A Revista Textos & Debates do Centro de Ciências Humanas da Universidade Federal de Roraima, nessa Edição 26 (2015), abre espaço para publicação de algumas pesquisas que representam o aprofundamento de estudos relacionados com a temática das migrações, fronteiras, grandes projetos, territórios e conflitos na Pan-Amazônia. Nessa perspectiva, acredita-se que os textos publicados nessa edição representam uma forma de dar continuidade ao debate e aprofundamento de temas relevantes para a produção do conhecimento nessa região, marcada pela complexidade de suas fronteiras. O texto Dificuldade de demarcação da Pan-Amazônia e dos territórios indígenas na região, de Paulo Henrique Faria Nunes, analisa dois problemas relacionados à cooperação amazônica: a delimitação da área de aplicação do Tratado de Cooperação Amazônica - TCA, conhecida como Amazônia pactual ou Pan-amazônia e a demarcação de terras indígenas. Segundo o autor parece não haver um diálogo que possibilite a adoção de critérios harmônicos na definição das áreas nacionais e, no tocante às terras indígenas, percebe-se que as diferenças e a ineficiência na condução das políticas nacionais têm aberto o caminho para que as terras indígenas e o conhecimento tradicional se tornem possíveis instrumentos de ingerência estrangeira na Amazônia. Dando continuidade ao debate da Pan-Amazônia, o texto IIRSA – Possibilidades e Desafios: Eixo Peru-Brasil-Bolívia, de autoria de Suely Aparecida de Lima e Maria de Jesus Morais, avalia as relações do Brasil com o Peru e a Bolívia baseadas na Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana - IIRSA, a partir de sua incorporação pela UNASUL, em 2008. As autoras aprofundam as formulações da política externa brasileira e o projeto geopolítico dispensado à América do Sul e os benefícios resultantes do processo de integração regional Sul-americano promovido pelo Brasil. Entretanto, alertam que os ganhos comerciais não refletem em ganhos sociais no tocante às populações das localidades atingidas, podendo resultar em conflitos nas fronteiras. Outras modalidades de conflitos são abordados no texto Antigas e novas dinâmicas de poder e território no Médio Purus/AM, de Willas Dias da Costa e Thereza Cristina Cardoso Menezes, que apresentam um quadro complexo de conflitos socioambientais no sul do Estado do Amazonas envolvendo patrões, lideranças das associações de agricultores e das etnias indígenas com os agentes do Estado. A temática dos conflitos é retomada também no texto Tríplice fronteira Brasil, Peru e Colômbia e as implicações com o narcotráfico, de Luiz Felipe de Vasconcelos Dias Balieiro e Izaura Rodrigues Nascimento. Os/as autores/as observam as caracerísticas do narcotráfico na tríplice fronteira amazônica, seu processo de formação histórica, a dinâmica da atividade cocaleira e do narcotráfico nos países vizinhos e suas implicações nas relações transfronteiriças. O texto de Alan Robson Alexandrino Ramos, A prisão para efetivação da deportação no Brasil: inconsistências com as normas da convenção americana de direitos humanos, aborda o instituto jurídico da deportação no Brasil, com análise da medida de prisão administrativa para efetivação da deportação de estrangeiros no Brasil em confronto com as normas da Convenção Americana de Direitos Humanos. Adentrando as fronteiras da Amazônia Brasileira, Débora Assumpção e Lima, tendo por base a formação do estado do Tocantins, apresenta a hinterlândia, como uma releitura do sertão, não apenas como um lugar, mas uma condição atribuída a variados lugares. Segundo a autora, a hinterlândia pode ser também um símbolo imposto, uma realidade simbólica onde o sertão não pode ser mensurável, já que a fronteira é movimento. Nessa perspectiva, o “fim do atraso” do sertão seria a maneira de se reconfigurá-lo, produzindo-o a partir do mesmo modo de circulação, de trabalho e de signos em suas diversas temporalidades, criadas pelos diversos atores e suas complexidades históricas, velocidades, conflitos e intencionalidades que formam um território integrado ao sistema do capital, mesmo que localizado na margem. Por fim, e não menos importante, Gil Almeida Felix, em seu texto Trabalho e mobilidade: trajetórias sociais de trabalhadores em Ourilândia do Norte/PA, aborda a questão da expansão das atividades industriais de mineração dirigidas pelo grande capital, em especial, pela empresa Vale e associadas, que tem sido anunciada como promotora do “desenvolvimento” local no Pará. Entretanto, o autor afirma que tal expansão se dá através da atração de enormes contingentes de trabalhadores que antes circulavam em atividades da rede de produção agropecuária e que, em sua maioria, encontram trabalho apenas no período de implantação das unidades industriais. O autor analisa determinadas características de processos de proletarização em uma área de expansão da indústria da mineração e apresenta os desafios metodológicos que tal contingente de trabalhadores representa para a pesquisa sócio-antropológica, em especial, para a devida compreensão das suas trajetórias sociais e das atuais formas de acumulação de capital. Fica claro, assim, que a edição número 26 da Revista Textos & Debates nos apresenta importantes contribuições para ampliar o conhecimento acerca da região Amazônica. Agradecemos a contribuição de todos/as os/as pesquisadores/as que tornaram possível essa edição contribuindo para o debate e o aprofundamento das temáticas ora apresentadas.
