RESUMO Objetivo Analisar as práticas cotidianas de um serviço de saúde mental do norte da Itália. Método Pesquisa qualitativa, cuja coleta de dados foi proveniente do trabalho de campo etnográfico em um serviço de saúde no período entre 2015 e 2016. Foram observadas as atividades diárias e realizadas oito entrevistas em profundidade com os profissionais desse serviço. O material empírico foi submetido à técnica de análise de conteúdo de Cardano. Resultados Percebeu-se que essas práticas permitem a cada indivíduo desempenhar uma diversidade de papéis no drama social, quando inseridos em um território existencial e apoiados numa prática ética, estética e política. Conclusões e implicações para a prática Por meio dessa clínica territorializada, observou-se a substituição de conceitos orientadores do cuidado para uma “invenção de saúde” em ato, marcada pela ousadia de criar espaços de cena para a expressão das múltiplas versões do eu.
Objetivo: descrever uma experiência de estudo, reflexão e prática de realização da entrevista discursiva. Método: consiste num relato de experiência sobre o desenvolvimento e prática da técnica de entrevista discursiva, realizada entre setembro e dezembro de 2019, durante a disciplina de Metodi Qualitativi per la ricerca sociale, na Università degli Studi di Torino, na Itália. Foram aplicadas três entrevistas discursivas aos integrantes de uma associação ítalo-brasileira, utilizando uma amostragem valanga (técnica da bola de neve). Resultados: apresentam as etapas que antecedem a realização da entrevista discursiva, como o contato com o campo de pesquisa e com o tema que foi pesquisado, a elaboração do roteiro para entrevista, sua execução e sua transcrição. Conclusão: a entrevista discursiva é uma técnica que permite a compreensão da ação dos participantes e do seu contexto social. Por não aplicar questões predeterminadas, valoriza o que emerge no processo de integração.
Objetivo: caracterizar os ouvidores de vozes que participaram de um Congresso no Brasil, bem como o processo relacional com as vozes durante as suas vidas. Métodos: estudo qualitativo de abordagem descritiva, com 12 ouvidores de vozes. Os dados foram coletados em outubro de 2017. As entrevistas foram registradas na forma de anotações, organizadas e analisadas a partir de temáticas. Resultados: os participantes são em sua maioria homens, acima de 40 anos. O surgimento das vozes ocorreu devido a eventos traumáticos, antes dos 20 anos. O uso de medicamentos é a estratégia mais utilizada para o enfrentamento das vozes, enquanto escrever sobre as vozes é pouco utilizada. A maioria dos ouvidores acreditam que as vozes possam ser de entidades, bons espíritos, deuses, fantasmas e anjos. Considerações Finais: este estudo apresentou informações que potencializam a difusão do Movimento dos Ouvidores de Vozes, estimulando novas produções em diferentes cenários.
Objetivo: caracterizar a alta dos usuários no Centro de Atenção Psicossocial. Método: estudo documental com abordagem quantitativa com dados do livro de registro de alta dos usuários, de 2006 a 2016. Foram analisadas as variáveis sexo, motivo de alta e diagnóstico. Resultados: a amostra constituiu 1.772 altas, distribuídas sem grande disparidade entre o sexo feminino (50,9%) e masculino (46,1%). A alta clínica é o motivo prevalente (55,6%) nos 11 anos estudados e entre os três principais diagnósticos: transtorno afetivo bipolar (62,1%), episódios de depressão (59,2%) e esquizofrenia (58,3%). A esquizofrenia foi o diagnóstico prevalente entre os usuários (24,2%), seguida pelo transtorno afetivo bipolar (14,4%) e episódios depressivos (13,6%). Conclusão: o Centro de Atenção Psicossocial apresentou um percentual elevado de altas clínicas, garantindo o retorno dos usuários à vida cotidiana, especialmente entre os sujeitos com transtornos mentais graves e persistentes.
