A música e o verso livre em Manuel Bandeira Maryllu de Oliveira Caixêta 1 RESUMO: Esse artigo trata do poema "Noturno da rua da Lapa" de Manuel Bandeira. A princípio, abordaremos o aspecto da musicalidade por que visamos algumas mudanças na obra de Bandeira desde a herança romântico-simbolista até a modernidade do verso livre. Nossa hipótese é de que o ritmo do verso livre, em Bandeira, ultrapassa o essencialismo para aderir, em alguns casos, à forma musical, a exemplo do noturno.
No conto de Tutaméia “Reminisção”, Romão demonstra amor incondicional por sua mulher. No final, ela transfigura-se abraçada ao marido que “morre”. O conto oferece uma alegoria parodística da função de Rosa, o autor que supera a sobredeterminação da literatura brasileira ao regionalismo e às cópias falsas de modas estrangeiras. O índice de Tutaméia assinala alguns contos que metaforizam o ponto de vista de João Guimarães Rosa sobre a ordem na qual participa e intervém. Parece-me que o conto “Reminisção” oferece o ponto de vista de Rosa a respeito da função de seu nome de autor regional-universal, na evolução da história da literatura brasileira. Para estudar o modo como essa função se constituiu, considero a contribuição decisiva de Antonio Candido, a partir da estreia do ficcionista nos anos de 1940 e também no ensaio dos anos de 1970 que o consagra escritor superregionalista latino-americano. Para analisar “Reminisção” como alegoria parodística da função de autor regional-universal, separo o conto em três partes correspondentes a três fases de evolução da história do regionalismo; depois analiso o modo como o vocabulário exótico do conto contribui na indeterminação de seu sentido, e proporciona ao leitor a materialidade dos contornos da metafísica da superação pressuposta na função transfiguradora parodiada.
Algumas resenhas de Jorge Luis Borges dedicadas a Edgar Allan Poe consideram este último o pai de uma curiosa genealogia das poesias modernas e das vanguardistas. Críticos e contistas também consagraram Poe à posição de pai dos contos modernos e da teorização desses contos no continente americano. Comparando-o aos demais escritores da literatura onírica estadunidense, Borges assinala o pendor dos contos argentinos a um realismo intranscendente. Borges aponta tendências diferentes nos contos dessas literaturas, a partir de considerações sobre críticas feitas por Poe às alegorias metafísicas de Nathaniel Hawthorne. Confirmando essa crítica, Borges chega a perguntar pela possibilidade de uma estratégia retórica heteróclita, como a alegoria, nomear aquilo que Hawthorne se impõe: a inteireza una da fábula. Este artigo propõe um comentário de resenhas de Borges a respeito de Poe e chama a atenção para a prevalência de um realismo intranscendente semelhante, na história da literatura brasileira.
A identidade problemática da América Latina reflete-se na recorrência do tema na literatura realizada nessa parte do continente. As imagens de Caliban, do antropófago e a atribuição de um sentido barroco à experiência latino- americana caracterizam uma parte expressiva da literatura em questão. O “Concierto Barroco” de Carpentier exemplifica, por meio do personagem Amo, as dificuldades da elite crioula em encontrar uma origem nobre para si na Europa de seus avós e mesmo de identificar-se com ela. O personagem escravo músico Filomeno naturaliza a fabulação, assim como o Amo, e transita abusadamente entre as hierarquias, alegorizando o sentido barroco da identidade em questão. O jazz é o produto crioulo, antropofágico e barroco de negros cuja origem apagada na história foi substituída pela fabulação nos spiritual, num caminho musical que renovou a música moderna no mundo todo. É significativo que Carpentier tenha criado por meio de Filomeno a unidade da experiência americana, cuja fronteira é o México. PALAVRAS- CHAVE: barroco; antropofagia. Literatura latino- americana.
Este artigo aborda três autores de literaturas de língua portuguesa, procurando situá-los a partir de certos questionamentos, aportados por teorias do pós-colonial, e afinados com uma provocação lançada por Saramago, em um romance de 1986. Começo considerando essa provocação, no A jangada de pedra, sobre a integração de Portugal à Europa, ao Ocidente. A partir dela, faço alguns apontamentos sobre a função integradora pressuposta no nome canônico de Guimarães Rosa, que emergiu em um momento decisivo na modernização do país, articulando coisas conflituosas como o regional e o universal. Estudo possíveis similaridades entre o modelo canônico de Rosa e o de Mia Couto, que tendo atuado no processo de independência de seu país, foi ativo nessa transição modernizadora. Parece-me que teorias do pós-colonial, assim como a metáfora crítica de Saramago, ajudam a pensar certos contornos desses dois modelos universais, pertencentes a literaturas de ex-colônias de Portugal. Com o fim de esboçá-los, farei algumas observações sobre o projeto editorial do Antes das Primeiras estórias [2011], uma antologia póstuma de contos do jovem Guimarães Rosa, prefaciada por Mia Couto. Considerarei possíveis transferências do modelo de Rosa ao de Mia Couto.