Após 13 anos da Revista Textos & Debates ter sido lançada na UFRR eis que apresentamos ao público o primeiro número temático: o Dossiê Guianas. Estando a UFRR localizada em um estado que faz fronteira com dois países, Venezuela e República Cooperativista da Guiana, torna-se importante que o Centro de Ciências Humanas (CCH) e a revista publicada por esse Centro tenham uma preocupação com essa realidade e incentivem as pesquisas e publicações sobre esses países e suas relações. Com esse intuito foi lançada a idéia de dossiês temáticos, sendo este o primeiro de uma série que, esperamos, se consolide como espaço de divulgação dos conhecimentos sobre a região. Este número, especificamente, foi discutido a partir do Termo de Cooperação Técnica que estabeleceu parceria entre a Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG) e a UFRR com vistas a criar, no Núcleo Amazônico de Pesquisa em Relações Internacionais (NAPRI) da UFRR, o Centro de Estudos Brasil-Guiana (CEBRAG) para incentivar o desenvolvimento e elaboração de pesquisas sobre temas direcionados às relações internacionais, política comparada e à história comparada dos dois países. É importante destacar que as relações Brasil-Guiana representam matéria pouco abordada na literatura cientifica e política de língua portuguesa, tornando a história e o cotidiano guianense algo desconhecido para os brasileiros. Este desconhecimento tem resultado em posturas preconceituosas dos brasileiros em relação aos guianenses e vice-versa. Posturas que serão transcendidas pelo conhecimento resultante de estudos comprometidos com a ética e a ciência, as quais foram reconhecidas na UFRR, instituição que poderá contribuir com análises científicas e informações importantes para esclarecer elementos daquela relação e contribuir com a formulação da Política Exterior do Brasil. Com essa compreensão, além do Núcleo Amazônico de Pesquisa em Relações Internacionais – NAPRI, foi criada uma linha editorial junto à Editora da UFRR, a Coleção Temas Contemporâneos, que atende, igualmente, um conjunto de obrigações dispostas no termo de cooperação técnica entre a FUNAG e a UFRR: consoante o termo, a FUNAG se compromete a doar livros com acento na Diplomacia e Política Exterior do Brasil à UFRR, de autores brasileiros, guianeses e de outras nacionalidades, compreendendo diversas áreas do conhecimento como: Ciência Política, Direito, Economia, História e Relações Internacionais; premiar professores com notório conhecimento nas relações Brasil-Guiana, os quais poderão realizar estudos in loco nesse país, além de financiamento para o desenvolvimento de pesquisas, com repasse anual de até R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais). A linha editorial permitirá a publicação dos trabalhos acerca das relações Brasil-Guiana, apesar de não se limitar a elas. A Coleção Temas Contemporâneos propõem contemplar assuntos que tratem de problemas situados nos séculos XX e XXI nas mais diversas áreas das Ciências Humanas sobre um mundo dinâmico e com fronteiras flexíveis, desde que tenham rigor metodológico e abordem assuntos internacionais. O Núcleo Amazônico de Pesquisa em Relações Internacionais – NAPRI – surge para abrigar o Centro de Estudos Brasil-Guiana – CEBRAG – e poiar projetos relativos à pesquisa no campo de estudo próprio das Ciências Humanas. O NAPRI conta com cinco linhas de pesquisa para lograr seu objetivo e três categorias de pesquisadores: o Pesquisador-adjunto – professores e pesquisadores da UFRR –, Pesquisador-associado – pesquisadores e professores de outras Instituições – e Pesquisador-colaborador – bolsistas, alunos de graduação e de pós-graduação. As linhas de pesquisa são: a) Política Internacional e Comparada; b) História das Relações Internacionais; c) Globalização, Regionalismo e o Contexto Amazônico; d) Migração, Cultura e Identidade; e) Ordenamento Territorial, Desenvolvimento Urbano e Representações. A primeira linha, Política Internacional e Comparada, procura compreender a fenomenologia das relações internacionais com análises da política mundial e do comportamento estatal em perspectiva comparada. História das Relações Internacionais tem por objetivo a leitura das