O presente texto tem o objetivo de apresentar uma reflexão sobre os resultados preliminares do estudo etnográfico intitulado La contenzione del paziente psichiatrico: Un’indagine sociologica e giuridica, de autoria dos pesquisadores Mario Cardano, Alessandra Algostino, Marta Caredda, Luigi Gariglio e Cristina Pardini, a partir da entrevista que o pesquisador responsável forneceu ao site italiano Letture.org. Este estudo teve como ponto de partida um conjunto de interrogações que foram contempladas na seguinte questão: Quais aspectos culturais e organizativos dos Serviços Psiquiátricos de Diagnóstico e Cura (SPDC) determinam a utilização da contenção mecânica? Ressalta-se a importância de se refletir sobre o processo histórico do entendimento de transtorno mental e crise, a forma de cuidado, as tradicionais práticas coercitivas, como a contenção mecânica nas regiões do Piemonte e Friuli Venezia Giulia, na Itália, que reforçam modelos similares de outros países, como no Brasil.
Este artigo teve como objetivo discutir a relação das experiências de vida e do trauma com a audição de vozes, e o conteúdo relacionado a ambos. Estudo de caráter qualitativo, realizado com 12 participantes de um Grupo Virtual de Auto Mútua Ajuda no período de setembro a outubro de 2020. Utilizou-se da análise temática de Minayo para a interpretação das entrevistas, que resultou em duas categorias: (a) experiências de vida e traumas relacionados ao fenômeno de ouvir vozes e (b) conteúdo das vozes e sua relação com o trauma. Nesta pesquisa, os participantes relataram diversos eventos/situações de vida que tiveram relação com a sua experiência de audição de vozes, como abuso sexual, mudança de residência, violência institucional, assédio, conflitos familiares, relacionamento abusivo e bullying. Situações de vida traumáticas como as relatadas pelos participantes, as quais são muitas vezes evitadas, reprimidas subjetivamente, tendem a retornar como manifestações do inconsciente, seja nos sonhos, chistes, atos falhos, ou como vozes. Este estudo identificou que as vozes ouvidas pelas/os participantes são reflexo de emoções e sentimentos que ficaram latentes. Desse modo, mostra-se necessário a mudança de perspectiva sobre o condicionamento patológico despendido a essa experiência, de maneira a considerar as situações e traumas vivenciados, e proporcionar um enfrentamento positivo na relação com as vozes. Ressalta-se a carência de estudos que reflitam sobre a necessidade de explorar a história de vida destes ouvidores e as relações do trauma com a experiência de ouvir vozes.
De sintoma à experiência, a significação da audição de vozes vem se transformando ao longo da história. No entanto, ainda hoje, quando o usuário relata ouvir vozes, é aligeiradamente diagnosticado com algum transtorno mental e encaminhado para o tratamento que, em sua maioria, é medicamentoso. Subjetividade, conteúdo das vozes e suas interfaces com aspectos socioculturais não costumam fazer parte da assistência aos ouvidores de vozes. Diante disso, objetivou-se analisar a presença dos valores e estereótipos social e culturalmente estabelecidos para mulheres e homens no conteúdo das vozes de usuárias(os) de um Centro de Atenção Psicossocial II mediante a leitura de 389 prontuários ativos. Os resultados demonstram que os enunciados presentes nos conteúdos das vozes foram influenciados pelos valores e estereótipos sociais e culturais, como as violências, os papéis de homens e mulheres na sociedade e a formação do sujeito feminino a partir da estética do corpo. A incorporação do marcador de gênero em pesquisas sobre os ouvidores de vozes promove uma análise sócio-histórica dessa experiência, ultrapassando as limitações que a psiquiatria a impôs. Além de empoderar os sujeitos, considerar a história de vida das pessoas que ouvem vozes e o que a voz enuncia por intermédio do seu conteúdo permite a criação de estratégias para o desenvolvimento de uma boa convivência com elas, repercutindo na saúde mental e na produção de vida desses sujeitos.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
334 Leonard St
Brooklyn, NY 11211
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.