Introdução: Sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST) causada pelo Treponema pallidum, frequente entre as mulheres em menacme, podendo na gestação (sífilis gestacional — SG) ocorrer transmissão vertical (TV) (sífilis congênita — SC) em até 100% dependendo da fase gestacional. Entre as complicações da SG estão: aborto espontâneo, parto prematuro, má-formação fetal. Já as consequências da SC são: surdez, cegueira, deficiência mental e natimorto. De acordo com o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), nos últimos 10 anos, mais de 40% dos casos notificados ocorreram no Sudeste, estando o Rio de Janeiro (RJ) com a maior taxa de detecção de SG e de incidência de SC, acima da média nacional em 2017. As altas taxas de SC representam prováveis lacunas na assistência ao pré-natal (PN) quanto à prevenção, diagnóstico e tratamento (TTO) adequados. Segundo o boletim epidemiológico da Secretaria de Saúde do Estado do RJ, em 2017, 8.109 gestantes (93,3%) foram tratadas com penicilina benzatina, 66 (0,8%) tiveram outro esquema terapêutico, 262 (3%) não realizaram TTO e não havia informações sobre 256 (2,9%) gestantes. Entre 2008 e 2018, houve aumento de mais de 13 vezes no índice de SG, comprovando alarmante crescimento dessa doença. A penicilina benzatina é o fármaco de escolha recomendo pelo Ministério da Saúde, no entanto, há ausência desse medicamento em vários estados em razão dessa demanda aumentada e consequente desabastecimento. Esse déficit também pode refletir-se no TTO do parceiro que, se não tratado, pode reinfectar a gestante já curada. Objetivo: Dada a importância do tema, a relevância à saúde pública e possíveis agravos à população, este trabalho objetivou descrever aspectos epidemiológicos da SG no RJ entre 2008 e 2018. Métodos: Consiste em revisão de caráter quantitativo realizada com base em dados obtidos no Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS) no período 2008‒2018. Resultados: No período analisado confirmaram-se 43.879 casos de SG, dos quais 1,5% em 2008 e 20,4% em 2018. A partir de 2009, o número vem aumentando a cada ano. As três únicas ocorrências de morte confirmadas por esse agravo foram em 2018. A faixa etária mais acometida foi a de 25‒39 anos, com 68,9% dos casos. Conclusão: Em relação ao número de óbitos pelo agravo notificado ocorridos entre 2008 e 2018, três se deram somente em 2018. Esse resultado demonstra possíveis falhas no acesso ao serviço de saúde e, por conseguinte, complicações materno-fetais decorrentes de uma doença que tem cura se tratada precocemente. A ampliação dos casos também pode se justificar pelo baixo conhecimento sobre as medidas de prevenção e TTO das IST, além da dificuldade de acesso ao TTO. A SG é uma doença de notificação compulsória e, por isso, o acréscimo no número de casos pode estar relacionado à diminuição da subnotificação. Nesse contexto, uma assistência PN adequada poderia reduzir os diagnósticos tardios, o TTO inadequado da gestante e do parceiro e a possibilidade de TV.