Como sabemos, as edições brasileiras de Journal de Bitita (1982) são uma cópia do texto estabelecido e traduzido pela jornalista brasileira Clélia Pisa que, em 1972, recebeu das mãos de Carolina Maria de Jesus dois cadernos manuscritos, um com diversos poemas intitulado "Um Brasil" e outro contendo diversas narrativas autobiográficas nomeado "Um Brasil para brasileiros". Esse título, segundo Carolina de Jesus, decorre da frase de Rui Barbosa, repetida por seu avô, o Sócrates africano -que iluminava as parcas mentes daquele pequeno vilarejo em que viviam na cidade de Sacramento-MG, e que cedeu título a uma dessas narrativas.A edição francesa é uma tradução de Réginet Valbert a partir de tais texto; porém, apresenta acréscimos e correções sugeridas pela editora francesa Métailié, e pela releitura e estabelecimento da jornalista Clélia Pisa. As notas que suportam os textos mudam radicalmente de uma versão para outra, o que denota um direcionamento do texto para cada público selecionado. No caso do francês, principalmente, essas notas enfatizam a História do Brasil para o leitor europeu pouco afeito à realidade dos brasileiros, sobretudo a dos negros descendentes de ex-escravos que ainda viviam o processo desumanizador de segmentação social resultante do preconceito racial.Na versão datiloscrita das editoras francesas, os acréscimos que visam o esclarecimento, apresentam diversas oscilações, sinalizando um texto produzido por várias mãos. Esta é uma evidência confirmada pela editora Métaillié em entrevista realizada em novembro de 2013. Nessa ocasião, ela afirmou que a tradutora estava presa ao português e traduzia literalmente o que seria ininteligível para o leitor francês.As interferências da jornalista brasileira são anotadas como forma de sinalização de veracidade da capacidade de escrita da autora, como podemos ver no final da 285 SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 18, n. 35, p. 285-292, 2º sem. 2014
This article discusses the process of translating Carolina Maria de Jesus’s autobiographical narrative “Favela”, published in Onde estaes felicidade? in 2014, a translation project carried out as an experiment within the SELCS Brazilian Translation Club workshops in October 2021 at University College London. The study identifies points of convergence within the translation, and divergences from expected English cultural and linguistic norms, as well as detailed analyses of several strategies for dealing with problems and concepts such as equivalence, foreignisation, acculturation, and untranslatability. The reflection on translation procedures was guided by the principle of “negative revision”, taking into account the most recent research on the teaching and the practice of literary translation, and paying particular attention to Carolina Maria de Jesus’ autographs, which in themselves dispel several racial, social and cultural stigmas conveyed by the first editions and translations of the author’s work.
A partir dos relatos da sua vida publicados no diário de Carolina Maria de Jesus intitulado Quarto de despejo(1960) e na trajetória da “ex-menina de rua” de Esmeralda do Carmo Ortiz publicado no livro Esmeralda- porque não dancei? (2000), observamos aspectos comuns da narrativa dessas autoras no que se refere ao modo de vida dessas mulheres situadas à margem da margem na sociedade brasileira. Em ambos os relatos, a São Paulo dos excluídos se faz presente mostrando que os cinqüenta anos que separam uma história da outra não foram suficientes para transformar os problemas de violência, preconceito e miséria do capitalismo brasileiro. PALAVRAS CHAVE: Narrador marginal; Expressões da pobreza; Imagem; Temporalidade.
ResumoResumo: o presente artigo procura demonstrar o modo como a escritora Carolina Maria de Jesus mobilizou uma série de recursos literários na construção de sua poética de resíduos, agenciadora de uma reciclagem de linguagens e de si mesma. Desse modo, tem como temática a multiplicidade de vozes que pulsam no discurso produzido pela catadora de lixo Carolina Maria de Jesus em seu best seller intitulado Quarto de despejo (1960). Por se tratar de um "diário", a escrita do texto na primeira pessoa do singular presentifica, na capa, o nome que pode assumir posições múltiplas e simultâneas. Desse modo, as três instâncias narrativas confundem o receptor ingênuo que acaba por não questionar o processo de ficcionalização da narrativa, pois o Eu da vida extratextual garante a "verdade" do discurso. no entanto, observa-se nessa narrativa a ocorrência de fraturas na processualidade do Eu, que invoca a persona, isto é, as máscaras de revelação e ocultação da autora, na qual uma personagem foi criada de acordo com os padrões de "boa conduta" dos idos de 1950. Esse fluxo de rupturas pode ser notado, inclusive, na co-autoria do editor e jornalista Audálio Dantas, marcados pelos recortes efetuados nos bastidores da representação da escritora da favela. Porém, não podemos perder de vista a desconstrução que a própria construção da subjetividade impõe, revelando assim uma outra face.
A finalidade desse artigo é discutir a problemática acerca da tensão produzida por variações de discursos, que cedem forma à experiência narrativa da “poeta do lixo” Carolina Maria de Jesus em seu diário/romance/reportagem Quarto de despejo (1960). Entendemos que sua literatura é marcada por uma mistura de estilos literários deterritorializados, sendo capaz de ativar uma linha de fuga em relação às literaturas canonizadas; nisso incide a caracterização desse tipo de composição artística comum em países de formações culturais híbridas. Observamos nesse texto a presença uma potência rizomática que consiste justamente na reformulação de elementos que compõem esta poética dos resíduos justapostos numa certa “deformidade” estilística para além de livros em registros.
O presente artigo pretende analisar como a escritora negra maranhense Maria Firmina dos Reis (1822-1917) ao publicar Úrsula (1859) construiu outra narrativa para se compreender o Brasil e a formação de seu povo. Ao positivar pela primeira vez na literatura brasileira o elemento negro, Maria Firmina constrói outra identidade brasileira, levando em conta os africanos e afrodescendentes em nosso País. Ao fazer tal composição, a autora insere na discussão de nossa formação uma forte crítica à escravidão que fazia parte de seu mundo e ainda faz parte do nosso quando procuramos entender o que é o Brasil. Ao mesmo tempo, essa escritora, por tão longo período esquecida e subalternizada, também usa o romance como uma crítica ao patriarcado e à dominação masculina. Procuramos ao longo do artigo demonstrar como Maria Firmina dos Reis fez isso, ou seja, criou uma nova interpretação do Brasil, mais plural e democrática.
O presente artigo apresenta e discute a faceta dramatúrgica da escritora Carolina Maria de Jesus. Apesar de possuir uma obra literária que contempla diversos gêneros literários, alguns textos de Carolina permanecem desconhecidos do grande público, como é o caso do teatro. O presente trabalho busca sanar essa lacuna, apresentando e analisando duas peças inéditas de Carolina Maria de Jesus: A senhora perdeu o direito e Obrigado senhor vigário. Para que se possa compreender melhor a relação da escritora com o teatro, o artigo inicia-se com uma sucinta apreciação da adaptação de Quarto de Despejo, realizada em 1961 por Edy Lima. Ao final do texto, há a análise da releitura e adaptação de Obrigado Senhor Vigário realizada pela companhia Clariô, em 2019 na cidade de São Paulo, sob a direção de Naruna Costa, que demonstra a potência da obra dramática de Carolina de Jesus e suas inúmeras possibilidades de encenação.
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