Neste artigo, analisamos o estreito diálogo que existe entre o texto da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) de Língua Portuguesa do Ensino Médio (BRASIL, 2017) e o manifesto programático da pedagogia dos multiletramentos proposto pelo Grupo de Nova Londres (GNL, 1996). Para isso, faremos uma breve análise do surgimento dessa pedagogia em contextos internacionais e de como se deu a inserção dessa proposta pedagógica em contexto brasileiro, o que trouxe implicações para o componente Língua Portuguesa da BNCC. Por se tratar de uma pesquisa exploratório-descritiva, seguimos um percurso direcionado pelas abordagens didático-filosóficas da pedagogia dos multiletramentos no que se refere aos três eixos norteadores o “o que” (what), o “por que” (why) e o “como” (how). Em seguida, analisamos a relação do texto com os enunciados da BNCC que tratam dos campos de atuação, das práticas de linguagem e das habilidades. A partir desse estudo, vimos que o componente Língua Portuguesa do Ensino Médio dialoga com os princípios filosóficos e estruturais da pedagogia dos multiletramentos, de modo a trazer semelhanças lexicais, contextuais e metodológicas. Ao final do artigo, delineamos algumas reflexões sobre a ideia da colonização dos estudos sobre multiletramentos e como esta colonização pode influenciar um componente curricular no Brasil.
Neste artigo, exploramos a arquitetônica bakhtiniana como conceito teórico-metodológico para analisar a principal diretriz curricular brasileira, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). A partir das categorias de cronotopo, autor, forma, conteúdo e estilo, analisamos o componente de Língua Portuguesa da etapa do Ensino Médio, homologado em 2018. Destacamos a produção como multi-autoral, socioculturalmente inserida numa disputa política de tomada de poder depois do golpe de 2016, que culminou no impeachment da então presidenta do Brasil, Dilma Rousseff. Por meio da arquitetônica, dimensionamos a complexidade da BNCC para além de sua materialidade linguística. Em nosso estudo, vimos como os espaços de produção, circulação e recepção de um documento de impacto nacional se articulam a um espaço-tempo de ideologia neoliberal utilitarista e como a autoria de tal documento revela os interesses de estudos e pesquisas acadêmicos hegemônicos. No caso do componente Língua Portuguesa, há apenas a representação das vozes autorais da região Sudeste, além do silenciamento da voz dos docentes da Educação Básica. O texto não leva em conta a enorme pluralidade dos alunos que frequentam as escolas brasileiras, tampouco faz uma reflexão para o abismo estrutural que existe entre as escolas públicas e privadas de nosso país.
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