RESUMO Testemunhamos, na atualidade, a invasão da cultura beligerante em diversas esferas da vida social, inclusive, na política. Com o populismo de direita se alastrando em escala mundial, um olhar atento à maneira como a linguagem está sendo operacionalizada por líderes políticos e seus/suas apoiadores/as se faz necessário (HODGES, 2020). O mesmo pode ser afirmado em relação às crenças linguísticas que orientam as nossas interpretações sobre as formas e os usos das línguas e nossos modos de acionar resistência política. Neste trabalho, investigamos três tuítes de críticas direcionadas às performances discursivas de Abraham Weintraub, ex-Ministro da Educação do governo de Jair Bolsonaro, quando a norma padrão da língua portuguesa foi por ele violada. Visamos investigar as ideologias linguísticas que guiam tais críticas, avaliando os efeitos que produzem nos projetos políticos interessados em defender os direitos de grupos sociais marginalizados. Para nossas análises, utilizamos os construtos teórico-analíticos de iconização, recursividade fractal e apagamento (GAL & IRVINE, 2019). Os resultados do estudo indicam que modos de resistência orientados por ideologias linguísticas que defendem um ideal puro de língua endossam sentidos negativos associados aos recursos linguísticos populares e, por extensão, às categorias sociais dos/as excluídos/as. Defendemos as ideologias linguísticas das misturas (PINTO, 2013; FABRÍCIO & MOITA LOPES, 2019) como um caminho possível para pensarmos práticas de resistência política que sejam, de fato, comprometidas com pautas inclusivas e de justiça social.
Neste estudo exploramos os impactos danosos de compreensões das línguas como categorias puras, sobretudo para grupos marginalizados (Bauman; Briggs 2003; Makoni; Pennycook, 2007; MOITA LOPES, 2013). Em diálogo com narrativas produzidas por Filhos, uma aluna de um curso pré-universitário voltado para jovens e adultos de classes populares, refletimos sobre os efeitos perfomativos de visões modernistas das línguas, especialmente da língua inglesa. Nos dados gerados em uma entrevista, Filhos reconstrói sua trajetória de socialização acadêmica (WORTHAM, 2015). Nosso interesse analítico focaliza tal reconstrução a qual abordamos segundo as ordens de indexicalidade (Blommaert, 2005; 2009; 2010) em ação. Os resultados apontam que ideologias linguísticas modernistas reavitalizadas por Filhos durante o evento microssituado de que participou contribuem para constituí-la como uma subjetividade nula de saberes legítimos e incapaz de agir no mundo em língua inglesa. Concluímos indicando os ganhos possíveis de “uma pedagogia das misturas” para grupos historicamente excluídos e estigmatizados.
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