Rev Bras Enferm 2005 mar-abr; 58(2):176-9. INTRODUÇÃOA violência conjugal é um fenômeno cada dia mais presente no cotidiano de homens e mulheres, por isso tem se tornado uma preocupação de grupos de mulheres (feministas) e, mais recentemente, de grupos masculinos, que tentam compreender de que forma se constrói o fenômeno da violência entre homens e mulheres. Conforme Bustos(1) , a mulher foi criada para fazer companhia ao homem, num papel auxiliar e secundário. Assim, ao buscar a origem do homem e da mulher segundo a bíblia, o autor se reporta ao mito de Lilith, primeira mulher a ser criada por Deus, logo após o nascimento de Adão. Sicuteri apud Bustos(1) afirma que "quando Adão queria ter relações sexuais na posição mais natural, quer dizer, o homem por cima e a mulher por baixo, Lilith se queixava com inquietude: Por que devo 08, IAPI, Salvador, 388-6456 / (74) 8101-6878. lene.gomes@uol.com.br estar sempre por baixo de ti? Por que devo abrir-me debaixo de teu corpo? Por que devo ser dominada por ti? Se eu fui criada do mesmo pó, então só tua igual. Se sou tua igual, não te devo obediência (1) . Normélia Maria FreireNeste contexto, a mulher quebra a ordem sagrada, cometendo o pior dos pecados, haja vista ela questiona a ordem natural. Assim, a história traz Adão como vítima de Lilith, demônio, expulso do paraíso e condenada a torturas. Contudo, a segunda mulher constituída, por sua vez, pela costela de Adão, também encarna a revolução. Isto ocorre quando Eva desobedece, já não a seu marido, mas ao próprio Criador. No entanto, assim como Lilith, Eva também vai ser castigada: perde o paraíso; conhece a dor e é condenada a morte.A partir destas desobediências, se estabelece o domínio da mulher pelo homem. Estes mitos, entretanto, são cristalizados e interferem na construção das identidades feminina e masculina.Durante todas as fases de nosso desenvolvimento, sofremos influências de instituições como a família, a escola e a igreja. Elas transmitem normas e valores culturais, ensinando meninos e meninas a diferenciarem o que é próprio do sexo feminino daquilo que é específico do masculino, e assim reconhecer os papéis de cada sexo (2,3) .Desta forma, desde cedo aprendemos a realizar atos, assumir condutas, exercer ações, a nos comportarmos de forma apropriada, enfim, a representar os papéis atribuídos aos gêneros, o que influenciará na construção da identidade de gênero. Para Gebara (4) , essa construção cultural de gênero determina as diferenças entre os sexos, e a partir destas legitima tanto a inferioridade feminina quanto à dominação e hierarquia sexual e social do homem. Neste sentido, a desigualdade permite que relações violentas entre homens e mulheres sejam consideradas naturais.Neste sentido, as mulheres se ajustam aos papéis que a feminilidade determina, e tais papéis têm a ver com passividade, subordinação, sensibilidade, obediência, comportamentos que a sociedade espera que as mulheres tenham. Nada mais natural, portanto, para a sociedade, que a mulher lave, passe, cozinhe, cuide do marido e do...
scite is a Brooklyn-based organization that helps researchers better discover and understand research articles through Smart Citations–citations that display the context of the citation and describe whether the article provides supporting or contrasting evidence. scite is used by students and researchers from around the world and is funded in part by the National Science Foundation and the National Institute on Drug Abuse of the National Institutes of Health.
hi@scite.ai
10624 S. Eastern Ave., Ste. A-614
Henderson, NV 89052, USA
Copyright © 2024 scite LLC. All rights reserved.
Made with 💙 for researchers
Part of the Research Solutions Family.