Analisamos, neste artigo estratégias desenvolvidas por estudantes estrangeiros para lidarem com as demandas do contexto acadêmico, em uma universidade pública brasileira. Os dados analisados derivam do trabalho de Dissertação de Santos (2019) e foram colhidos no segundo semestre de 2017 na Universidade Federal de São João del Rei. A fundamentação teórico-metodológica está baseada nos Novos Estudos do Letramento e em contribuições da sociologia de Pierre Bourdieu. Foram realizadas 14 entrevistas semiestruturadas com estudantes de nove diferentes países, matriculados em cursos de todas as áreas, exceto das ciências humanas. Os estudantes foram inquiridos sobre sua chegada ao Brasil, as atividades desenvolvidas na universidade e suas dificuldades nas disciplinas dos cursos aos quais estavam matriculados. As entrevistas foram gravadas e transcritas, com vistas a compreensão dos recursos mobilizados pelos estudantes para contornar tais possíveis dificuldades. Os resultados evidenciam a grande variedade de estratégias de estudo, dentre elas o pedido de auxílio a colegas brasileiros para o cumprimento das demandas dos cursos, a preferência pelo suporte impresso na leitura de textos acadêmicos, o uso de pesquisas na internet para ampliar vocabulário, a solicitação de auxílio aos professores e utilização de monitoria, oferecida pela universidade. O estudo conclui que algumas dificuldades não se relacionam apenas à questão da fluência na língua portuguesa falada no Brasil, mas à pouca familiaridade com práticas de leitura e escrita próprias do campo acadêmico. Indicamos, ainda, a assimetria entre os países do norte em relação ao Brasil, quando se trata da internacionalização da universidade.
Analisamos os percursos marcados pelo processo de ‘metamorfose’ (KAFKA, 2001) imposto a um estudante/pesquisador surdo na graduação e na pós-graduação. Apesar das legislações que reconhecem a língua e a cultura da comunidade surda (BRASIL, 2002; 2005; 2015; 2021), a surdez permanece interpretada em nossa sociedade a partir de um viés clínico-terapêutico. Esse entendimento repercute em uma noção estereotipada de superação lançada sobre as pessoas com deficiência que revela o capacitismo presente na sociedade (DI MARCO, 2020). Utilizamo-nos da abordagem qualitativa e das ‘histórias de vida’ (GAULEJAC, 1996) como metodologia investigativa, com a seguinte questão de pesquisa: como o binômio ‘inclusão versus exclusão’ está presente e impacta as trajetórias acadêmicas das pessoas surdas, em meio às contribuições e contradições das legislações que determinam a educação bilíngue? Estudamos o caso de Sílvio, pesquisador surdo da área da educação e linguagem que teve a conclusão de seu mestrado largamente publicizado pela instituição na qual este foi realizado. Enfocamos a (re)construção de sua trajetória acadêmica a partir de uma entrevista realizada em Libras e transcrita para a língua portuguesa e operacionalizamo-nos pela ‘análise do discurso’ (GREEN; BLOOME, 1997) para a construção de categorias analíticas que permitem explicar a influência da visão clínico-terapêutica nas trajetórias escolares acidentadas da comunidade surda. Indicamos a importância da formação de professores proficientes em Libras, do estímulo ao engajamento entre estudantes ouvintes e surdos nas atividades acadêmicas e da promoção de políticas de educação básica pautadas no ensino bilíngue. Esses elementos podem contribuir para que a universidade se torne mais inclusiva e democrática.
Relacionamos os debates sobre a inserção de diferentes sujeitos sociais na educação superior e as políticas nacionais que visam a expansão de cursos e a abertura de novas vagas. Analisamos os dados divulgados pelo Censo da Educação Superior, a partir da perspectiva decolonial, buscando compreender quais diferentes perfis têm integrado a Educação Superior e como esses novos perfis podem nos ajudar a estabelecer espaços sociais interculturais. A pesquisa com o número gerado pelo Censo indica o aumento de pessoas com deficiência, pretos e pardos e pessoas com renda salarial baixa. Debatemos as categorias ‘inserção’ e ‘inclusão’, face ao avanço das taxas de evasão, indicando que as experiências interculturais possibilitam a interação dialógica entre diferentes indivíduos em um mesmo espaço social, questionando as diferenças e assimetrias sociais que legitimam alguns grupos e tornam outros subordinados.
<p>This article presents a broader research clipping that aimed to understand the strategies and trajectories of foreign undergraduate students at a Brazilian public university. In this text we focus on the PEC-G (Undergraduate Student Agreement Program) and the relationships established by African students linked to this program as an internationalization and academic mobility policy. Based on some concepts of Bourdieu, we seek to understand the meanings attributed by students to the educational process in Brazil and their expectations with the conclusion of the course. Based on assumptions of qualitative research, we produced two different types of data, the interview being the main source. Fourteen students and the university's international affairs advisor were interviewed. Another source of data were the documents on the MRE (Ministry of Foreign Affairs) and MEC (Ministry of Education) websites that characterize the PEC-G. The results indicate that it is necessary to engage these young students and assist them in their specificities, both in academic education and in cultural and critical education. This service goes through a quality reception that provides relevant information and really helps them to make the most of the experience in our country.</p>
Neste artigo, debatemos as contribuições de movimentos recentes em relação ao ensino de surdos e aumento da visibilidade das comunidades surdas no Brasil. Desde a década de 1970 e com a consolidação de nossa mais recente Constituição Federal, vem se intensificando as lutas das pessoas surdas pelo direito à educação e ao uso da Libras. A partir da publicação da Lei nº. 10. 436, em 2002, muitos debates vêm sendo promovidos em direção ao aumento do protagonismo das pessoas surdas em seus processos de ensino e aprendizagem. Em 2021, a educação bilíngue passa a figurar na LDB (BRASIL, 1996), como constituidora da identidade surda, propagando-se por toda a trajetória educacional (básica e superior) do indivíduo surdo. Para a realização deste artigo, pautamo-nos em uma abordagem de natureza qualitativa com a utilização da revisão bibliográfica e na análise documental. A análise documental centrou-se em documentos que norteiam a educação no país como os PCNs, a BNCC e a Lei nº. 14.191/2021. Por sua vez, nossa revisão bibliográfica visou encontrar trabalhos recentes que lancem olhares sobre essa inclusão da educação bilíngue na LDB. Nossos resultados apontam que as mudanças recentes, apesar de parecerem promissoras, ensejam ainda muitos debates com as comunidades surdas, formação continuada e de qualidade nos cursos de licenciatura do país, bem como, a redução social do estigma lançado sobre a surdez e a pessoa surda, entendidas sob o ponto de vista da ‘normalização’ ouvinte.
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