A luz elétrica obscureceu parcialmente o mundo, deixando muitos objetos e seres na penumbra. murilo mendesNão são bem reminiscências, mas acontecimentos ainda presentes e que não esgotaram sua energia potencial, ainda atuantes, e incrivelmente futuros.samuel rawet ResumoO artigo considera a força estético-política de um imaginário associado à infância no trabalho do artista contemporâneo Christian Boltanski na pequena cidade francesa de Vitteaux, onde criou um teatrinho de sombras a céu aberto, projetando nas fachadas das casas, quando anoitece, imagens de bruxas, gatos pretos, morcegos, caveiras. Investiga-se essa coleção de monstros de feição infantil em reflexão cruzada com o pensamento de Walter Benjamin sobre a potência dos encontros repentinos com o mundo esquecido da infância. Ao promover um diálogo entre os dois autores, busca-se evidenciar articulações entre práticas estéticas e práticas políticas para pensar como o campo da infância pode ensejar novos modos de configurar, de sentir e de partilhar um ambiente em comum. Palavras-chave: infância; práticas estéticas e práticas políticas; Christian Boltanski; Walter Benjamin. AbstractThe article considers the aesthetic and political power of a childhood imagery in the work of contemporary artist Christian Boltanski. In the small French town of Vitteaux, he created an outRésumé L'article fait remarquer la force esthé-tique-politique d'un imaginaire associé à l'enfance, dans le travail de l'artiste contemporain Christian Boltanski, dans la petite ville française de Vitteaux, 1
A Revista Escrita pediu para a professora Rosana Kohl Bines, do programa de pósgraduação em Literatura, Cultura e Contemporaneidade da PUC-Rio, responder a cinco perguntas por e-mail. As questões foram elaboradas pelo corpo editorial do presente número e visavam procurar interseções entre o campo de estudo da professora e algumas indagações suscitadas pelo tema desta edição. Agradecemos mais uma vez a disponibilidade e a participação da professora. Um de seus projetos de pesquisa observa o jogo como língua franca da infância e explora os seus modos de ativação e ressurgência em práticas literárias e artísticas que envolvem o brincar como dispositivos de criação. Você pretende expandir esta pesquisa para compreender tal perspectiva no cenário de um campo de refugiados? Sim, realizamos recentemente uma missão de pesquisa à cidade de Boa Vista, Roraima, onde encontram-se abrigados cerca de 7.000 venezuelanos em situação de refúgio. A pesquisa se insere no âmbito de um projeto interdisciplinar mais amplo, conduzido pela Cátedra Sérgio Vieira de Melo (PUC-Rio/ACNUR), que se dedica a observar a presença e a circulação de populações refugiadas e solicitantes de refúgio de origem venezuelana no Brasil. Em Boa Vista, em fevereiro de 2019, estivemos presentes nos abrigos São Vicente e Jardim Floresta, buscando observar, registrar e descrever os modos como as crianças e jovens abrigados ressignificam práticas lúdicas em cenários de escassez e confinamento. Engajamo-nos em diferentes situações de observação-participante. Fizemos entrevistas qualitativas com as crianças, jovens e educadores locais; criamos situações de convivência lúdica em sessões de contação de histórias, em que circularam repertórios brasileiros e venezuelanos, lembrados pelas crianças abrigadas; fotografamos e filmamos momentos de deriva lúdica das crianças nos espaços dos abrigos. Buscamos ser diligentes com os movimentos de vida que as crianças encenam ao brincar, ao registrar o que ali se faz e se inventa, em contextos de adversidade. Reconhecer as vidas ali vivas e vividas e tomar ciência do que ali se constrói, como escreve a crítica francesa Marielle Macé, no contexto dos migrantes na França. A pesquisa, ainda em fase inicial, envolverá novas viagens à Boa Vista, Roraima. Nesta primeira entrada em campo, apoiada pela Vice-Reitoria de Desenvolvimento da PUC-Rio, contei com a parceria inestimável das
