Pessoas com transtorno do espectro autista (TEA), segundo Dias et al. (2009), dificilmente conseguem estabelecer uma conversação com pretensões de interação social porque, em geral, os diálogos fogem dos padrões esperados, principalmente porque eles não costumam compreender as intenções do interlocutor. Nesse sentido, considera-se que a fala, além dos elementos físicos, carrega as intenções do falante, pois ela não tem somente o objetivo de comunicar, mas também o de influenciar, convencer e despertar emoções. Elas são emitidas por meio da entonação, do tom e do volume da voz, que são aspectos prosódicos, características naturais do falante e fundamentais para a compreensão da fala (LOPES; LIMA, 2009). Desse modo, temos como hipótese: considerando que estudos de parâmetros acústicos são importantes na investigação de aspectos prosódicos, acreditamos que eventuais alterações na produção dos segmentos vocálicos – como não demarcação de acento – poderão servir como pistas sobre a suposta anormalidade prosódica na fala autista. Partindo dessa hipótese, o objetivo geral desta pesquisa é comparar as vogais orais produzidas por pessoas com autismo em relação àquelas produzidas por pessoas sem o transtorno por meio de análise acústica para evidenciar, ou não, deficiência na marcação de aspectos prosódicos por parte de pessoas autistas. Para alcançar esse objetivo, comparamos resultados de parâmetros acústicos – padrão formântico, duração relativa e frequência fundamental – nas realizações vocálicas de sujeitos com e sem autismo. Para este estudo, selecionamos seis crianças do sexo masculino de nove anos de idade, todos leitores e moradores de Vitória da Conquista, BA, sendo três delas com autismo de grau leve e três em desenvolvimento típico. Os dados, resultantes da leitura de palavras paroxítonas com as vogais orais em diferentes posições silábicas, foram coletados em cabine acústica do Laboratório de Pesquisa e Estudos em Fonética e Fonologia (LAPEFF-UESB) e submetidos à análise acústica no software PRAAT (BOERSMA; WEENINK, 2006). Posteriormente, utilizamos alguns parâmetros estatísticos na análise dos dados que nos auxiliaram a discutir, com maior precisão, os resultados que obtivemos na análise acústica, como Coeficiente de Variação (CV) que nos permitiu verificar se as particularidades articulatórias dos sujeitos com autismo acarretam maior ou menor variabilidade de produção das vogais orais se comparada com as dos sujeitos sem o transtorno. Além desse, foi utilizado o teste estatístico de comparação de médias, o teste não paramétrico Kruskal-Wallis (AYRES et al., 2014). Por meio dele, conferimos se as médias dos parâmetros acústicos analisados nas realizações vocálicas eram significativamente diferentes nos diversos tipos silábicos, bem como avaliamos se essas médias obtidas pelos sujeitos com autismo eram significativamente diferentes daquelas produzidas por sujeito sem autismo. Todos os testes estatísticos usados na pesquisa foram executados por meio do programa BioEstat 5.0 (AYRES et al., 2014). Os resultados mostraram que os dados dos parâmetros acústicos – padrão formântico, duração e frequência fundamental – obtidos para os sujeitos com autismo são condizentes com a literatura, isto é, a amostra dos sujeitos autistas investigados não apresentou diferença de produção vocálica e anormalidades no nível prosódico avaliado. Concluímos que os sujeitos autistas não apresentam diferenças quanto a esses aspectos quando comparados aos sujeitos neurotípicos. Os resultados vão de encontro às dificuldades de demarcação prosódica na fala autista apontadas na literatura. Em contrapartida, alguns comportamentos acústicos dos sujeitos autistas, encontrados na análise dos dados, nos permite sugerir a necessidade de novos estudos com uma amostra maior de participantes a fim de investigar com mais precisão os resultados encontrados nesta pesquisa, bem como – considerando a escassez de trabalhos sobre o tema abordado – a necessidade de que a linguagem de pessoas com autismo seja alvo de investigação linguística.
Esforços têm sido lançados para compreender eventuais alterações prosódicas na fala de sujeitos autistas. Desse modo, este estudo tem por objetivo analisar a duração relativa de vogais produzidas por sujeitos com e sem autismo. O intuito é evidenciar eventuais dificuldades na demarcação de acento entre os sujeitos com autismo. Para a investigação, foram selecionados 06 (seis) sujeitos do sexo masculino, 03 (três) com autismo e 03 (três) com desenvolvimento típico. Os participantes, todos leitores, são naturais de Vitória da Conquista, BA. Para análise, foi montado um corpus de palavras com as vogais do português brasileiro em diferentes posições silábicas. As palavras foram inseridas em frases do tipo “ Digo______baixinho.” e apresentadas em slides do Power Point aos sujeitos para serem lidas e gravadas em cabine acústica. A análise dos dados foi realizada no software PRAAT, através do qual foi mensurada a duração relativa de cada vogal. Posteriormente, utilizamos o parâmetro estatístico do Coeficiente de Variação e o teste não paramétrico Kruskal-Wallis para ampliar a discussão dos dados. Os resultados mostraram que os sujeitos com autismo apresentam alterações na demarcação de acento, o que pode ser indício de alterações prosódicas na fala na população autista.
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