Homofilia e homossexualidades: recepções culturais e permanênciasHomophily and homosexualities: cultural receptions and continuities ________________________________________________________________________________ Rita de Cássia Colaço RODRIGUES Resumo: Fogem ao objetivo deste trabalho a completa historicização das homossexualidades (gays, lésbicas, travestis, transexuais, intersexuais, HSH, etc.), tomadas enquanto categorias identitárias, e suas distintas representações ao longo do tempo. O propósito é demonstrar que essa conotação identitária, sobretudo de identidade desqualificada, é algo contingencial e histórico, moldado sobre as dificuldades de cada grupo social em lidar com a diferença. Intrinsecamente ligadas à estruturação social global, tanto suas formas de representação, as sanções que lhes foram atribuídas, assim como os modos de suas assimilações são culturalmente variáveis. Palavras-chave: História da homossexualidade; Orientação sexual; Estigmatização. Abstract:The complete historicizatization of homosexualities (gays, lesbians, travesties, transsexuals, intersex, MSM etc.) as identity categories and its different representations over time is not the objective of this work. My objective is to demonstrate that these connotations of identity, in special the disqualified identity, are something contingent and historical, forged under the difficulties of each social group to deal with the difference. Intrinsically linked to the global social organization, both their forms of representation, the sanctions that have been assigned to them, as well as their modes of assimilation can vary culturally.
http://dx.doi.org/10.5007/2175-7976.2016v23n35p90A cidade exibe o resultado dos esforços, mais ou menos rígidos, pouco ou mais frequentes, em conformidade com as conjunturas, tendentes à supressão ou ocultamento de personagens não assimiláveis ao padrão de existência e sociabilidade hegemonizado e incorporado pelos detentores do poder de regulação em cada regime. À parte esses processos, cujas marcas são caracteristicamente as fantasias higienistas e o apego a uma moralidade, via de regra, bifronte, os atores que resistem subalternizados em seus desvãos mostram-se ricos em práticas inventivas, desenvolvendo mecanismos próprios, capazes tanto da conquista de territórios como de constituir redes de articulações impensáveis. Conjugando o método indiciário com a perspectiva da história vista de baixo, este artigo apresenta uma primeira leitura da investigação sobre a presença de sodomitas, bagaxas ou não, travestis, transformistas e homossexuais masculinos na cidade do Rio de Janeiro, do século XIX à década de 1980, a partir dos espaços de sociabilidade e sexo que foram capazes de conquistar. Tais territórios, ademais de provedores de diversão e satisfação sexual, possibilitaram a superação do desenraizamento e da atomização, a formação de redes de apoio e de carreiras profissionais. Coletivizados, tornaram-se capazes de melhor responder à desigual correlação de forças presente na sociedade ampliada, refratária à sua forma de desejo, estilo pessoal e de gênero.
A literatura sobre o Movimento Homossexual Brasileiro (MHB) cristalizou a noção de mito fundador, negligenciando o processo histórico e seu maior desafio – superar a identidade deteriorada, aspectos discutidos em outro artigo (COLAÇO RODRIGUES, 2022). A imprensa artesanal gay não é reconhecida como parte integrante do MHB. Este artigo examina a primeira edição do jornal Baby, várias edições do Gente Gay, Snob e Aliança de Ativistas Homossexuais, o debate sobre essa imprensa no Lampião, publicações gays francesa e estadunidenses e a literatura de referência sobre o tema. Entendendo que a categoria movimento social abarca o conjunto de suas fases, inclusive a embrionária (GOHN, 2008 [1997], p. 259), demonstra-se que esses periódicos não “se limitavam à bem-humorada paródia (…)” (MACRAE, 2018 [1986], p. 165). Eles participaram efetivamente na construção da consciência política e da identidade coletiva dos homossexuais, integrando, portanto, o MHB.
Este artigo revisita a literatura clássica sobre o movimento homossexual brasileiro (MHB). Busca demonstrar como se deu a divulgação e a incorporação do mito fundador e da noção de que a imprensa artesanal anterior ao jornal Lampião da Esquina, à exceção de Snob e Gente Gay, apenas conteria paródias e fofocas. Também discute as dificuldades inerentes à categoria de movimento social. Endereçado a movimentos sociais marcados por dinâmicas de desqualificação – como é o caso das pessoas LGBTI+, negros, povos originários, mulheres e prostitutas –, o artigo propõe uma metodologia que, ademais de processual, contemple o desafio consistente na superação a introjeção da identidade deteriorada. Apoia-se em Maria da Glória Gohn, E. P. Thompson, Peter Burke, Howard Becker, Pierre Bourdieu e Michel de Certeau.
This paper revisits the classic literature on the Brazilian Homosexual Movement (Movimento Homossexual Brasileiro, MHB). It discusses the inherent difficulties of the social movement category and demonstrates how the dissemination and incorporation of the founding myth and the idea that the artisanal gay press, except for Snob and Gente Gay, contained only gossip and parodies. Lastly, it proposes a methodology for examining the constitution of social movements whose actors are marked by disqualification dynamics (LGBTI+ people, blacks, indigenous peoples, women, prostitutes) which, in addition to being procedural, contemplates the consistent challenge in overcoming the introjection of the deteriorated identity. Its theoretical approach is based on Maria da Glória Gohn, E. P. Thompson, Peter Burke, Howard Becker, and Michel de Certeau.
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