Este ensaio investiga conexões temporais entre as ações de traduzir e esconder, a partir das considerações de Maria Filomena Molder sobre dois textos de Walter Benjamin: "A tarefa do tradutor" e "Criança Escondida". Discute-se a temporalidade contrapontística do jogo mimético, que envolve tradutor e criança escondida. Assim como a criança atrás da porta busca adotar as propriedades do esconderijo, permanecendo ereta como um sólido inanimado para não ser descoberta, o tradutor se alojaria no texto a traduzir, incorporando as propriedades da língua estrangeira na língua própria. Este intercâmbio produziria uma dinâmica temporal intermitente, em que as formas são e deixam de ser, num vai-e-vem entre a afirmação e a negação da vida. Explora-se esta hipótese na leitura de Song for Night (2007) do escritor nigeriano Chris Abani. A novela confecciona uma voz infantil liminar, oscilando entre vida e morte, para contar experiências-limite de vulnerabilidade à violência. Narrada por um menino-soldado escondido na floresta, que tem suas cordas vocais arrancadas na guerra, a obra é o monólogo interior de um narrador emudecido que se comunica com o exterior por língua de sinais. O livro é escrito em inglês, mas a história simula desenrolar-se num dialeto africano inacessível. A tradução se torna assim imperativa, atuando como princípio construtivo da obra, operador de leitura e dispositivo temporal. Além de marcar o ritmo da experiência oscilante do narrador entre ser e não ser mais, produz demora e dificulta a entrada do leitor na obra, estimulando simultaneamente uma atenção crítica aos seus procedimentos e efeitos. Palavras-chave: tradução; infância; morte.1 O presente trabalho foi realizado com apoio do CNPq, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico -Brasil. Foi originalmente escrito para o Simpósio "Tradução, contemporaneidade, extemporaneidade" no âmbito do XV Encontro Nacional da Abralic, realizado na UERJ de 19 a 23 de setembro na UERJ. Agradeço aos organizadores do Simpósio, Mauricio Mendonça Cardozo, Helena Martins e Marcelo Jacques de Moraes, pelo impulso motivador que gerou as reflexões aqui apresentadas. Agradeço ainda aos demais colegas que integraram o simpósio pelos comentários e contribuições, que certamente impactaram na versão final deste texto. Bines, R. K. Contratempos de infância e morte 25 Revista Letras, Curitiba, ufpr, n. 95 24-34, jan./jun. 2017. issn 2236-0999 (versão eletrônica) ABSTRACTThe present essay investigates temporal connections between the acts of translating and hiding, based on Maria Filomena Molder´s notes on two texts by Walter Benjamin -"The task of the translator" and "Hidden Child". It further discusses the contrapuntal temporality of the mimetic game, which engages both translator and child. Just as the child behind the door seeks to adopt the properties of the hiding place, by becoming herself an inanimate solid, to avoid being found, so the translator hides himself in the text he will translate,
Resumo: Por que tentar escrever algo que é irredutível a outra forma de expressão? A pergunta aparece ao final de um conto notável do escritor brasileiro Sergio Sant'Anna, que descreve nos pormenores uma série de telas do pintor franco-polonês Balthasar Balthus, em que figuram meninas-mulheres em poses ambíguas, entre inocência e lascívia. O presente artigo investiga processos tradutórios entre pintura e literatura, a partir do topos da infância, considerado como zona liminar, operadora de passagens entre silêncio e linguagem. Para tanto, traça um itinerário reflexivo que parte da teoria freudiana sobre a afasia. Palavras-chave: Tradução. Infância. Afasia. Ekphrasis. TRANSLATING THE GIRLS OF BALTHUSAbstract: What is the point in trying to write something that is irreducible to another form of expression? The question appears at the end of a noteworthy short story by the Brazilian writer Sergio Sant'Anna, which painstakingly describes a series of paintings by the Polish-French artist Balthasar Balthus. These paintings depict young girls in ambiguous poses, between innocence and lusciousness. The present paper investigates * Formação em Letras (Português/Inglês e
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.