relações internacionais a partir de uma perspectiva histórica. Globalização, Regionalismo e o Contexto Amazônico considera como objeto de estudo os impactos dos processos globais, em especial os político-econômicos, nas diferentes regiões do mundo com foco especial à região amazônica da América do Sul. Migração, Cultura e Identidade apresenta duas abordagens complementares relativas aos processos sociais e aos processos simbólicos dos movimentos migratórios. Ordenamento Territorial, Desenvolvimento Urbano e Representações procura compreender a interação de aspectos econômicos, políticos e sociais nos planos internacional, nacional e regional através da urbanização. Imbuídos desse espírito de construção e pesquisa, a Revista Texto & Debates, junto com o NAPRI, concordaram na edição do Dossiê Guianas, o qual apresenta estudos e reflexões de estudiosos da UFRR e de outras Instituições sobre o tema. Os artigos contidos na revista apresentam os mais variados vértices de análises dentro do campo das Ciências Humanas e enriquecem a literatura especializada em língua portuguesa sobre as Guianas. Provavelmente pela especificidade de fronteira com Roraima, a grande maioria dos textos recebidos são referentes a República Cooperativista da Guiana, sendo que dois abordam o Suriname. Recebemos textos de pesquisadores da UFRR e de outras instituições, ampliando a área de atuação da Revista e cumprindo com seus objetivos de travar uma discussão interdisciplinar. Sobre o Suriname temos o texto de autoria de João Nackle Urt: “Relações Brasil-Suriname: construção de confiança no contexto da guerra fria (1975-1985)”, que trata da evolução dessas relações a partir de 1975, quando foi possível observar manifestações da identidade internacional Surinamesa, bem como a atuação do Brasil nesse processo. O segundo texto sobre esse país é de Carlos Federico Domínguez Ávila, que trata dessas relações no governo de Kraag, enfocando a participação de nosso país na democratização do Suriname dentro do contexto da geopolítica e dos interesses na região. Os demais textos apresentam várias discussões sobre a República Cooperativista da Guiana em diferentes enfoques. Assim, o professor José Teixeira Félix traz uma abordagem sobre a literatura guianense, ainda pouco conhecida deste lado da fronteira em “Aspectos da literatura guianense: por uma poética da aproximação internacional”, ampliando a discussão para outros aspectos, incluindo o caráter geopolítico. Ainda nesse campo, a professora Carine do Nascimento Pimentel, em “Roraima Interligando Nações: Brasil e Guiana”, aborda questões relacionadas ao ensino da língua inglesa relacionando-a com a situação de fronteira com um país de língua inglesa e os “mitos existentes sobre a língua inglesa da Guiana”. O artigo dos professores Reginaldo Gomes de Oliveira e Maria das Graças Santos Dias Magalhães, “Questão do Pirara: Roraima”, aborda uma temática ainda pouco explorada mas importante para compreensão das relações entre Brasil-Guiana. O texto faz referência ao Pirara, rio da Guiana, e denominou “o processo da disputa de terras e da proposta de definição da fronteira entre Brasil e ex-Guiana Britânica”. Ainda nessa abordagem histórica de momentos significativos da história da Guiana e suas relações com o Brasil, a professora Mariana Cunha Pereira enfoca a Revolta do Rupununi, conflito armado cujo cenário foi à fronteira Guiana - Brasil em 1969, a partir das “narrativas e oralidade de alguns sujeitos sociais” envolvidos nesse cenário político. Alguns desses sujeitos sociais também são enfocados no texto “Ponte da exclusão: Brasil, Guiana e a perversa lógica da globalização” quando os autores, Linoberg Barbosa Almeida e Édio Batista Barbosa relacionam os problemas enfrentados pelos migrantes guianenses à luz de questões mais amplas como globalização, imperialismo, identidade e fronteira. Ainda nesse enfoque de períodos mais recentes o professor Reginaldo Gomes de Oliveira apresenta uma abordagem sobre um bairro de Georgetown, Bourda, que o autor chama de “Little Brazil” devido a concentração de brasileiros nesse espaço e às relações sócio-culturais que se estabelecem e permitem situações de conflitos e de interação. Por