O estudo parte do princípio de que a escrita é marcada pela heterogeneidade, por isso, apesar de as normas, que regem os textos acadêmicos, pautarem-se nos princípios da neutralidade, racionalidade e objetividade, foram encontradas, na escrita de alunos de graduação em Letras, marcas linguísticas e discursivas que confirmam ou transgridem formas prototípicas do gênero acadêmico. Sugere-se, então, que há vários modos de se tornar letrado, assim como há várias formas de representações na escrita, desde aquelas que reproduzem modelos standard do conhecimento e do dizer pautados no senso comum e em valores consagrados / pasteurizados até aquelas que os ultrapassam, dada a dimensão expressiva que caracteriza o discurso.
Este artigo se dedica a Itão Kuegü: as hiper mulheres (2011, 80 min), longa-metragem de Takumã Kuikuro, Carlos Fausto e Leonardo Sette. Reflexões antropológicas sobre aprendizagem, memorização e transmissão dos cantos entre o povo kuikuro, bem como as formas de organização do ritual Yamuricumã, são consideradas para se compreender estratégias ficcionais e poéticas. Em relação às estratégias ficcionais, analisa-se um relato de enganação, lido em paralelo com o próprio filme que engana, por meio da montagem, o espectador que desconhece os cantos-poema. Mais especificamente, sobre o poético no cinema, este trabalho se detém nos cantos-poema kuikuro. O destaque recai sobre os paralelismos e as repetições, assim como sobre os efeitos da (não) tradução dos cantos no filme. À luz dos estudos de Bruna Franchetto a respeito da estética da repetição, este texto demonstra que é possível encontrar, no cinema kuikuro, paralelismos e repetições que não são estritamente marcados ou regulares, uma vez que há uma espécie de correspondência paralelística (ou variação na invariância) nas escolhas cinematográficas.
O presente artigo busca se aproximar da imaginação conceitual guarani por meio dos documentários “Tekoha — o som da terra” (2017) de Rodrigo Arajeju e Valdelice Veron e “Os verdadeiros líderes espirituais” (2013) de Alberto Alvares. Partimos do princípio de que a linguagem sonora e visual põe em diálogo cosmologias distintas (a ameríndia e a ocidental). O primeiro filme, que aborda a grave crise humanitária vigente nas reservas e áreas de retomada enfrentada pelo povo kaiowá no Mato Grosso do Sul, oportuniza a discussão sobre como a linguagem cinematográfica funciona nesta obra para expressar o luto e a luta desse povo. O segundo filme, que versa sobre o modo de ser guarani (nhande reko) a partir dos conhecimentos do xeramõi Alcindo e xejarji Rosa, em aldeia de Santa Catarina, abre ocasião para refletir como o silêncio e a esquiva constituem uma invisibilidade estratégica guarani.
Este artigo se debruça sobre o curta-metragem Agahü: o sal do Xingu (2020) do cineasta indígena Takumã Kuikuro e seu contexto de produção na Terra Indígena do Xingu, Mato Grosso, Brasil. O documentário dialoga com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, mais especificamente com o direito à liberdade de pensamento, consciência e religião, de maneira a enfatizar que o “sal tradicional” conjuga ciência, arte, fé. Especial destaque é dado à dinâmica de produção imagética, considerando desdobramentos audiovisuais e político-sociais a partir da elaboração do roteiro, de escolhas de tradução e montagem. O foco também recai sobre a relação que a sociedade kuikuro tem com o sal tradicional. A resistência, a partir da insistência por um modo de vida Kuikuro, é entendida pelo viés da sustentabilidade ambiental diante da defesa do direito de colher seu alimento.
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