E m 1875, o norte-americano Herman Strecker recebia, em sua casa, uma rara borboleta brasileira que fora comprada, por um amigo, no Rio de Janeiro. Strecker o considerou o mais notável lepidóptero conhecido e o nomeou Eudaemonia jehovah, escolha que gerou grande discussão sobre a conveniência de se colocar um nome religioso em um animal. Strecker defendeu sua opção afirmando que não via problema em usar o nome do Criador em uma de suas mais interessantes criaturas: a singular borboleta brasileira.Strecker, que nasceu e viveu nos EUA entre 1836 e 1901, dividia sua rotina de trabalho em duas atividades. Durante o dia, para sobreviver, dedicava-se à escultura de peças em mármore. Quando a noite caía, com a obssessão de um colecionador fanático, consumia horas entre suas borboletas. Era na calada da noite que fazia o que mais gostava: empalhar, identificar, classificar e descrever os insetos; ler sobre lepidópteros; e manter atualizada sua copiosa correspondência. Como uma mariposa em torno da luz, o único foco de seu mundo noturno era aquele que incidia sobre sua imensa coleção. Poucos anos após começá-la, possuía mais de trinta mil espécies. Por volta de 1895, o quarto andar de sua casa era ocupado com sessenta mil duplicatas destinadas à venda. Em 1900 sua coleção contava com duzentas mil borboletas. Para se ter uma ideia da representatividade do acervo, basta lembrar que uma das maiores coleções públicas existentes no Brasil na atualidade, que se encontra no Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, conta com 290 mil exemplares. Em 1908, pouco depois do falecimento de Strecker, o conjunto contendo sua coleção de lepidópteros e sessenta mil itens entre livros e correspondência foi vendido para o Field Museum of Natural History de Chicago. O carregamento ultrapassou sete toneladas. Strecker fez parte de um grupo de colecionadores norte-americanos que influenciou o início e o desenvolvimento da lepidopterologia nos EUA.
ResumoO objetivo principal deste artigo é demonstrar a importância que tiveram os animais na configuração da paisagem natural da cidade do Rio de Janeiro durante a segunda metade do século XIX e primeira década do XX, período marcado por grandes transformações urbanas, socioculturais, político-econômicas, científico-tecnológicas e ecológico-ambientais. Para alcançar esse objetivo utilizamos algumas referências feitas por Machado de Assis ao longo de sua obra sobre as intrincadas relações entre o ser humano, os animais, a tecnologia e o meio ambiente urbano. Palavras-chaveHistória dos animais. Rio de Janeiro. Machado de Assis. great urban, sociocultural, politic-economical, scientific-technological, and ecologic-environmental Abstract The goal of this article is to demonstrate the importance that the animals had in the natural landscape setting of the city of Rio de Janeiro during the second half of the nineteenth century and the first decade of the twentieth, a period marked by
Desde sua fundação a cidade de São Paulo tem sido objeto constante de observação, diletantismo, pesquisa. São inúmeras as análises, descrições, relatos, opiniões, crônicas e memórias referente às singularidades, contingências e características desse complexo espaço urbano.O dia estava delicioso, e a pureza do horizonte imaculado dava um brilho luminoso ao espetáculo que se desenrolava diante de nossos olhos. No extremo de uma paisagem infinita, acidentada com a elevação das colinas e o leito de aveludadas planícies, viam-se transparecer por entre a verdura, as torres das igrejas e as paredes alvas das habitações da cidade de São Paulo, reclinada aos pés do rio Tamanduateí e do ribeirão Anhagabaú, envolta ainda nesse manto de ligeiros vapores com que a natureza desperta de seu sono nas primeiras horas da manhã. Entramos finalmente em São Paulo pelo lugar chamado Brás. É um dos arrabaldes mais belos e concorridos da cidade, já notável pelas elegantes casas de campo e deliciosas chácaras onde residem muitas famílias abastadas, ao lado, todavia, de alguns casebres e ranchos menos aristocráticos, mas que nem por isso deixam de formar um curioso contraste. 2 Relatos como esse é freqüente entre os registros de visitantes que por São Paulo passaram durante o século XIX. A paisagem natural na qual estava envolvida a cidade, o amplo panorama visual que a inexistência de altas construções possibilitava e a baixa densidade demográfica que dava às suas ruas uma relativa tranqüilidade, exercia forte impressão a quem nela chegasse. Era comum, como ocorrera a Zaluar entre 1860 e 1861, essa espécie de deslumbramento perceptivo frente a uma localidade marcada ainda por fortes elementos naturais. Spix e Martius, percorrendo-a em 1817, declararam que eram "belos os arredores de São Paulo" e que o viajante, estando em seus pontos mais elevados, teria "uma extensa vista sobre a região, cujos alternados outeiros e vales, matos ralos e
John Frederick Walker. Ivory’s ghosts: the white gold of history and the fate of elephants. New York: Atlantic Monthly Press, 2009.
