O oriente de Funakoshi se projeta no karatê atual. Nesse viés, os deslocamentos de sentido da desportivização geram valores mesclados do Bushido que unem valores antigos e novos. Com isso o mestre perde autonomia diante da Federação que tende a investir numa estética padronizada e na educação do movimento. Isso acelera a desconstrução da prática que privilegiava o kata e o Bushido tradicional. Nesse sentido, objetiva-se analisar indícios de emergência de novos códigos culturais, caracterizadores de éticas mitigadas, como alternativas à ética do Bushido no sentido tradicional. Para atingi-lo, foi realizada uma pesquisa híbrida em que praticantes de Karatê Shotokan são questionados e entrevistados a partir do 1º Dan filiados à Federação de Karatê do Rio de Janeiro. Portanto, o estudo mostra que a ética do Bushido se desloca em direção a outros valores, ancorada na força imaginária do Bushido tradicional que pavimenta o campo para a legitimação de novos valores.
O estudo indica que os japoneses ressignificaram a imagem do samurai na era Meiji. Esse artifício mostrou-se eficiente para unificar a nova identidade japonesa dentro e fora do Japão com foco no Yamato Damashi, cuja força, mesmo fora do Japão, manteve o sentimento de pertença. O estudo indica que esse sentimento renova-se com a prática de artes marciais como o karatê que, mesmo esportivizado, mantém vivos os valores, os ritos e os rituais que reforçam a crença subjetiva numa origem comum.
O corpo-samurai, marca a identidade do Japão desde a era medieval. A genealogia desse corpo indica que ele assume formas diferentes em função do prestígio dessa imagem e de sua relação com o Bushido. Na era Tokugawa, privilegiado pelo poder, torna-se uma metáfora da sociedade, depois na era Meiji, torna-se ícone do Japão. E atualmente desloca-se para o plano simbólico. Nesse estudo, analisamos a eficácia desse corpo-samurai e sua ética no Karatê. Observamos que a apropriação dessa imagem altera a subjetividade dos praticantes e tende a reduzir a eficácia do Bushido.
O ensaio propõe reflexões sobre as estratégias usadas por Funakoshi para modernizar o karatê na era Meiji. Os resultados mostram que, ao deslocar o sentido da prática do karatê para ajustá-lo aos valores ocidentais, o Mestre abdicou do sentido tradicional do budo para investir numa via de formação onde a morte simbólica emerge como prioridade. Isso contribuiu para acelerar a desconstrução da imagem do samurai real e do bushido na modernidade. Funakoshi garantiu a sobrevivência da arte marcial, mas abriu caminhos para a emergência de éticas mitigadas e práticas não convencionais no karatê.
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