Este artigo é uma reflexão acerca dos concursos "Miss Caipira Gay" e "Miss Caipira Mix", promovidos, respectivamente, pela Prefeitura Municipal de Belém e pelo Governo do Estado do Pará por ocasião da realização dos festejos juninos na capital do estado do Pará. Com base em trabalho de campo realizado em 2012 e 2013, o texto busca problematizar aspectos relativos às ações dos poderes públicos locais no que diz respeito ao destaque dado ao protagonismo gay, travesti e transexual no contexto da programação das festas juninas realizadas por fundações culturais vinculadas aos poderes municipal e estadual. Assim, as reflexões aqui colocadas visam à compreensão da lógica própria utilizada nesses concursos de dança e beleza que opera a partir de uma articulação de conceitos vinculados aos marcadores sociais da diferença, tais como gênero, sexualidade, raça, classe, geração e etnicidade.
Resumo Neste texto, busco pensar na atuação consciente do Estado ao produzir categorias sociais que sexualizam a raça e racializam o gênero nas políticas públicas para a promoção das culturas populares. Perscrutando os usos e os discursos em torno das categorias Miss Mulata e Miss Morena Cheirosa nas festas juninas de Belém, argumento que essas categorias falam acerca das interferências dos órgãos estatais e seus gestores culturais na produção de identidades étnico-raciais amazônicas. Além de atentar para os conteúdos textuais explícitos nos regulamentos dos concursos juninos, observo especialmente os seus silêncios quanto a questões referentes à raça, etnicidade e sexualidade. Tais silêncios não representam ausência de prescrições normativas, mas significam que a regulação dos corpos, sujeitos e performances permanece oculta nas entrelinhas dos discursos dos gestores culturais que fomentam ações voltadas para as culturas populares.
A partir de experiência etnográfica no Círio de Nazaré, este artigo problematiza aquilo que denomino como performances de sacralização das cantoras de Música Popular Brasileira (MPB), as quais foram verificadas, predominantemente, nas homenagens musicais feitas pelas artistas durante o ritual de traslado da imagem de Nossa Senhora de Nazaré pelas ruas de Belém. Como parte de uma pesquisa maior, que refletiu acerca do imaginário e da sociabilidade homossexual masculina construídos em torno das cantoras de MPB, este texto traz elementos teóricos e etnográ-ficos que objetivam esclarecer significados subjacentes ao qualificador "divina", frequentemente utilizado por fãs (sobretudo, homossexuais) para designar suas cantoras favoritas.Palavras-chave: Círio de Nazaré, ritual, música popular brasileira, cantoras, religiosidade DEVOUT AND DIVINE: REFLECTIONS ON THE SACRALI-ZATION PROCESS OF MPB FEMALE SINGERS IN THE RITU-AL CONTEXT OF THE CÍRIO DE NAZARÉ IN BELÉM, PARÁ, AMAZONIA AbstractDrawing from ethnographic experience at the Círio de Nazaré, this article discusses what I call MPB (Brazilian Popular Music) performances of holiness by female singers, observed mainly in musical tributes made by these artists during the Our Lady of Nazaré procession along the streets of Belém. As part of a larger inquiry, focused on the homosexual male's imaginary and sociability built around the MPB female singers, this article bridges theoretical and ethnographic elements to discuss meanings behind the word "divine", often used by fans (especially homosexuals) to call their favorite female singers. Keywords: Círio de Nazaré, ritual, Brazilian popular music, female singers, religiosity. 213Amazôn., Rev. Antropol. (Online) 7 (1) DEVOTAS E DIVINAS: REFLEXIONES SOBRE EL PROCESO DE SACRALIZACIÓN DE LAS CANTANTES DE MPB EN EL CON-TEXTO RITUAL DEL CIRIO DE NAZARÉ, EN BELÉM, PARÁ, AMAZONÍA ResumenA partir de la experiencia etnográfica durante el Cirio de Nazaré, este artículo describe lo que yo llamo performances de sacralización de las cantantes de la Música Popular Brasileña (MPB), que se observan predominantemente en homenajes musicales hechos para estas artistas durante la transferencia ritual de la imagen de Nuestra Señora de Nazaré por las calles de Belém. Como parte de un estudio más amplio, que reflexionó acerca del imaginario y la sociabilidad homosexual masculina en torno a las cantantes de MPB, este texto presenta elementos teóricos y etnográficos que tratan de aclarar los significados subyacentes al calificativo "divina", a menudo utilizado por los fans (especialmente los homosexuales) para designar a sus cantantes favoritas.