fim, temos o texto do professor Felipe Kern Moreira, sobre a tutela da floresta de Iwokrama na República da Guiana. O autor busca, à luz dos discursos teóricos em Relações Internacionais, compreender o fato de que um grupo de investidores, no primeiro semestre de 2008, reunido sob a personalidade jurídica da empresa Canopy Capital, negocia diretamente com a República da Guiana para assumir a tutela e o manejo ambiental da Floresta de Iwokrama. Esperamos estar contribuindo para ampliar a divulgação de conhecimentos sobre essa região, ainda tão pouco explorada, pois temos clareza de que esse é o caminho para a extinção de todas as formas de preconceito e de estabelecimento de relações solidárias entre esses países.
Contribuindo para divulgar a produção de conhecimento a Revista Textos & Debates compartilha mais uma edição com cinco artigos e uma resenha, apresentando trabalhos na grande área das Ciências Humanas. Da Antropologia ao Direito, passando pela Educação, Economia e História, os textos corroboram com a ideia norteadora da Revista em constituir-se como um espaço de apresentação, análise e debate das diferentes maneiras de compreender a realidade social. Realidade esta apresentada e refletida no artigo Portugal em África: o governo do Comissário- Régio Mousinho de Albuquerque em Moçambique e seu discurso colonial (1896 – 1898), de Thiago Henrique Sampaio, que aborda a crise vivenciada por Portugal no final do século XIX e a busca de alternativas por parte dos então governadores-gerais para essas colônias africanas, sintetizando , para o caso de Mousinho de Albuquerque seu caráter “conservador e civilizador”. Relacionada a economia solidária, apresentamos o artigo de Isadora Souza Lopes, Márcia Conceição Tomas, Geraldino Carneiro de Araújo e Maria Cardoso de Oliveira: Avaliação sob a perspectiva de seus stakeholders: um estudo de caso em uma cooperativa de reciclagem. A análise é feita a partir da realidade de uma cooperativa de reciclagem em Mato Grosso do Sul. Em que pesem as dificuldades de tal empreendimento, e o papel do poder público, os autores avaliam como positiva a experiência. No texto Diálogo noite adentro: a Antropologia e o Direito a partir da situação de contato, Denison Rafael Pereira da Silva, Edio Batista Barbosa e Francisco Alves Gomes, apresentam uma interface entre a Antropologia e o Direito na produção de laudos periciais antropológicos em situação de contato. Trata-se de um trabalho inicial que visa incentivar o debate entre essas áreas em que as situações de contato têm sido permeadas por conflitos. O texto seguinte, Greve nas universidades federais em 2012, de André Felipe Vieira Colares e Roney Versiani Sindeaux, aborda, com base na documentação do ANDES e do Governo, as principais reivindicações do movimento grevista e as conquistas alcançadas, refletindo sobre a posição do Governo Federal frente à educação superior. Por fim, temos o artigo de João Carlos Jarochinski Silva, O materialismo-histórico dentro da obra Evolução Política do Brasil de Caio Prado Júnior. Neste ensaio o autor apresenta uma reflexão sobre a obra citada como sendo o “primeiro esforço” para uma análise marxista da história brasileira. A Revista Textos & Debates estimula a produção e resenhas que apresentem ao público as novas produções na grande área das Ciências Humanas. Assim, Jordana de Souza Cavalcante traz ao público a resenha do livro de Edson Damas da Silveira, intitulado Meio ambiente, terras indígenas e defesa nacional: direitos fundamentais em tensão nas fronteiras da Amazônia Brasileira. Publicado em 2010, o livro tem como “objeto de estudo o Parque Nacional do Monte Roraima na Terra indígena Raposa Serra do Sol e dentro da faixa de fronteira da Amazônia Brasileira” e contribui para a discussão sobre a demarcação/homologação de áreas indígenas e a questão dos parques nacionais. Para a publicação de qualquer periódico faz-se necessário o envolvimento de muitas pessoas. Assim, agradecemos os autores que enviaram seus trabalhos, aos pareceristas e ao Conselho Editorial da Revista e ao leitor, sem o qual não faria sentido a produção. Continuamos convidados a todos a enviarem seus trabalhos para apreciação.
