O grupo mais afetado pelos efeitos negativos advindos da construção de rodovias é o dos vertebrados, tendo altas implicações para as populações de aves, especialmente no Cerrado. Dentre eles, estão os carniceiros que, em busca de alimento, frequentam as margens das rodovias e se tornam vítimas de atropelamento. Assim, o objetivo desse trabalho foi identificar a diversidade e composição de uma guilda de necrófagos nos trechos das rodovias que contornam a Estação Ecológica de Águas Emendadas, ESECAE, e investigar os fatores que influenciam o tempo até a localização e o consumo de carcaças por diferentes necrófagos. Foram utilizadas codornas previamente abatidas para simular um evento de atropelamento e atrair os carniceiros. As codornas, juntamente com armadilhas fotográficas, foram dispostas, semanalmente, entre 6h e 7h da manhã, em pontos aleatórios ao longo das pistas que cercam a ESECAE. Todos os espécimes que se aproximaram das codornas foram registrados, registrando-se a identificação da espécie, o número de indivíduos, o horário da visita e o tempo de detecção. Além disso, foram obtidos dados meteorológicos da estação do Inmet localizada na ESECAE. Para investigar os fatores que influenciam o tempo de detecção, foi ajustado um modelo linear generalizado da família Poisson. Foram registrados 40 consumidores, sendo 51% aves e 49% mamíferos. As espécies mais observadas foram o carcará, Caracara plancus, responsável por localizar 32,4% das codornas e o cachorro-doméstico, Canis lupus familiaris, que localizou 27,1% das codornas. Além do carcará, outra ave registrada consumindo as codornas foi o gavião-carijó, Rupornis magnirostris. Em relação aos mamíferos, foram registrados também o cachorro-do-mato, Cerdocyon thous, o gato-doméstico, Felis domesticus, o gambá, Didelphis sp. e a onça-parda, Puma concolor. Em 11 casos as carcaças foram localizadas em menos de 4h, o que representa 29,7% de todas as codornas consumidas, reforçando o que foi sugerido por outros trabalhos. Estudos anteriores sugerem que o consumo de carcaças em rodovias ocorre nas primeiras 24h. Os resultados revelaram que temperaturas mais elevadas estão associadas com um tempo maior de localização das carcaças. Essa associação pode ter relação com a baixa atividade desses consumidores em períodos de altas temperaturas. Em contrapartida, foi percebida relação inversamente proporcional entre velocidade do vento e localização da carcaça. Conforme esperado, a velocidade do vento parece influenciar o forrageamento, intensificando a dispersão do odor pelo ambiente. Os mamíferos levaram mais tempo para localizar as carcaças do que as aves. Uma explicação para essa diferença pode estar relacionada ao método adotado nesse estudo, onde as codornas foram disponibilizadas pela manhã, período de maior atividade das aves.
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