Tutameia: terceiras estórias foi a última produção literária editada por João Guimarães Rosa, em vida. Apesar de ter sido um livro bastante vendido, já desde o final da década de 60, Tutameia não foi muito estudado pela crítica nos primeiros vinte anos de edição. Tutameia: engenho e arte, de Vera Novis, atribuia reação da primeira crítica ao humor excessivo e às inúmeras inovações estruturais. Com base no artigo “Grande sertão: veredas e o ponto de vista avaliativo do autor”, de João Adolfo Hansen, infiro que Tutameia, notadamente seus quatro prefácios, avalia, para o leitor, as próprias estruturas narrativas que inovam por negarem e ironizarem padrões tradicionais de representação como o clássico e o realista. Tutameia reverte os modelos clássicos de mímesis que, de acordo com Mímesis e modernidade, de Luiz Costa Lima, pressupõem a dualidade do real e do representado. Ao elogiar o caráter épico de alguns romances, Lukács afirmava, sob a influência de Hegel, que a forma ainda poderia servir de mediação à realidade com o auxílio dos sistemas filosóficos e dos modelos do discurso histórico. Contra essa possibilidade, um romântico como Friedrich Schlegel propusera o romance como forma negativa na aurorada modernidade, quando escritores intelectualizados e metafisicamente sós não poderiam compartilhar experiências comunitárias, mas endereçar formas irônicas quanto ao próprio caráter demasiado humano a leitores igualmente solitários. Este artigo apresenta alguns aspectos da primeira recepção de Tutameia para pensar seu silêncio como uma reação ao humor e à hipertrofia da forma que ironizamos padrões clássico e realista de representação.
Proponho uma leitura do conto “Intruge-se”, que faz parte de Tutaméia: terceiras estórias, de João Guimarães Rosa. Trata-se de uma paródia de conto policial ambientado no sertão e protagonizado por vaqueiros que traziam uma boiada do Saririnhém quando se deparam com um crime. O protagonista não é um policial, mas o capataz Ladislau, que se encarrega de descobrir qual dos vaqueiros teria esfaqueado Quio. O conto recusa atender qualquer expectativa de um método ou de um raciocínio dedutivo que costumam ser os pontos fortes de um investigador, como nos contos realizados e teorizados por Edgar Allan Poe; e essa distorção faz o sentido da narração deslizar do investigador para a alegoria do autor que assinala o caráter cindido do sujeito e questiona o prestígio dado a ele nas sociedades modernas. A paródia do conto policial em “Intruge-se” integra um conjunto de contos de Tutaméia que propõem uma alegoria do autor. Esse artigo elaborará uma análise da paródia e da alegoria no conto de Rosa segundo a recusa da transparência da linguagem da qual trata Barthes com base na afirmação freudiana de que o caráter cindido do sujeito correlaciona-se à dualidade do signo. A investigação desarrazoada de Ladislau encena a perspectiva do autor que recusa padrões de representação realista como os utilizados no conto policial. O autor avalia o gênero conto como interferência no conto policial e aproxima-o da estória ou de uma invenção cujo valor consiste em intervir nas convenções narrativas para liberar a produção de sentido.Palavras-chave: Guimarães Rosa. Tutaméia. Intruge-se. Autor.
RESUMO Estudo algumas paródias oswaldianas de certas noções, formuladas por Graça Aranha, quando considerava, em chave racialista e pessimista, ser a incipiente imaginação metafísica dos povos nacionais primitivos o motivo da paralisia do país. Como questão de fundo, destaco nas representações da cultura nacional, por Graça Aranha, a impregnação de um pessimismo racialista duradouro. Considero essas paródias, particularmente, em dois momentos distintos: na radicalização antropofágica, ante a dominância de discursos racialistas e metafísicos; e na frustração, manifesta n’O rei da vela, quanto à modernização conservadora.
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