A revista Textos & Debates passou por sucessivos aprimoramentos nesses últimos anos. A partir deste décimo oitavo volume, a revista passa a ser publicada em formato eletrônico, o que garante um acesso mais amplo por parte dos leitores. A plataforma digital de publicação também tende a facilitar a periodicidade e o acesso às edições anteriores. O ingresso neste domínio digital não é a única boa novidade no âmbito do exercício da pesquisa no Centro de Ciências Humanas da Universidade Federal de Roraima. O aguardado Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Sociedade e Fronteiras – PPGSOF, inaugura nova fase na história das ciências humanas e sociais na UFRR. Isto devido à intensificação das atividades de pesquisa pelo programa interdisciplinar de Mestrado em “Sociedade e Fronteiras”. Com isto, o Centro de Ciências Humanas termina por concluir um ciclo de consolidação da tríade humboldtiana, das graduações, da extensão e da pesquisa. A prática das universidades demonstra que a consolidação de programa de pós-graduação articulado com periódico indexado são indícios de maturidade institucional e acadêmica. A apreciação dos artigos reunidos neste número dezoito permite atestar a envergadura que a Textos & Debates conquistou com o tempo. Tratam-se de contribuições escritas por pesquisadores qualificados, nas áreas de política internacional, antropologia, ciência política, história, geografia. Os temas tratados nesse conjunto perpassam diferentes planos societários: das políticas hegemônicas da superpotência norte-americana à agência das mulheres da etnia macuxi, do alcance internacional de plataformas de partido político brasileiro aos movimentos sociais do campesinato roraimense, das dinâmicas da política interna venezuelana às linhas migratórias nos baixos do Rio Branco, da regionalidade das implicações ecológicas da ocupação humana na Amazônia à municipalidade do comprometimentos das fontes hídricas em Boa Vista. E, somos ainda brindados com instigante resenha crítica escrita por Jaci Guilherme Vieira - este já um pesquisador sênior da casa - que mantém viva uma das características mais caras à ciência contemporânea: a revisão colaborativa pelos pares. A revista Textos & Debates é um esforço coletivo no qual participam pareceristas, secretaria administrativa, editores, editora universitária, cientistas contribuintes e, é claro, os leitores. Não é possível chegar - e consistir - neste resultado sem o efetivo comprometimento com a ciência e sem altruísmo que possa sustentar os exigentes expedientes de um periódico indexado. Faz-se isto porque é necessário inteirar processos da universidade brasileira. É pouco para a universidade somente transmitir conhecimentos sistematizados, quanto mais ainda para tão poucas pessoas, já que o acesso ao ensino superior ainda é restrito. Tanto mais conhecimentos que garantam o status quo de modelos societários que desfavorecem nosso povo, desfavorecem a Amazônia. É pouco porque podemos muito mais. Podemos formular conhecimentos, ensinar a formulá-los e então entornar, espraiar estes conteúdos. É o que a Textos & Debates faz, e isso desacoberta a sanha, a verve da irredutibilidade em concretizar plenamente o sonho de fazer a universidade acontecer em Roraima. Fica aqui o agradecimento especial ao professor Msc. Rodrigo Chagas que prestou colaboração decisiva para o novo formato editorial da Revista. Desejo a vocês, leitores e colegas, uma excelente leitura.
