O trabalho contextualiza a criação do Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém (PA), no ano de 1895, considerado o mais antigo zoológico brasileiro. Apresenta duas raras fontes históricas sobre o Parque, um artigo de 1897 do zoólogo alemão Hermann Meerwarth (1870-1943), Auxiliar Científico de Zoologia e Inspetor do Jardim Zoológico do Museu Goeldi entre agosto de 1895 e abril de 1899; e um livro de 1901 do zoólogo suíço Gottfried Hagmann (1874-1946), que ocupou os mesmos cargos entre novembro de 1899 e meados de 1904. Ambos os textos são relatórios técnicos originalmente publicados em alemão, foram traduzidos para o português e atualizados do ponto de vista taxonômico. Eles permitem não apenas a realização de estudos sobre o Parque Zoobotânico do Museu Goeldi, como também sobre os jardins zoológicos em geral, além de leituras específicas nas áreas de história da ciência, história ambiental, museologia, arquitetura, educação ambiental e comunicação científica.
O artigo explora as distintas expectativas criadas em diferentes lugares e instituições com as descobertas arqueológicas que ocorreram em território brasileiro na segunda metade do século XIX. Por meio de estudo de caso sobre a trajetória profissional de Domingos Soares Ferreira Penna (1818-1888), fundador do Museu Paraense em 1866 e naturalista-viajante do Museu Nacional entre 1872 e 1884, são reconstituídas a origem dos debates científicos e a disputa pelo patrimônio arqueológico da Amazônia, então em grande evidência graças à descoberta dos sítios pré-históricos da ilha de Marajó (PA). A intenção é demonstrar como o discurso em torno de uma identidade nacional, largamente utilizado por Ladislau de Souza Mello Netto (1838-1894), diretor do Museu Nacional no período, eclipsava dissensões políticas e pouco repercutia nas províncias, que, na época, também construíam suas respectivas identidades regionais e narrativas históricas - e para as quais os vestígios arqueológicos eram, igualmente, fundamentais.
[pt] O artigo analisa a participação da zoóloga alemã Emília Snethlage (1868-1929), pesquisadora e depois diretora do Museu Goeldi, em Belém, Brasil, na rede de conhecimento que se estabeleceu no início do século XX na região amazônica, destinada à investigação etnológica e à coleta de artefatos indígenas, e que teve, entre seus mais conhecidos atores, os alemães Theodor Koch-Grünberg (1872-1924) e Curt Nimuendajú (1883-1945). Ambos são reconhecidos pelo trabalho em prol dos povos indígenas do Brasil e pelo legado científico nos campos da antropologia, arqueologia e linguística. Menos conhecida, Snethlage teve, entretanto, decisiva participação na inserção de Nimuendajú no meio científico. A partir de uma extensa pesquisa em fontes documentais localizadas no Brasil e na Alemanha, demonstra-se que, no primeiro período em que Nimuendajú esteve vinculado ao Museu Goeldi, entre 1913 e 1921, Snethlage viabilizou suas primeiras expedições e publicações científicas, além de articular suas relações com museus e etnólogos alemães, incluindo aquele que viria a ser seu dileto amigo e interlocutor, Koch-Grünberg, de maneira a lhe permitir trabalhar também como coletor profissional.
O texto apresenta três contribuições do zoólogo suíço Emílio Augusto Goeldi (1859-1917) à arqueologia e etnologia amazônica, publicadas em alemão entre 1900 e 1906, quando era diretor do Museu Paraense, em Belém (PA), Brasil. A primeira é um artigo de divulgação científica sobre a descoberta da cerâmica Cunani, ocorrida em 1895, no norte do Amapá, Brasil. A segunda expõe os achados arqueológicos do Museu Paraense na foz do Amazonas, área identificada como prioritária para pesquisas do gênero, incluindo as cerâmicas encontradas em Maracá (AP) e na ilha de Marajó (PA), e as estatuetas líticas originárias do Baixo Amazonas. A terceira descreve o uso dos machados de pedra pelos índios Baikiri. As três contribuições comprovam o interesse de Goeldi pelo estudo da cultura material e pela compilação de dados que permitissem um melhor arranjo dos troncos etnolinguísticos indígenas, fazendo a junção, de maneira bastante habilidosa, dos recursos intelectuais proporcionados, na época, pela etnologia, pela arqueologia e pela linguística.
This essay examines the historiography of international exhibitions, seen as geopolitical phenomena of modernity to which are associated the rise of middle classes, nationalist and colonialist movements, as well as an exhibitionary network connecting distinct spaces and times. Most of the recent studies analyses this repertoire and this pattern, and their relationship with political, economic, social and cultural issues. This study stresses, among ongoing approaches, the Latin American work -still barely visible or integrated into a field which is already consolidated -, and suggests how its visibility can be improved.
Nas áreas de saúde pública e de entomologia, a virada do século XX caracterizou-se sobretudo pelo destaque dado aos insetos como transmissores de doenças. Médicos, bacteriologistas e zoólogos dedicaram-se com afinco à tentativa de compreender melhor a etiologia de doenças como malária e febre amarela, assim como inventariar as espécies de insetos associadas à doenças, estudar sua classificação científica e biologia e estabelecer procedimentos que permitissem controlar as epidemias. O zoólogo suíço Emílio Goeldi (1859-1917), na época diretor do Museu Paraense de História Natural e Etnografia, em Belém, foi um ativo participante dessa rede científica, autor de vários trabalhos sobre os mosquitos amazônicos. São suas idéias colocadas em debate e suas contribuições no âmbito da zoologia e entomologia médica que formam o cerne do presente artigo.
This article gives visibility to Amazonian indigenous peoples in the global process of plant circulation and associated knowledge. The first part highlights the indigenous role in cultivating and collecting native plants, and in the processing of natural products over the second half of the eighteenth century. The second part shows that these activities were influenced by internal colonial dynamics, as well as by international relations. The case of the ayapana herb is analysed in detail. This plant became known worldwide at the beginning of the nineteenth century thanks to the interactions among indigenous knowledge, Portuguese colonial politics and the performance of military and naturalists of different nationalities. Examples like this show that, in the process of building botany, which occurred concurrently with the globalization of plants, indigenous peoples provided not only specimens that circulated around the world, but also knowledge related to cultivation, transportation and uses.
O texto aborda a viagem do botânico suíço Jacques Huber (1867-1914) aos principais países produtores de borracha no Oriente, entre os anos de 1911 e 1912, com o intuito de desenvolver estudos acerca do cultivo de Hevea brasiliensis naquela região. Tal viagem foi determinada pelo então governador do estado do Pará, João Coelho, que tentava encontrar soluções para a crise da economia regional, baseada no extrativismo do látex e seriamente ameaçada pela borracha comercializada pelos ingleses a partir de grandes plantações no Oriente. Ao retornar da viagem, Huber publicou um relatório com informações sobre a sociedade, a economia e o ambiente onde a seringueira era cultivada. O relatório condensa não apenas as observações científicas sobre o assunto, mas também pode ser lido como um resumo das preocupações das elites regionais naquele contexto. Juntamente com uma breve análise desse relatório, constam fotografias tiradas por Huber no Oriente, retratando as plantações de seringueiras, o processo de sangramento das árvores e os trabalhadores locais.
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.