Resumo No paradigma da heteromação do trabalho, as mudanças operadas pela informatização da economia fazem com que uma massa expressiva de trabalhadores passe a desempenhar atividades essenciais, mas marginais. Objetiva-se, neste estudo, analisar as diferentes formas de microtrabalho heteromatizado remunerado presentes em território nacional, de maneira a lançar luzes compreensivas sobre as condições e especificidades do contexto laboral brasileiro. Para tanto, primeiro foi realizado um levantamento e descrição dos crowdworks de microtarefas em operação no Brasil. Depois, a partir do método netnográfico nos inserimos em 22 grupos de Facebook e de Whatsapp voltados a esse mercado (o que totaliza uma base de cerca de 16 mil perfis registrados) e os acompanhamos durante sete meses. Conclui-se que, no Brasil, há uma importante reserva de mão de obra de microtrabalho e que não estamos diante de um cenário isolado, monolítico e homogêneo. O microtrabalho está imbricado em novas formas de extração de valor da plataformização do trabalho e deve ser compreendido em meio a cadeias de produção mais amplas, globais, onde as condições de trabalho são polissêmicas, assimétricas e regidas mormente por países do Norte global.◊
No Brasil, quando tratamos da plataformização do trabalho, é ainda incipiente a literatura sobre o fenômeno que denominamos turkerização do trabalho, relacionado à terceirização de microtarefas em plataformas específicas, como Appen e Amazon Mechanical Turk, por exemplo. Por meio de um estudo teórico-reflexivo, objetivamos demarcar algumas particularidades do trabalho turkerizado, de maneira a contribuir com a exploração da heterogeneidade e polissemia que assume a noção de trabalho digital na atualidade. Ao passo que representa a radicalização da flexibilização do trabalho, compreendemos a turkerização como o arquétipo de formas de trabalho que parecem se proliferar em nossa sociedade, marcadas notadamente por algumas características centrais: 1) o trabalho tende a ser cada vez mais encarado como serviço; 2) exacerba-se a competição a ponto de trabalhadores de diversas geografias do mundo concorrerem entre si, em tempo real, na busca por rendimentos financeiros; 3) os processos de trabalho são cada vez mais condicionados pela gestão algorítmica, o que limita as vias de comunicação entre os trabalhadores, coloca obstáculos à mobilização coletiva e produz efeitos paradoxais no âmbito das dinâmicas de prazer, sofrimento e reconhecimento no trabalho.
O presente artigo apresenta uma análise da literatura a respeito do bullying e do assédio moral no trabalho, a qual fornece dados para um exercício de reflexão e compreensão de ambos os fenômenos por meio de postulações provenientes da psicanálise e da psicossociologia, com ênfase à noção de narcisismo. O viés metodológico adotado refere o estabelecimento de um paralelo entre as ações que caracterizam o bullying e o assédio moral no trabalho com as particularidades da constituição narcísica e seus desdobramentos manifestos. Também é realizada uma articulação entre o narcisismo e o modelo de vida e trabalho dominante nas sociedades capitalistas globalizadas, a princípio mediante uma contraposição entre a modernidade e a contemporaneidade, em que se pretende demonstrar a influência indireta que o modelo econômico-produtivo dominante exerce nos processos de constituição psíquica e, posteriormente, mediante uma articulação entre o narcisismo e as sociedades de consumo.
Em 2020, após o desencadeamento da pandemia da COVID-19 e das exigências de distanciamento social definidas por autoridades sanitárias, observamos sucessivas queixas de ansiedades e angústias, oriundas da comunidade discente da universidade onde estamos inseridos. Logo, propusemos a realização de um grupo operativo, nomeado Grupo de Trocas de Vivências em tempos de pandemia, direcionado a estudantes universitários, com o objetivo de construir estratégias de apoio psicossocial com os participantes. O grupo, composto por sete estudantes, foi iniciado em junho de 2020, os encontros ocorreram semanalmente, de forma remota (on-line) e foi finalizado no mês de setembro de 2020. Tal dispositivo foi baseado nas contribuições de Pichon-Rivière, em diálogo com a Análise Institucional e a Psicossociologia. No presente artigo, são discutidos os nove principais temas que emergiram nos encontros, em contextos variados, ao longo dos meses em que transcorreu o projeto de extensão. Enfim, compreende-se o grupo como um espaço que favoreceu os processos de emancipação e construção de novas experiências, o que permitiu o acolhimento das demandas afetivas apresentadas pelos estudantes. Ademais, o grupo foi veículo de fortalecimento dos vínculos entre os estudantes, mesmo em tempos de isolamento social, o que proporcionou maior autonomia com relação às reflexões sobre o momento atual.
A psicossociologia oferece um arcabouço teórico-metodológico profícuo à compreensão e exploração das relações entre os conflitos vividos no cenário laboral atual, o sofrimento dos trabalhadores e as contradições organizacionais. Nessa esteira, o objetivo desse estudo é compreender como se dá a construção do trabalho de escuta em intervenções psicossociológicas nas organizações e elucidar qual o papel da implicação do interventor e dos próprios trabalhadores nesse contexto. Como os autores desse trabalho conduzem intervenções psicossociológicas em organizações públicas e privadas, os dados explorados provêm de suas práticas cotidianas, a partir do método das ‘reminiscências dos pesquisadores’ e mediante abordagem qualitativa e descritiva. Para além do tempo cronológico e para possibilitar a superação da intervenção pela via estrita da objetificação dos comportamentos, nas organizações esse trabalho compreende a construção de uma escuta que se operacionaliza em dois momentos distintos: ‘do acolhimento e retorno à historicidade, e das elaborações mais direcionadas à atividade produtiva de cada trabalhador’. A implicação, por sua vez, não representa um obstáculo metodológico a ser neutralizado, senão que se desvela um componente fundamental à consolidação do vínculo com os trabalhadores, contando que ela seja reconhecida e devidamente trabalhada. A empatia, a sensibilidade, o reconhecimento do outro e de suas diferenças, a superação de modelos ideais e cristalizados, bem como a implicação na realização de um trabalho efetivo que abra espaço para interrogações críticas, constituem ingredientes fundamentais dessas intervenções.
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