O presente dossiê, o segundo publicado pela revista Textos & Debates, representa uma coletânea de temas debatidos no II Seminário Internacional Sociedade e Fronteiras (SISOF), realizado no âmbito do Programa de Pós-Graduação Sociedade e Fronteiras (PPGSOF), da Universidade Federal de Roraima (UFRR), juntamente com o 4° Encontro da Região Norte da Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS), e a II Semana de Humanidades (CCH/UFRR), transcorridos no período de 11 a 14 de novembro de 2014. O evento contou com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), através do Programa de Apoio a Eventos no País (PAEP) e teve como objetivo corroborar para a finalidade primeira de um programa de pós-graduação, qual seja, a permanente formação de recursos humanos e, ao mesmo tempo, contribuir, por meio da produção e socialização do conhecimento, para os processos de desenvolvimento da Região Amazônica. Desta perspectiva resultou como tema: Fronteiras Contemporâneas: desenvolvimento, conflitos e sociabilidades nas Amazônias, aglutinando o debate em torno de categorias complexas como desenvolvimento e fronteiras requerendo, necessariamente, um debate interdisciplinar. Participaram desse debate professores, pesquisadores, estudantes de programas de pós-graduação de várias regiões do Brasil e de outros países. Na ocasião, foram expostos trabalhos de altíssimo nível resultantes de pesquisas completas ou em andamento nas diversas áreas de conhecimento em nível de graduação, mestrado, doutorado, além de excelentes relatórios de estágios pós-doutorais. No presente dossiê reunimos alguns desses trabalhos completos para uma publicação específica. Os demais textos, não menos importantes, serão publicados nos ANAIS do evento, disponível no site www.ufrr.br/ppgsof. Desta forma, este Dossiê Sociedade e Fronteiras com a temática Fronteiras Contemporâneas: desenvolvimento, conflitos e sociabilidades nas Amazônias, tem como objetivo socializar parte da produção cientifica acadêmica apresentada e debatida por professores, pesquisadores e estudantes de pós-graduação no II Seminário Internacional e, assim, difundir no âmbito institucional e nas sociedades regional, nacional e global as pesquisas e estudos sobre as Amazônias. Portanto, este II Dossiê cumpre com o papel de corroborar para a consolidação do Programa de Pós-graduação Sociedade e Fronteiras (PPGSOF) como um importante espaço de produção e difusão do conhecimento sobre as Amazônias. Entre os temas relevantes para se pensar e entender a Amazônia encontra-se o debate sobre o Pensamento Social Brasileiro na Amazônia, que abre este dossiê com o ensaio de Ernesto Renan Melo de Freitas, brilhantemente apresentado e defendido em mesa-redonda do mesmo tema. Nesse ensaio de abertura o autor nos convida a empreender um trabalho de investigação capaz de desvelar no campo fértil do senso comum e das concepções primordiais e ordinárias, os germes e as raízes das ideias que vão dar forma ao pensamento que um povo constrói sobre si mesmo tendo como ponto de partida a Amazônia, e sua contribuição à formação do Pensamento Social. O segundo texto, de autoria de Nelson Matos de Noronha, intitulado Encontros e desencontros das Ciências Humanas e da Filosofia, destaca os problemas, os desafios e as relações que as Ciências Humanas e a Filosofia ensejam na configuração do saber contemporâneo. O referido autor faz este debate mediante referências às obras de Merleau-Ponty, Lévi-Strauss e Foucault, como herdeiros e críticos de Kant. Para encerrar este primeiro bloco, temos o texto Leandro Tocantins e a Amazonotropicologia, de Odenei de Souza Ribeiro, que nos instiga a revisitar a obra de Leandro Tocantins na perspectiva da amazonotropicologia, como caminho e possibilidade de interpretação de nossas origens amazônidas. A intenção de Tocantins, segundo Odenei Ribeiro, é interpretar a Amazônia através do critério não só regional e ecológico como também transregional. Assim, o texto aponta a percepção de Tocantins sobre a vida na Amazônia, que exige dos campos de conhecimento, pesquisas, estudos, experimentos dentro de critérios socioecológicos e antropológicos, baseado na organização social e no meio físico tropical. A grande contribuição deste texto é recordar que a realidade socioecológica da Amazônia requer a construção de um novo campo do saber que não é tarefa de um homem isolado, tampouco de uma área específica do conhecimento. O segundo bloco de textos que se segue aborda os diversos aspectos e concepções de fronteiras. Os textos permitem que percebamos com clareza que o conceito de fronteira ultrapassa os traços cartográficos dos Estados Nacionais, uma vez que as fronteiras