RESUMO O artigo intenta uma discussão sobre o sentido e o funcionamento do conceito de dialética na Dialética da colonização de Alfredo Bosi e uma sondagem das políticas alteritárias nela exercitadas. Dialogando com a recepção de Roberto Schwarz dessa obra, tentamos mostrar a produtividade crítica oriunda de um jogo entre certa flexibilidade teórica e o compromisso ético-metodológico inscrito na tradição marxista daquele conceito, e como isso se reflete no complexo afetual-axiológico que enforma as noções de “popular” e “materialismo animista” no livro, assim como no confronto de Bosi com a figura e o trabalho de André João Antonil e em sua leitura das contradições do liberalismo. Finalmente, sugerimos certa afinidade de interesses e procedimentos da Dialética bosiana com a espectropoética-espectrologia de Jacques Derrida.
Resumo: O artigo intenta uma leitura progressiva, quase linear, do romance Perturbação (Verstörung), de Thomas Bernhard, buscando demonstrar sua irredutibilidade significacional à negatividade existencial e ao transtorno psíquico, quando não o niilismo, que emanam de seus personagens principais (incluindo o narrador), ou ainda ao conflito entre tradição e modernidade que o emoldura historicamente: para além de tudo isso, uma acirrada e, a seu modo, apaixonada dialética de mesmidade e transcendência -em cujo cerne localizamos os topoisentimentos fundamentais da herança e da propriedade -move as relações familiares e sociais e os jogos enunciativos entre as vozes-abismos que o povoam. Palavras-chave: Thomas Bernhard; romance contemporâneo; literaturas de língua alemã.Abstract: This article intents a progressive and almost linear reading of the novel Perturbação (Verstörung; in English, Gargoyles), by Thomas Bernhard, seeking to demonstrate its significational irreducibility to existential negativity and mental disorder, or even nihilism, which emanate from its main characters (including the narrator), and also the conflict between tradition and modernity that historically framed it. More than that, a strained and, in its way, passionate dialectic of sameness and transcendence -in whose heartwood we found the fundamental motif-feelings of inheritance and property -move the family and social relationships and the games between enunciative voices-abysses that inhabit this novel. Keywords: Thomas Bernhard; contemporary novel; German-language literature. A paixão negadora e os abismos perturbadosMarcada por uma negatividade tão evidentemente hegemônica -mas também, portanto, não exclusiva -, a obra de Thomas Bernhard parece, a princípio, o avesso do que se possa conceber como uma literatura de inspiração ou entusiasmo. Quem, no entanto, conhece a prosa bernhardiana sabe de seu vigor intelectual, linguístico, escritural ou como quer que se denomine o que se sente de vivo e pulsante nela, para além, mesmo, em certo sentido, de seu vigor crítico e polêmico, embora quase sempre indissociável dele. Bernhard foi, certamente, um dos autores da segunda metade do século XX que mergulhou de forma mais intensa nas contradições de seu tempo e seu mundo, em larga medida, aliás, nosso tempo-mundo. Intensa e, em certo sentido, apaixonada, porquanto um labor inspirado emana de sua escrita; uma escrita, portanto, com seu quê de poética, inclusive no sentido aurático a que, mesmo após as tormentas de todas as vanguardas, nunca deixou totalmente de se vincular a essa palavra. Sem pejo, entretanto, de sua força negativa: se é o caso de designar algo com a radicalidade máxima ou o "verdadeiro tema" de Bernhard, talvez se deva remeter
Resumo: O artigo propõe uma aproximação contrastiva entre os romances Passo de caranguejo, do escritor alemão Günter Grass, e Extinção: uma derrocada, do austríaco Thomas Bernhard, explorando duas questões fundamentais em ambos: o tema da permanência do passado nazista em seus países de origem e os conluios e tensões entre as instâncias autorais e as vozes internas das narrativas. Com essa finalidade, e de modo a tentar expor as problemáticas ético-estéticas das obras em análise sem confiná-las a um ponto de vista judicativo, e sim sopesando seus impasses afectuais, buscamos orientar nossa discussão pela espectropoética do filósofo francês Jacques Derrida.Palavras-chave: espectropoética; romance contemporâneo; literaturas de língua alemã; Günter Grass; Thomas Bernhard.Abstract: The article proposes a contrastive approach between the novels Passo de caranguejo, by the German writer Günter Grass, and Extinção: uma derrocada, by the Austrian Thomas Bernhard, exploring two fundamental questions: the theme of the permanence of the Nazi past in their original nations and the collusions and tensions between the authorial instances and the internal voices of the narratives. With this purpose, and in order to try to expose the ethical-aesthetic issues of the works under analysis without confining them to a judgemental point of view, but rather by weighing their affectual impasses, we try to guide our discussion by the French philosopher Jacques Derrida’s spectropoetics.Keywords: spectropoetics; contemporary novel; German literature; Günter Grass; Thomas Bernhard.
