Literatura e outras artes sempre dialogaram, produzindo obras híbridas, emparelhadas, inspiradas ou adaptadas, resultando em uma relação de autofagia não só fértil como necessária a autores, gêneros e audiências. No caso da cultura brasileira, porém, a situação é mais delicada, uma vez que, do passado ao presente, cultura, arte e estética -e suas consequentes experimentações e eventuais diálogos -sempre foram relegadas a segundo plano, não raro associadas a classes médias e altas, como se a cultura popular e expressões marginais não fossem dignas de observação, quanto mais de registro ou estudo.Este número de Letras objetiva discutir a existência de poéticas interartes em nossa cultura brasileira, pensando de que modo a literatura nacional, no decorrer dos últimos dois séculos, e chegando à contemporaneidade, manteve uma relação promíscua e profícua com a pintura, o teatro, a música, a dança, os quadrinhos, o cinema, a arquitetura, entre outras expressões artísticas.Para tanto, nossa chamada foi pensada para reunir um conjunto ilustrativo de temas e autores que possibilitassem essa visão múltipla do assunto. O dossiê sobre "Poéticas Interartes e Cultura Brasileira" abre com o texto "A música na ficção de Luiz Antonio de Assis Brasil: Um estudo a partir da intermedialidade". Nele, Edemilson Antônio Brambilla e Ivânia Campigotto Aquino debatem como o elemento musical está presente nas narrativas do autor sul-rio-grandense Luiz Antonio de Assis Brasil, tanto no aspecto narrativo com enredos que tomam a música como seu elemento central, quanto estruturante, com obras que se assemelham a formas musicais. Em seu texto, os autores atentam para o diálogo entre música e ficção na própria estrutura da ficção assisiana. Na sequência, em "Cantos da Pedra e do Mundo: Carlos Drummond, parceiro de Chico, Caetano e Milton", Roniere Silva Menezes reflete a respeito de intertextos existentes entre a produção poética de Carlos Drummond e a dos compositores Chico Buarque, Caetano Veloso e Milton Nascimento. Segundo o autor, a literatura de Drummond marca-se por um ritmo singular, com
Este trabalho analisa e interpreta trechos da obra poética O Cão sem Plumas, de João Cabral de Melo Neto em comparação com trechos da obra fotográfica de Maureen Bisilliat, que homenageou em um livro com o mesmo título a obra do poeta pernambucano. A comparação entre as obras possibilita um olhar de modificação e ressignificação nos poemas a partir do que a fotógrafa desenvolve na integração entre fotografia e poesia. Com isso, tal leitura se efetiva a partir das reflexões de Robert Stam e Linda Hutcheon, quando tratam da Teoria da Adaptação. Também foram utilizadas as reflexões sobre a obra de João Cabral construídas por críticos como Antonio Candido, Alcides Villaça e João Alexandre Barbosa.
Este trabalho aborda a teoria do realismo grotesco de Mikhail Bakhtin aplicado em manifestações artísticas diferentes (a pintura de Hyeronimus Bosch e as cantigas de maldizer portuguesas). O ensinamento do estudioso russo mostra um "mundo às avessas" possível dentro da realidade artística-poesia e pintura neste caso. Outro fator a ser observado é a similaridade das manifestações de arte medievais descritas com realizações artísticas múltiplas de nossa contemporaneidade. Palavras-chave: Realismo grotesco. Cantigas de maldizer. Hyeronimus Bosch.
Este trabalho compara as configurações e reconfigurações do grotesco na obra O crime do Pe. Amaro, de Eça de Queirós, e na adaptação que a artista plástica Paula Rêgo faz em uma série homônima de dezesseis quadros. A partir das reflexões sobre teoria da adaptação em Linda Hutcheon e Robert Stam, comparamos as obras de Eça de Queirós e Paula Rego. No livro, a comparação se estabelece a partir das descrições de algumas personagens da obra, enquanto nas telas a interpretação se realiza a partir de uma ampliação de alguns temas desenvolvidos pelo autor, além de uma adequação ao contexto de produção dessas obras na contemporaneidade. A perspectiva comparativa é a do grotesco, seja através da interpretação das cores, da corporeidade das personagens e até do fundo das telas. O trabalho é embasado nas teorias do grotesco desenvolvidas por M. Bakhtin e Victor Hugo. A leitura a partir da teoria da adaptação e do grotesco nas obras possibilita um enriquecimento de ambas as obras, seja em seus contextos socioculturais específicos, sincrônicos, seja em um panorama cultural mais abrangente, diacrônico.
Este trabalho analisa como o eu lírico do poema "O Sentimento dum Ocidental" olha a cidade de Lisboa e analisa a história de Portugal a partir das marcas que a urbe guarda em si. Os tipos sociais das mais diversas classes sociais são desvendados juntamente com Lisboa pelo olhar do poeta. Então, cria-se um novo signo a ser interpretado que é a reinterpretação da história em outro signo: o poema em si. A cidade e seus tipos ajudam o artista (e o leitor) a ressignificar a história de Portugal. A visão estranha da história, outra, origina a ótica realista em poesia, permeada por um profundo mal estar.
RESUMO: Este texto visa discutir como a identidade do eu-lírico se coaduna com o próprio trabalho metalingüístico na obra de Fernando Pessoa e seus heterônimos. A discussão é fulcral para compreender a obra de um artista que forneceu múltiplas facetas de sua(s) poética(s) criada com o que chamamos neste trabalho de meta(persona)linguagem.
O artigo apresenta um estudo da obra O Pagador de promessas, de Dias Gomes, com base no texto de Sigmund Freud intitulado O estranho e nos estudos sobre o culto aos orixás de Carlos Moura. A análise se deterá mais especificamente sobre a relação entre duas concepções de religião e fé. A primeira, o catolicismo, colocando-se numa posição de religião oficial nabeatas. A segunda, o candomblé, situando-se como oposição e resistência ao discurso dominante da Igreja. Tal confronto mostra como uma obra de matiz popular motiva reflexões históricas profundas a partir do que o psicanalista vienense intitula como estranho. Essas reflexões são inerentes à promessa de Zé-do-Burro para salvar o "animal com alma de gente" feita para Santa Bárbara em um terreiro de Iansã, mesclando-se a uma linguagem e a um modo de vida condizente com o da cultura popular.
Texto de apresentação do dossi ê O fantástico e a (de)formação do riso.
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