1 Por meio dessas pesquisas analisei o processo de atualização de valores e concepções de trabalhadores urbanos diante de princípios do cooperativismo que são os compartilhados pela economia solidária. Contribuí para a reflexão sobre as formas pelas quais iniciativas político-sociais que objetivam a construção do "ser democrático" são reapropriadas por famílias de trabalhadores urbanos, enfocando como homens e mulheres, cada um com suas práticas e representações particulares, reinventam o engajamento coletivo para "melhorar de vida", prática tradicional dos trabalhadores, em contextos mais amplos, que pode envolver instituições externas a eles. Tratei, também, da participação das mulheres nesse processo, que são maioria cooperadas. Busquei entender, sob a perspectiva das relações de gênero, como se dava a sua contribuição para a Cooperativa e como, na relação com seus pares, poderiam ser afetadas pela proposta de cooperativismo, que na Cooperativa Ipiíba, campo de pesquisa do qual falarei posteriormente, possui um viés religioso.O presente trabalho, que utiliza nomes fictícios dos cooperados, trata particularmente desta última questão, através da análise da divisão sexual do trabalho de construção de casas na Cooperativa Ipiíba e também da análise do engajamento das mulheres cooperadas em atividades de geração de renda em prol da Cooperativa e em atividades religiosas. Estas últimas de certa maneira identificam o grupo de cooperados e se coadunam com os princípios do cooperativismo.Para abordar essas questões, falo inicialmente da Cooperativa Ipiíba e da proposta do cooperativismo. Abordo a questão da divisão sexual do trabalho, a inclusão das mulheres em trabalhos tradicionalmente masculinos e o processo de negociação que isso implica. Em seguida trato da realidade das mulheres "comunitárias", tendo em vista a importância do engajamento religioso na configuração do cooperativismo. E finalmente abordo o artesanato "comunitário" de mobilização majoritariamente feminina que inclui filhos de famílias cooperadas e gerou recursos para a Cooperativa, ainda que essa iniciativa seja de maior importância simbólica que material.Assim, através deste artigo, pretendo contribuir para a maior visibilidade das mulheres trabalhadoras em contextos de cooperativismo, tendo em vista a sua crescente participação nesses espaços e a ausência de perspectivas teóricas que colaborem para a análise das relações de gênero envolvendo, de um lado, as ideias-valores das classes trabalhadoras, manifestas por meio de uma lógica hierárquica, e, de outro, as ideias-valores propostas pelo cooperativismo, representadas pela lógica igualitária, incluindo aí a igualdade de gênero. Para dar conta de relações mantidas entre homens e mulheres e desses entre si no espaço dessa cooperativa habitacional, fundamentei-me na categoria gênero, tal qual salientada no trabalho anterior citado.2 Ou seja, embora possamos partir da "categoria gênero como uma categoria universal do pensamento humano", posto que se refere sempre "à diferença biológica de sexo", ela ...
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