação no cotidiano de uma prisão.
Resumo A proposta do texto é apresentar e discutir táticas de resistências corporais acionadas por pessoas presas em uma penitenciária feminina no esforço cotidiano de viver na/à prisão. Posto que o confinamento serve a políticas governamentais de controle e gestão populacional, cujas disposições buscam cercear ou, no limite, exterminar as formas de vida daqueles aprisionados, o presente texto chama atenção para as táticas mobilizadas através do corpo para comportar a vida entre grades. Seja pela escrita, seja pela escarificação da pele, ou pela medicalização psiquiátrica, essas inscrições aparecem como táticas de resistência às tentativas de apagamento da pessoa aprisionada.
Partindo do contexto da greve de 2016 na Unicamp, marcado por um ambiente politicamente frágil e acirramento entre diferentes atores/atrizes no embate institucional e civil, o presente texto propõe uma análise crítica da montagem “Canto para Rinocerontes e Homens”, encenada no referido ano pela companhia Teatro do Osso. Baseada na dramaturgia “O Rinoceronte” de Eugène Ionesco, a peça que aqui serve de emblema revela e retorce uma série de contradições explícitas e implícitas na onda de conservadorismo que tem acompanhado a crise econômica e a irresponsável e indecente gestão política institucional. Elaborada por mestres em formação durante o período da greve, a resenha é elaborada como um diálogo-debate e redigida colaborativamente em um estilo ensaístico, e reflete em sua forma a elaboração de um espaço onde as normas acadêmicas de produção do conhecimento científico puderam ser colocadas em perspectiva. Esperamos, com o texto que segue, provocar reflexões nos/as leitores/as atinentes aos próprios valores e convicções que tem governado nossas concepções acerca do humano e dos mundos que queremos.
Resenha do livro Entre as Leis da Ciência, do Estado e de Deus: o surgimento dos presídios femininos no Brasil, de Bruna Angotti, publicado em 2018 pela Colección Estudios Penitenciarios.
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