O artigo analisa a canção “Pra não dizer que não falei das flores” (mais conhecida como “Caminhando”), do cantor e compositor paraibano Geraldo Vandré, buscando ressituá-la em seu contexto histórico imediato e sopesando seu efetivo valor estético, no âmbito e para além desse contexto, a saber, o período imediatamente à instauração do Ato Institucional número 5 pelo regime militar que governava o Brasil. Partindo de uma provocação do dramaturgo Nelson Rodrigues a respeito de uma suposta contradição político-estética na canção de Vandré à época de sua apresentação no III Festival Internacional da Canção em 1968, buscamos indicar como essa contradição se liga a tensões de base na obra do compositor. Em seguida, discutimos o peso, o valor e os trânsitos semânticos dos principais topoi trabalhados na canção e esboçamos uma aproximação contrastiva da mesma com outras canções de Vandré, de modo a sondar a construção do que se pode denominar uma “narrativização-ficcionalização de si” no conjunto de sua obra. Finalmente, rematando esse percurso, tentamos demonstrar a presença, em “Caminhando”, de rastros utópicos irredutíveis à injunção revolucionária de se fazer a hora histórica,expressa num primeiro plano de sua letra.Palavras-chave: Arte e política. Canção popular brasileira. Estudos literomusicais. Lírica e narratividade.
A obra Um retrato do artista quando jovem, escrita por James Joyce e publicada em 1916, é um dos marcos da prosa em língua inglesa do século XX, principalmente no campo do Bildungsroman. Acompanhando o desenvolvimento intelectual de seu protagonista, Stephen Dedalus – alter-ego de Joyce -, a narrativa se inicia com o personagem ainda criança, e termina quando Stephen alcança o início de sua maturidade, ou seja, quando descobre sua vocação de artista, ou, mais especificamente, de poeta. O presente trabalho, portanto, buscou analisar um dos símbolos identificados no romance, o do labirinto do inventor Dédalo, e como a referida figura mítica acaba por influenciar a própria estrutura da narrativa. Inicia-se com uma breve história da obra, para depois identificar a influência do poeta latino Ovídio – que cantou o mito ora em discussão na sua epopeia Metamorfoses – sobre escritores modernistas de expressão inglesa, limitando-se a abordar, além de Joyce, os poetas T.S. Eliot e Ezra Pound, como forma de contextualizar o uso do poema clássico no início do século XX. Por fim, analisa-se em que medida o símbolo do labirinto pode ser vislumbrado no romance, fazendo-se o uso, para tanto, de aparato crítico, como os estudos de Ellmann (1989), March (2015), Paris (1992), Parrinder (1984), Levin (1959), entre outros.
O trabalho consiste em uma leitura do romance de estreia do escritor paraibano Rinaldo de Fernandes, Rita no Pomar. Dialogando com o posfácio de Silviano Santiago para o livro, buscamos compreender o papel exercido, nos sentidos do texto, pelos dois principais registros narrativos que o compõem, sobretudo o mais frequente deles: a narração pela protagonista de suas agruras passadas e presentes ao cachorro Pet. A nosso ver, é nos efeitos sutilmente instaurados por essa estratégia enunciativa que a história de Rita revela sua riqueza formal, psicológica e antropossociológica, ultrapassando e desconstruindo os padrões das narrativas de suspense, às quais muito se assemelha, e colocando em xeque o sistema de culpabilidade jurídico-psicológica que se localiza na base não só dessas narrativas como da sociedade moderna, ou mesmo, quem sabe, da dita sociabilidade humana. Finalmente, no outro extremo dessa operação desconstrutora, que também passa pela indicação do lugar de Rita na semicultura (Adorno) contemporânea, localizamos um sutil sopro libertário, que nos sugere uma aproximação entre os anseios corrompidos da personagem e certa filosofia helenística.
O artigo busca demonstrar a radicalidade das tensões que informam a poesia política do escritor português Almeida Garrett, valendo-se para isso de uma discussão em torno da noção de sublime em sua obra. A nosso ver, as particularidades do sublime garrettiano em poemas como “O mar”, “A Morte” e “Sonho profético”, mas também no metapoema amoroso “Hino à Poesia”, permitem reconhecer uma poética de extremos ao mesmo tempo permutáveis e inconciliáveis, cujas sínteses tendem a romper o espaço da literariedade e os domínios simbólicos da própria poesia.
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