Este ensaio apresenta os resultados parciais da investigação sobre uma modalidade peculiar de biblioteca implantada em distintas províncias do império brasileiro entre os anos 70 e 80 do século XIX: as bibliotecas populares. Apresentando uma lógica e estratégia distinta de outros modelos biblioteconômicos, sua emergência esteve pautada em ações que mesclavam o paternalismo das elites e aquele traço denominado por Armando Petrucci de “filantropia do saber”. Não raro, sua ascensão esteve articulada com a atuação dos clubes republicanos e abolicionistas, tendo se verificado também sua difusão por meio de lojas maçônicas. Com base em uma documentação variada (discursos de fundacionais e celebrativos, relatórios e artigos publicados na imprensa) procuro traçar uma cartografia destas bases institucionais da leitura, explorar os discursos prescritivos sobre os objetivos e destinatários, compreender a sua organização interna e funcionamento. Por fim, exploro as tensões entre o projeto laico de proporcionar às classes populares o acesso à cultura impressa, sobretudo do livro didático e formativo, a crença na função moralizante da leitura, e as práticas efetivas destes leitores que demonstravam uma predileção pelo gênero romance.
Este ensaio procura traçar a história editorial e o sucesso comercial do romance Les Mystères de Paris, de Eugène Sue, por meio da análise dos distintos padrões de impressão (folhetim e livro), a sua recepção e as suas traduções. Paralelamente ao exame das formas de circulação e comercialização do livro, verificou-se a sua difusão no acervo de bibliotecas e gabinetes de leituras, bem como a sua adaptação para o teatro e ópera.
Este trabalho, ensaístico, explora a recepção do romance Os mistérios de Paris entre os letrados austrais e discute como o estabelecimento de redes de distribuição de jornais, revistas e livros contribuiu para conferir uma centralidade cultural à França e enraizar a francofonia e o prestígio da literatura francesa entre os membros das elites latino-americanas. Nesse caso, a francofonia passou a ser mais um elemento de distinção social, agregando aos portadores desse saber um inequívoco poder simbólico. As listas de remessas de livros indicavam um processo de laicização da cultura, com a ascensão de um multifário conjunto de classes bibliográficas, incluindo aí as belas-letras, as ciências e a história. Assim discutimos como a tradução e a imitação contribuíram para forjar a inserção de candidatos à carreira de escritores.
O presente ensaio examina uma zona nebulosa caracterizada pelas práticas comerciais de contrafações, isto é, de obras piratas que chegaram ao público brasileiro por meio do comércio transatlântico de impressos, cuja presença pode ser constatada nos catálogos de bibliotecas e gabinetes de leitura implantados no Império brasileiro. Nesta análise, será explorada a atuação de Desiré-Dujardin, proprietário da Librairie Belge-Française e de um gabinete de leitura instalados na cidade do Rio de Janeiro no período de 1843 a 1851, assim como suas estratégias comerciais e editoriais.
RESUMO Este ensaio traça uma história institucional do Rio de Janeiro British Subscription Library, implantado por comerciantes britânicos radicados na cidade do Rio de Janeiro em 1826. Por meio da "democracia da subscrição", eles forjaram um espaço que conjugava os imperativos da sociabilidade e da leitura. O exame dos catálogos publicados em 1842 e 1882 permitiu compreender algumas características do acervo, com especial atenção para as rubricas identificadas com a cultura literária ali reunida. Por meio de relatos de viajantes e de artigos publicados em periódicos anglo-brasileiros foi possível traçar algumas representações da associação e dos seus frequentadores.
RESUMO: Este ensaio debruça-se sobre um conjunto de textos publicados em revistas e na imprensa dos anos 1920 por um editor (Monteiro Lobato), um crítico literário (José Maria Bello), um ensaísta (Antonio de Alcântara Machado) e um pedagogo (Manoel Bergstrom Lourenço Filho). Embora não seja possível indicar uma relação dialógica entre a totalidade dos textos, a sua leitura cerrada permite destacar algumas afinidades seletivas entre eles. Este elemento comum traduz-se na busca de instrumentos de sondagem capazes de produzir dados, apontar tendências e projeções, traçar diagnósticos sobre as práticas editoriais e a formação dos leitores na cidade de São Paulo. Atento simultaneamente à referencialidade e aos modos de argumentação empregados por estes mediadores culturais, é possível compreender a tal Era dos Inquéritos como a ascensão de discursos que forjarão uma política cultural visando articular a reflexão sobre os livros e o campo editorial, a formação dos leitores e equipamentos culturais na cidade. Lido de um ponto de vista retrospectivo, a Era dos Inquéritos pode ser considerada como um conjunto de reflexões que forneceram iluminações para a elaboração do programa do Departamento de Cultura e Recreação, dirigido por Mário de Andrade nos anos 30.
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