podem ser soerguidas em função da diversidade de línguas, de etnias, de imaginários coletivos. O texto do professor doutor Mario Valero Martínez, da Universidad de los Andes, na Venezuela, intitulado Fronteras, Territorio e Identidades apresenta uma síntese da inter-relação entre fronteiras, território e identidade, nas relações transfronteiriças entre a Venezuela e a Colômbia, ampliando a ideia da Pan-Amazônia. Existem mesmo territórios que não compartilham a floresta tropical amazônica, como é o caso das savanas, dos cerrados, das bordas litorâneas caribenhas, mas que são compreendidos dentro das fronteiras simbólicas amazônicas em virtude de traços identitários comuns. Assim, o texto intitulado A construção de uma cultura de fronteira no espaço transfronteiriço do Brasil e da Guiana, de autoria de Antônio Vaz de Meneses e Francilene dos Santos Rodrigues, aborda as dinâmicas das trocas culturais entre os habitantes da cidade brasileira de Bonfim e da cidade de Lethem, pertencente à República da Guiana. Os autores compreendem essa transfronteira como um espaço de múltiplas culturas e, consequentemente, lugar de contatos, trocas, negociações e ressignificação de elementos culturais. Para as populações desse espaço transfronteiriço as noções de espaço e nacionalidade muitas vezes são tão abstratas quanto a ideia da existência de uma linha demarcatória que os separa do outro país. Sendo assim, os autores trabalham com noção de fronteira não como algo que divide, mas em sua dimensão de lugar de trânsito, de passagem, de comunicação, enfim de práticas transfronteiriças que implicam empréstimos culturais e trocas simbólicas. Seguindo a abordagem das cidades como lugares de memória e de pertencimento, temos o texto intitulado Paranã (TO): uma cidade fronteira nos caminhos fluviais do cerrado, de autoria de Maria de Fátima Oliveira. Trata-se de um estudo no qual a autora amplia o conceito de fronteiras tendo como base a experiência dos moradores da cidade de Paranã (antiga São João da Palma), município brasileiro do Estado do Tocantins, localizada às margens dos rios Palma e Paranã, dois importantes afluentes do rio Tocantins. Sua história está intimamente ligada aos rios que se apresentam como meio de comunicação de fundamental importância e representam as fronteiras interligadas e interconectadas. No texto intitulado Globalización, territorio e identidad desde una perspectiva de los pueblos indígenas as autoras, Alina Maria Celarié Iglesias e Carla Monteiro de Souza, abordam a identidade dos povos indígenas a partir da compreensão do território enquanto constructo social e cultural. O estudo se baseia numa revisão geral dos conceitos de globalização, território e identidade predominantes na visão analítica e histórica das lutas e conquistas dos povos indígenas em suas novas formas de reafirmação de direitos étnicos e territoriais. Na sequência dos trabalhos encontra-se o texto Religiosidade muçulmana, história e alteridade: dinâmicas identitárias na fronteira Brasil-Venezuela, de Jakson Hansen Marques. Como profundo conhecedor da temática, o autor discorre sobre o islamismo ressaltando que essa religiosidade se relaciona com questões como identidade e etnicidade, especificamente com imigrantes árabes muçulmanos e seus descendentes que resi dem em Santa Elena de Uairen, município de Gran Sabana, Venezuela, na fronteira com o Brasil e o Estado de Roraima. Para esse autor é importante estudar as famílias ou indivíduos muçulmanos que migraram de seus países para a América Latina, e especificamente indivíduos que hoje moram em região de fronteira, num contexto onde se apresenta uma intensa dinamicidade de produção de identidades e diferenças, e que tem na sua formação religiosa o seu discurso identitário. Por fim, a religião mulçumana se apresenta como um componente de referência para o sentimento de pertença na Pan-Amazônia. No terceiro bloco reunimos os textos referentes aos estudos e pesquisas sobre mobilidade humana na Pan-Amazônia. A pesquisadora Márcia Maria de Oliveira abre essa sessão com o texto sobre os Desafios e perspectivas da mobilidade humana na Amazônia contemporânea. A autora aborda, de forma breve, as principais dinâmicas migratórias observadas na Amazônia na última década e a sua importância para a compreensão dos processos de mudanças sociais, políticas, econômicas e culturais da região. Tais mudanças se fazem notar em todos os setores da sociedade a ponto de ser quase impossível pensar a Amazônia sem levar em consideração as migrações internas e internacionais que conferem à região uma mobilidade humana intensa. O texto intitulado Nos caminhos da experiência intercultural: um estudo sobre a