Este artigo procura ensaiar a hipótese de a autoria de Margot Dias (1908-2001, etnóloga autodidata e precursora, em Portugal, do uso do filme etnográfico na investigação antropológica, ser de maior dimensão do que tem vindo a ser reconhecida. Ao ser trazida à luz pelos trabalhos da antropóloga e cineasta Catarina Alves Costa (n. 1967), a obra em nome próprio desta etnóloga revela-se autónoma em relação à do seu marido, o antropólogo Jorge Dias . A relação estabelecida entre as duas mulheres, já no final da vida de Margot Dias, bem como a metodologia aplicada no trabalho que desenvolveram juntas, apontam para que o contributo de Catarina A. Costa seja entendido à luz de um processo de constituição de pós-memória.
O artigo apresenta o processo de criação em teatro comunitário do espetáculo A Céu Aberto, pelo grupo de Teatro do Campo, da Associação Cultural Rural Vivo, realizado em Terras de Bouro, Portugal, entre fevereiro e junho de 2022. A montagem reflete sobre o ataque à ancestralidade do mundo rural, na iminência do avanço capitalista, pela almejada exploração do lítio. Assinalamos que a resistência vem sendo empreendida pelas populações locais e por diversos coletivos de ativistas. O Teatro do Oprimido de Augusto Boal e alguns princípios do Teatro Comunitário orientaram a criação dramática, a partir da análise de alguns jogos de força e poder que se colocam no panorama atual da exploração mineira, num contexto de crise ambiental. Experimentações cênicas foram realizadas, em torno de situações e conflitos pesquisados nos meios de comunicação e também com populações afetadas pela mineração, num passado recente. Para a trilha sonora selecionamos músicas já existentes, e também criamos algumas letras e melodias novas e paródias, cantadas pelos atores. Uma visão cosmopolítica ampara nosso olhar na análise do fenônemo da exploração mineira em ambientes rurais. O conceito de a(r)tivismo não fez parte dos pressupostos que nutriram o processo criativo. Entretanto, parece-nos apropriado, para situar o espetáculo teatral produzido, o ponto de vista que defende, e a dimensão crítica que imagina que o público possa desenvolver, a partir da fruição.
O presente artigo busca como objetivo geral destacar certos trabalhos artísticos que refletem sobre o corpo feminino. Pretende, especificamente, observar como agressões impostas ao corpo das mulheres são reveladas, nomeadamente, nas obras da escritora Paulina Chiziane, da escultora Reinata Sadimba, ambas moçambicanas, e da escritora Isabela Figueiredo, portuguesa, nascida em Lourenço Marques. A escrita e a modelagem do barro apresentam-se como territórios onde as revelações ocorrem, na exposição de feridas, na denúncia de abusos e ao pensar a condição feminina, seja em sociedades tradicionais africanas, seja no chamado mundo moderno, durante e após o colonialismo português. Os objetivos das denúncias destas artistas podem ser encarados, portanto, como catalisadores de resistências e impulsionadores de um novo contexto, no qual as agressões ao corpo feminino sejam ao menos nomeadas e exibidas, a fim de poderem, quem sabe um dia, serem ultrapassadas. A violência que recai sobre Moçambique, no passado e no presente, reverbera nas obras de arte das mulheres aqui estudadas. As experiências pessoais das artistas, sentidas em seus corpos: na pele, no sexo, na boca e na língua que tentaram silenciar, nos ouvidos, nas palavras que lhes foram dirigidas por serem mulheres, tornaram-se rico material para a elaboração de suas obras, repletas de referências a estes corpos-alvo, atacados pela sociedade patriarcal, colonialista e misógina, em diferentes matizes e cenários geopolíticos.
A que constrangimentos esteve exposta a literatura infantojuvenil nos períodos ditatoriais, no Brasil e em Portugal? O que foi permitido e o que foi proibido? Como as ditaduras e seus expedientes aparecem retratados nas obras literárias de recepção infantil e juvenil, nos dois países? Este artigo busca algumas respostas a estas questões por meio de um recorte preciso: a vida e algumas obras das autoras Lygia Bojunga e Alice Vieira. Ambas viveram durante as ditaduras brasileira e portuguesa, em seus países. A pobreza, o medo, a censura e as perseguições político-ideológicas, típicos dos sistemas autoritários, estão presentes em diversas narrativas das autoras que questionam certos pilares estruturadores da moral tradicional das ditaduras como a família, as relações de gênero ou o papel da mulher. Ressaltamos o surgimento das duas escritoras como momentos de viragem no panorama da literatura para crianças e jovens, no Brasil e em Portugal, e as contribuições que as escritoras trouxeram. Registramos certos apontamentos que indicam ligações que podem ser estabelecidas entre passado e presente, História e ficção.
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