Nosso artigo propõe abordar o Movimento de Educação de Base a partir de uma nova perspectiva analítica. Diferentemente da historiografia sobre o movimento – que não discute o lugar desta força política nos debates agrários nacionais –, buscamos analisar a ação política do MEB no campo brasileiro, entre 1961 e 1964. Nesse sentido, discutimos como a natureza da reforma agrária foi caracterizada na cartilha “Viver é lutar”. Procuramos fazer uma análise bidimensional dessa cartilha, discutindo tanto sua estrutura textual como a conjuntura político-econômica na qual se inseriam – considerando-as, ao mesmo tempo, práticas sociais reflexivas dos conflitos de classe e elementos por meio dos quais se buscava intervir e alterar os modos de vida. Tal análise é fundamental para dar sentido histórico aos projetos e processos de desenvolvimento rural.
Analisamos como o episcopado brasileiro tratou a modernização agrícola em suas cartas pastorais, com o objetivo de entendermos como os discursos produzidos no interior da Igreja legitimavam e ressignificavam elementos da cultura brasileira e da ciência à época, a fim de manter a posição da Igreja como mediadora universal, aquela capaz de interpretar a dominação para os dominados e interpretar os anseios dos dominados para os dominadores. Procuramos fazer uma análise bidimensional das propostas, discutindo tanto sua estrutura textual como a conjuntura político-econômica na qual se inseriam. Para tanto, dividimos o artigo em três partes: na primeira, discutimos as principais características da ideologia da modernização; na segunda, analisamos como o episcopado brasileiro tratou a questão agrária, em especial a modernização agrícola, e a relação desse tratamento com os debates modernizadores internacionais; na última, apresentamos algumas das ações modernizadoras da Igreja no campo brasileiro, focalizando na atuação do MEB.
Teorias pecebistas e articulação dos trabalhadores rurais Em 25 de março de 1922, na região de Niterói, dissidentes do movimento anarquista dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Distrito Federal, mobilizados pelo sucesso da revolução bolchevique e inspirados pelas diretrizes da Internacional Comunista (IC), fundaram o PCB. Em seus anos iniciais, os pecebistas defendiam que o socialismo sucederia o capitalismo, após este sofrer progressivas crises estruturais geradas por suas próprias contradições; ou seja, o socialismo só poderia ser instaurado em países com um capitalismo "desenvolvido". Uma vez que o Brasil era interpretado como uma sociedade "semifeudal", seria necessário abrir caminho para o desenvolvimento do capitalismo, por meio da revolução democráticoburguesa, para assim construir as condições necessárias à constituição da classe operária, responsável por guiar o país em direção ao socialismo. Nesse momento, os trabalhadores rurais eram considerados "prépolíticos"-ligados aos traços feudais de exploração e submetidos aos abusos dos latifundiários-e, por isso, excluídos das estratégias pecebistas (SOARES, 2011). Em 1925, no II congresso do PCB, constatou-se a necessidade de aproximação dos trabalhadores rurais. Essa constatação ancora-se nas ideias defendidas por Octávio Brandão no seu livro Agrarismo e industrialismo, em que delegou aos trabalhadores rurais e urbanos a função de superar o feudalismo e o capitalismo, ao criarem e, posteriormente, superarem a classe média (WELCH, 2010; SOARES, 2010). Em fins de 1927, após ter sido colocado na ilegalidade, o PCB resolveu renomear o Bloco Operário como Bloco Operário-Camponês (BOC) (DEL ROIO, 2007). Esse "novo" bloco foi criado com o objetivo de ser uma frente eleitoral legal, que pretendia utilizar o apoio dos trabalhadores urbanos e rurais para angariar alianças com outros partidos e aproximar
Influenciados pelas discussões desenvolvidas por Álvaro Nascimento no artigo Trabalhadores Negros e o “Paradigma da Ausência”: contribuições à história social do trabalho no Brasil, pensamos este trabalho, cujo objetivo é analisar a instrumentalização da identidade negra nas estratégias argumentativas do Partido Comunista Brasileiro (PCB), das Ligas Camponesas e da Igreja Católica, forças que atuaram no campo brasileiro entre 1945 e 1964. Para tanto, consultamos um conjunto diversificado de periódicos e dialogamos com produções de diferentes centros de pesquisa.
RESUMO: Nosso trabalho consiste em analisar a utilização d'O Nordestejornal católico cearensecomo instrumento de propagação das diretrizes da hierarquia católica para o campo brasileiro. As mudanças pelas quais esse jornal passou entre 1961 e 1963, no que se refere ao trato da questão agrária, são elucidativas sobre o esforço despendido pela hierarquia católica na luta pela organização política do trabalhador rural. Adotando como referências teórico-metodológicas as ideias desenvolvidas por Jean-Noël Jeanneney, Norman Fairclough, Regina de Luca, Cruz e Peixoto, procuramos fazer uma análise bidimensional do discurso desse periódico, discutindo tanto sua estrutura textualvocabulário e estratégias argumentativascomo a conjuntura políticoeconômica na qual se inseria. Para tanto, dividimos o artigo em três partes: apresentaremos as formas de atuação da Igreja Católica no campo brasileiro; discutiremos a maneira pela qual O Nordeste noticiou os problemas rurais entre 1961 e 1963; debateremos como os trabalhadores rurais foram caracterizados por esse periódico. PALAVRAS-CHAVE: Imprensa; Trabalhadores rurais; Igreja; Questão agrária. O nordeste and the agrarian issue: speeches from a catholic journal to the cearense countryside, 1961-63 ABSTRACT: This article consists in analyzing the use of the O Nordeste-Catholic newspaper of Ceará-as a tool for spreading the guidelines of the Catholic hierarchy for the Brazilian countryside. The changes that this newspaper went through between 1961 and 1963, in relation to the treatment of the agrarian issue, are illustrative of the effort expended by the Catholic hierarchy in the struggle for the political organization of the rural worker. Adopting as theoretical-methodological references the ideas developed by Jean-Noël Jeanneney, Norman Fairclough, Regina de Luca, Cruz and Peixoto, we attempt to make a two-dimensional analysis of this journal's speech, discussing both its textual structure-vocabulary and argumentative strategies-and the politicaleconomic context in which it was placed. For this purpose, we divide the article into three parts: we will present the performance forms of the Catholic Church in the Brazilian countryside; we will discuss the way by which O Nordeste reported the rural problems between 1961 and 1963; we will discuss how the rural workers were characterized by this newspaper.
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