mobilidade estudantil internacional, de Luciana de Oliveira Dias e Deyvid Santos Morais, apresenta alguns recortes de uma pesquisa realizada com estudantes de graduação retornados de mobilidade estudantil internacional. Os autores buscam compreender em que medida esses programas refletem nas bases de significação de uma vivência intercultural dos estudantes mobilizados. A partir do diálogo com as diferenças e as inter-relações estabelecidas nos países de destino com alunos de outras instituições de ensino superior e o distanciamento das relações familiares, os estudantes apontam a experiência como uma ampliação da visão de mundo, de amadurecimento, autonomia e construção de identidades. A mobilidade gera ainda uma nova forma de migração, uma vez que esses estudantes se inserem nas comunidades como estrangeiros, sendo um forte instrumento de cooperação e, cada vez mais, de investimento dos países ricos, agindo como uma oportunidade de ampliação de redes nas regiões que se inserem de forma periférica nesse processo. Dando continuidade aos novos estudos migratórios na Amazônia, o texto de Marcel Hazeu, Barcarena: trabalho e mobilidade numa fronteira amazônica globalizada, afirma que a globalização da fronteira tem levado a transformações sociais em municípios amazônicos que passaram por processos de industrialização e exportação. As transformações sociais no município de Barcarena são discutidas no contexto de quatro sistemas migratórios identificados: as desapropriações e permanentes deslocamentos forçados; a precarização e mobilidade do trabalho; o transporte rodoviário e fluvial de mercadorias; a metropolização e movimentos pendulares. Na última sessão estão dispostos três estudos que ampliam as fronteiras amazônicas a outros horizontes. O primeiro texto, A internacionalização da Amazônia: agentes e perspectivas, de Paulo Henrique Faria Nunes, avalia as ações cooperativas dos países amazônicos e os projetos concebidos por agentes governamentais e não governamentais de outras regiões na perspectiva da internacionalização, e os agentes a elas relacionados. O segundo texto, de Carmentilla Martins, discute a temática da Cooperação internacional em território fronteiriço: novas sociabilidades e novos controles. As inovações territoriais ligadas ao que se denomina de triunfo da democracia de mercado são debatidas pela autora que aborda também as formas de sociabilidade, a partir dos resultados de uma pesquisa realizada na fronteira Oiapoque-Guiana Francesa sobre interações e conflitos no quadro da cooperação fronteiriça França-Brasil. O último texto dessa sessão, Saber e habitus profissional do ex-agente de segurança penitenciária de São Paulo, de Marisol de Paula Reis Brandt, trata da formação socioprofissional dos agentes de segurança penitenciária de São Paulo. Partindo das narrativas de ex-agentes penitenciários presos pelo crime de corrupção, a autora procura compreender os fatores que os levaram à escolha da profissão de agente de segurança penitenciária até a ruptura do exercício profissional pela via da corrupção, analisando as representações sociais no intuito de entender o modo como os sujeitos percebem a sua realidade social, e como atribuem significados às suas condutas sociais. Com esta coletânea de textos pretende-se ampliar e consolidar reflexões sobre fronteiras, sociedades de fronteiras da Região Amazônica, desenvolvimento, conflitos e sociabilidades. Essa publicação é uma forma de difundir, no âmbito institucional e nas sociedades regional, nacional e global as pesquisas e estudos sobre as complexidades das problemáticas amazônicas, contribuindo para aprimorar e fortalecer a produção do conhecimento na e sobre a Amazônia nos seus mais diversos níveis de formação.
Este número é dedicado à memória do artista plástico roraimense Luís Canará, falecido em setembro de 1996.
É com imensa satisfação que apresentamos mais um número da Revista Textos & Debates, o de número 8, com a certeza de que o compromisso de estimular a produção acadêmica e garantir à toda a comunidade universitária um espaço adequado para o debate encontra sua expressão nesta revista. O presente volume está composto de artigos com assuntos diversos, abrangendo temas relacionados à região amazônica, a questão política e movimentos sociais de grupos indígenas, MST, questões de gênero, entre outros. A revista conta com autores de lugares e filiações acadêmicas diversas. Lembrando, ainda, que este é o primeiro número dentro da proposta de periódico acadêmico semestral, lhes desejo uma boa leitura.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
334 Leonard St
Brooklyn, NY 11211
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.