Resenha do livro Espaços Possíveis na Literatura Brasileira Contemporânea
ResumoAnálise de dois momentos de representação da infância e da juventude, apontando semelhanças e diferenças que possibilitam uma reflexão acerca das imagens culturais consagradas do corpo juvenil. AbstractAnalysis of two figurations of childhood and youth specifying differences and similarities, which will make possible a reflection on the traditional cultural images of the young body.Comecemos com o seguinte trecho de Thomas Mann e com a imagem que faz parte do desfecho do filme Morte em Veneza, de Luchino Visconti (1971):À beira do mar ficou parado de cabeça baixa, desenhando figuras na areia úmida com as pontas dos pés, e depois entrou na parte rasa, que no seu ponto mais fundo ainda não molhava os joelhos, adiantou-se descuidadamente e alcançou o banco de areia. Ali ficou em pé durante um momento, o rosto voltado para a distância; depois começou a andar vagarosamente para a esquerda, pela extensão comprida e estreita do fundo descoberto. Separado da terra firme por faixa de água e dos companheiros por um capricho orgulhoso, vagueava, uma imagem altamente distante e desligada, com o cabelo esvoaçando, lá fora no mar, no vento, defronte ao nebuloso ilimitado. Novamente, parou para a espreita. E repentinamente, como sob uma lembrança, sob um impulso, virou o tronco, uma das mãos nos quadris, numa rotação bonita de sua pose fundamental, e olhou sobre os ombros para a praia. O observador ali estava sentado, como em outra oportunidade estivera, quando, pela primeira vez, este olhar cinza-alvorada correspondera encontrando o seu. Sua cabeça, encostada no espaldar da cadeira, seguira vagarosamente os movimentos daquele que andava lá fora; agora ergueu-se como que de encontro ao olhar, e caiu sobre o peito, de modo que seus olhos viam por baixo, enquanto seu rosto apresentava a indolente, afetuosa e meditativa expressão do sono profundo. Mas pareceu-lhe que o pálido e gracioso psicagogo lá fora lhe sorria, lhe acenava, como se, soltando a mão dos quadris, apontasse para fora, flutuando na sua frente para a imensidão auspiciosa. E, como tantas vezes, levantou-se para segui-lo. Minutos se passaram até virem em auxílio do que caíra de lado na cadeira. Levaram-no para o seu quarto. E, ainda no mesmo dia, um mundo respeitosamente comovido recebeu a notícia de sua morte (MANN, 1979, p. 170).
Livro resenhado:DIAS, Ângela Maria; GLENADEL, Paula (orgs.). Valores do abjeto. Niterói: Editora da Universidade Federal Fluminense, 2008.
Resumo: O artigo faz uma releitura do romance O vermelho e o negro, de Stendhal, considerando a teatralidade como fator temático e procedimento narrativo. Mais especificamente, procura ver como a metáfora do ator pode esclarecer o destaque que o personagem ficcional ganha na narrativa e a relação deste com aspectos histórico-sociais do romance realista do século XIX. O personagem surge como elemento de tensão com o panorama histórico do romance, pois se imbui de uma carga trágico-heroica que foge do universo cultural burguês e remete ainda para a visão de mundo do antigo regime monárquico. Dialogando com alguns textos críticos e teóricos que se debruçaram sobre a obra e sobre o problema do personagem, este texto procura compreender a especificidade relacionada ao indivíduo inserido no tempo e no espaço romanescos. Palavras-chave: romance, história, teatralidade, ator, Stendhal. Abstract:The essay analyses the novel The Red and the Black, by Stendhal, focusing on theatricality as a thematic aspect as well as narrative procedure. More specifically, it investigates how the metaphor of the actor can clarify the importance of the fictional character in the narrative. The character comes into conflict with the historical background of the novel, in that it bears a heroic and tragic meaning that is strange to the bourgeois cultural universe, and much more akin to the Ancien Régime of monarchy. In dialogue with some critical texts and theoreticians that have examined Stendhal's work, this essay seeks to understand such specificity related to the individual character in the categories of time and space of the historical novel.
Pequena novela publicada em 2012, Teco, o garoto que não fazia aniversário já antecipa a expectativa de uma obra bufônica e irreverente, dadas as posturas pouco ortodoxas que seus autores - Marcelo Mirisola e Furio Lonza - frequentemente assumem, tanto na cena literária quanto no estilo. Mimetizando a estrutura e a escrita dos livros infantis, os autores subvertem o gênero ao apontar para uma revisão extrema do imaginário e da iconografia acerca da infância. Representações tradicionais da criança - herdadas do imaginário romântico e burguês de fins do século XVIII e início do XIX e que chegam de certa forma até nossos dias - são completamente reviradas pelo nonsense farsesco, pela crítica social e pela violência das grandes cidades. Em meio à divertida inversão de valores (que não poupa alfinetadas às contradições da sociedade e às personalidades do meio intelectual e artístico), Mirisola e Lonza acenam com a possibilidade de questionarmos e repensarmos nossa concepção do que é o infantil, para além da inocência, dos brinquedos coloridos e dos ideais de educação e subjetivação.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.