Desequilíbrio e instabilidade. Para Edmund Leach estas são duas palavras que melhor expressam a realidade social como um todo. Ao contrário de muitos antropólogos que o precederam (ou foram seus contemporâneos), Leach alega conseguir perceber a dimensão do desequilíbrio presente no arranjo da vida social dos homens. Sendo assim, o centro deste desequilíbrio será sempre o indivíduo e seus interesses particulares que, na verdade, são os elementos motivadores para que haja a manipulação de regras de todo o sistema social e político com a finalidade de moldá-las às conveniências do homem. Provavelmente, esse reconhecimento da existência de certa dimensão do desequilíbrio (ou instabilidade) social seja a base de toda a crítica teórica que Leach (2001) fez aos antropólogos de tradição funcionalista como Malinowski e Radcliffe-Brown. Arrisco esta afirmação pelo fato de que a atividade classificatória funcionalista dificultava a localização de determinados eventos sociais em zonas intermediárias que não correspondessem a uma classificação fechada. Desse modo, a possibilidade de manipulação das regras sociais pelos indivíduos era um fator ignorado pelos funcionalistas que, implicitamente, estavam advogando uma noção de equilíbrio social conseguido através de certos mecanismos que eram identificados em suas pesquisas. Com relação às criticas feitas à prática classificatória e descritiva dos funcionalistas, Leach afirma que a comparação é uma questão de colecionamento de borboletas-de classificação de arranjo das coisas de acordo com seus tipos e subtipos. Os seguidores de Radcliffe-Brown são colecionadores antropológicos de borboletas, e a abordagem que fazem de seus dados tem certas conseqüências (LEACH, 2001, p. 16). Para ele, as análises em que Radcliffe-Brown dividia as sociedades em uma estrutura composta por uma gama de tipos e subtipos sociais contribuíam para desencadear um processo de classificação quase infinito em que um grupo aparece como subtipo do outro.
Para Ronald Bergman (in memorian), por ter me apresentado ao universo da dança. Para Raíssa Gorbatchof (in memorian) por ter sido uma grande interlocutora desta pesquisa e por seu importante papel na inclusão oficial da diversidade sexual e de gênero no cerne da quadra junina de Belém. Para Patrícia Ferraz (in memorian) em homenagem às tantas vítimas da homo/lesbo/transfobia. Para Gabrielle Pimentel e Thayla Savick, amigas queridas e interlocutoras imprescindíveis. Para Junior Manzinny, Ocir Oliveira, Suellen Silva, Raphaelly Mandelly e Bruno Salvatore pelo acolhimento incondicional durante o trabalho de campo. Para todos os quadrilheiros de Belém. Para Marcus Negrão, por tudo. AgradecimentosA Antônio, João e Pedro, os santos juninos, por abrirem os caminhos.Aos meus pais e toda a minha família por, ao seu modo, compreenderem e apoiarem minha jornada.Ao Marcus Negrão por, a cada dia, contribuir para que eu me torne uma versão melhor de mim mesmo. E pelas fotografias que produziu durante meu trabalho de campo e pelo apoio incondicional de todos os dias. À Laura Moutinho, orientadora querida, por ter acolhido o meu projeto de pesquisa e por me presentear com um generoso período de formação intelectual.À Cristina Donza Cancela, minha orientadora no mestrado, por ter me apontado os caminhos dos estudos de gênero e sexualidade em Antropologia. À Lívia Negrão, orientadora da graduação, por ter me mostrado a Antropologia.A Peter Fry e José Guilherme Magnani pelas excelentes leituras e observações apontadas em meu exame de qualificação.
Resumo Conectando dramas sociais e estéticos, as quadrilhas juninas encenam a resolução de um drama social de atribuição de paternidade. Um casamento surge como ação reparadora do drama instaurado, inserindo mulheres e homens em um sistema de relações de parentesco. Entretanto, nos concursos de quadrilha de Belém (Pará), há uma expressiva participação de homossexuais, travestis, transexuais e transgêneros, que desestabilizam, no plano estético, a divisão coreográfica binária entre damas e cavalheiros e, no plano simbólico/social, as concepções tradicionais sobre conjugalidade heterossexual.
Resumo: Perscrutando os regulamentos que regem os concursos juninos promovidos como política pública pela Prefeitura Municipal de Belém e pelo Governo do Estado do Pará, procuro entender como esses documentos tentam gerir a intensa participação de homossexuais e pessoas trans nesses certames. O que dizem esses regulamentos? Quais são as formas implícitas e explícitas através das quais o Estado se refere à diversidade sexual e de gênero? Com essas perguntas em mente (e baseado em trabalho de campo realizado entre 2012 e 2016 nos concursos juninos de Belém), busco respondê-las a partir da análise desses documentos e dos discursos que se constroem em torno deles.
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