Reciprocidades em desequilíbrio: história das relações entre animaisEste suplemento da revista História, Ciências, Saúde -Manguinhos se propõe como número especial sobre a história dos animais. Surgiu da ideia de quatro pesquisadores brasileiros que se dedicam ao tema há alguns anos. Nós -Regina, Natascha, Gabriel e Nelson, editores -temos compartilhado o fascínio pelas possibilidades de pesquisa e reflexão no seio do Centro de Estudos dos Animais (CEA), inaugurado em dezembro de 2019. O CEA integra o grupo de pesquisa Coleção Brasiliana, sediado na Universidade Federal de Minas Gerais. Esta é uma de nossas primeiras iniciativas coletivas.Mas por que "especial"? Em primeiro lugar, por aspirar a um pioneirismo no campo historiográfico brasileiro. Após um levantamento bibliográfico, constatamos que várias revistas brasileiras de antropologia e outras áreas de humanidades já publicaram importantes dossiês sobre estudos animais, mas não encontramos nenhuma iniciativa do tipo nas mais destacadas revistas da área de história. A despeito do crescente número de bons trabalhos sobre história dos animais realizados por historiadores brasileiros, não houve, até agora, uma abordagem do tema para além de (louváveis) iniciativas individuais. Não há uma publicação coletiva que circule como uma espécie de pedra fundadora ou ato inaugurador dessa promissora área de interesse. Nosso intento é o de "botar esse bloco na rua" da historiografia feita no Brasil, lembrando aqui os versos da música de Sérgio Sampaio.O número é especial, em segundo lugar, por apresentar um recorte provocativo para a história dos animais, e isso se manifesta desde o título escolhido. Desejamos explorar "relações entre animais", e aqui abandonamos deliberadamente a dicotomia animais humanos/animais não humanos. Essa separação já clássica estabelece hierarquias, em vez de enfatizar conexões interespécies. Ela engloba, numa só categoria (não humanos), todas as espécies zoológicas, com uma única exceção (humanos). Mas também privilegia uma determinada correspondência (humanos ⇆ não humanos), em vez de abrir o pensamento ao horizonte múltiplo de relações entre os mais diversos animais, nos seus mais complexos vetores e redes. O questionamento da binaridade radical entre animais não humanos/ humanos recoloca aspectos biológicos, éticos e filosóficos da condição humana, "rebaixando a humanidade" (Walker, 2016, p.59). 1 Outro aspecto enfatizado desde o título que escolhemos reside nas reciprocidades em desequilíbrio. Pressupor a história dos animais de todas as espécies em termos relacionais implica considerar interdependências, coexistências, interações, reciprocidades. Todos são agentes, cada um a seu modo e em diferentes circunstâncias, mesmo que a maioria aja sem intencionalidade consciente (Maia, 2017). Essas reciprocidades oscilam, não obstante, em
It was in the 1980s that a new field in historical studies began to emerge, the animal history, or more specifically the history of human-animal relations. Harriet Ritvo – an eminent American historian and Emeritus Professor at Massachusetts Institute of Technology – is a pioneer in this field. Her career has been dedicated, among other activities, to researching, writing, teaching and lecturing on the subject. In this interview, Professor Ritvo talks about aspects of her academic trajectory, as well as important features of animal history, such as interactions between this area and other fields in which she also works: environmental history, the history of science and the history of technology.
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