Objetivamos, nesta resenha crítica, interpretar O romance luminoso, de Mario Levrero, por meio, principalmente, das dualidades pulsionais entre a melancolia e a vontade de viver do protagonista. Dentro dos ciclos de profunda tristeza de Mario, movimentados ao sabor da fragmentária escrita diarística, encontramos processos de proteção do eu, sobretudo em uma espécie de mania-sublimatória, integrada ao veio fantasioso do escritor, que o anima a enxergar o porvir. Para isso, fizemos uso de reflexões teóricas de Marcello Duarte Mathias (1997) acerca do gênero diário e nos embasamos em noções, advindas da psicanálise, de Sigmund Freud (2019) e Joel Birman (2008) sobre a melancolia e a sublimação.
Resumo Procuramos, neste trabalho, demonstrar que na obra Infância, de Graciliano Ramos, são construídos dois pontos de vista conflitivos. Baseados nas ideias do mecanismo de harmonização e desarmonização da narrativa de Fredric Jameson (1992), em O inconsciente político, e de textos da fortuna crítica da autobiografia em questão, sobretudo de Alfredo Bosi (2013), constatamos, por um lado, que a mirada adulta, contida na narração, objetifica o relato - principalmente reinterpretando as pessoas conhecidas e criticando a ordem social do período de menino. Por outro lado, vemos que a dominante mirada infantil se fundamenta na apreensão fragmentária e sinestésica do mundo. A narração por esse olhar figura a contínua busca da criança de adaptação e de amparo.
Objetivamos, neste texto, examinar a dinâmica pulsional - entre o Eros e o Tânatos - irradiada pela e forma e pela mensagem do romance Controle, de Natalia Borges Polesso. A partir das noções de pulsão de morte e de vida, relacionadas conflitivamente e sintetizadas pelo filósofo Rogério M. de Almeida (2007), buscamos compreender como a figuração da doença, de larga tradição na literatura, insula Maria Fernanda, personagem principal da narrativa. Com o desaparecimento do transtorno epiléptico da protagonista, no entanto, a narradora expõe-se ao contato vigoroso com a alteridade, vislumbrando o futuro que outrora, quando doente, podia ser imaginado via alucinação. Por meio de ideias Susan Sontag (1984), Paul Ricouer (2007), Sidarta Ribeiro (2019) e do mencionado Rogério M. de Almeida (2007), analisamos a complexa rede afetiva que leva a protagonista a estruturar o porvir mediante a pulsão de vida.
Tencionamos, neste artigo, identificar a alteração dos sistemas valorativos pelos quais as narrativas de 30 passaram ao longo dos estudos a elas dedicados. Ampliando a ideia de Antonio Candido (2000), contida em Formação da literatura brasileira, partimos do pressuposto de que não apenas a nossa literatura, mas, também, a nossa crítica é eminentemente interessada no processo de construção do sentido de cultura e pátria, gerando formas simbólicas amiúde ligadas às tensões sociais. Por meio dessa noção, constatamos quatro miradas valorativas sobre o romance de 30: a política de primeira hora, normalmente tentando aliar cosmovisão do escritor com a cosmovisão animada pela narrativa; a documentária, em que a postura valorativa estava contígua ao aspecto mimético do social; a de permanência, em que a qualidade da obra recai sobre o prolongamento de suas tensões; e a noção qualitativa relacionada com a construção de obras que vão de encontro ao reaparecimento da estética neonaturalista.
O nosso objetivo principal, na breve resenha, é analisar a construção dos conceitos de "personagem absoluto" e "personagem relativo" criados por Enrico Testa em Heróis e figurantes: o personagem no romance. Tal obra, lançada em 2019 no Brasil, traz à tona pertinentes debates acerca da categoria narrativa do personagem, sobretudo no fito de constatar o desenvolvimento do ser-de-papel no que está relacionado à sua porosidade, sobretudo diante da confluência de perspectivas encerradas na diegese. Grosso modo, enquanto o personagem absoluto enovela-se sobre si, irradiando o mal-estar da solidão, o relativo mostra-se aberto, mesmo que minamente, à cosmovisão do outro.
Intencionamos, nessa resenha, analisar como o fim da crença no futuro, acontecido no ano de 1968, de acordo com a visão de Franco Berardi, foi percebido anteriormente por muitos literatos. Cotejando a argumentação de Berardi com a de Antonio Candido (1989), principalmente, no ensaio "Literatura e subdesenvolvimento", avaliamos que a dissolução do porvir já se encontrava no imaginário de nossos escritores e de outros, mundialmente. Assim, havia um descompasso entre a revolução estética ocorrida na prosa do século XX - na esteira das vanguardas, que pensavam o futuro - e o assunto dessas narrativas - que pareciam não vislumbrar o amanhã.
Objetivamos, nesta resenha, analisar como a política adentra tanto a forma como a mensagem dos contos de A medida de todas as coisas (2019), do autor peruano Pedro Llosa Vélez. Por meio de diversos recursos estruturais, as narrativas representam intelectuais inseridos em crises subjetivo-ideológicas. O tom subjetivo dos relatos elimina – ou a torna vinculado a psique dos protagonistas – a inflexão política dos contos, compondo, apesar da manifestação explícita de motivos sociais, econômicos e culturais, narrativas em que a modulação panfletária é dissipada, também, pela descoberta de si, pela ironia e pelo patético das situações figuradas. No que tange à política, baseamo-nos nas reflexões de Wolfgang Leo Maar (1982); a respeito da imbricação entre política e literatura fazemos uso dos pensamentos de Irving Howe (1987).
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