Levando em conta a perspectiva histórica, examino, neste artigo, a relação entre uma nora e uma sogra hindu numa rede migratória que envolve Diu - Índia, Moçambique, Portugal e Inglaterra. Esta reflexão faz parte de uma pesquisa sobre a família hindu em Moçambique, estabelecendo um diálogo crítico com estudos que analisam a família hindu como o lugar de reserva das marcas identitárias das populações às quais se atribui origem indiana em África. Inspirada na literatura antropológica, que enfatiza a relação entre os sistemas de relação e o tempo, procuro destacar a flexibilidade das hierarquias das quais participam as mulheres casadas indianas no contexto contemporâneo de Moçambique.
ApresentaçãoGênero, famílias e reprodução social (mais ainda quando assim, justapostos) são temas que se pode definir como clássicos no campo da antropologia: sua vinculação, direta ou indireta, ao estudo de redes sociais baseadas em parentesco e à forma com que se conferiu um lugar central a esses estudos, que tão recorrentemente se pensaram (e tão habitualmente foram aceitos como tal) enquanto tipo de núcleo privilegiado de geração de teoria antropológica (Cf. Kuper, 2008), fez com que o desenvolvimento desses temas fosse, ao menos em parte, indiscernível do percurso histórico da própria disciplina. Contextos etnográficos em África, malgrado as várias imprecisões ou o caráter fugidio que essa definição comporta, poderiam facilmente ser tratados como igualmente clássicos (Jardim e Marques, 2013). Seja pelo peso institucional de determinadas linhagens, notadamente, nesse caso, o das ditas tradições britânica e francesa, seja pelo potencial realmente instituidor de algumas obras em particular (obviamente tributário, em alguma medida, das circunstâncias históricas de sua produção), o processo pelo qual, nesse "momento expansivo" (Goody, 1995), a consolidação da antropologia como disciplina erigiu um conjunto de preocupações nodulares (dos quais os temas citados são parte), tornou igualmente canônicos alguns dos cenários em que tal expansão se deu. Diferentes localidades na África subsaariana (talvez só encontrando equivalentes na América indígena e, evidentemente, em distintas partes da Oceania), bem como um arsenal de conceitos e categorias nelas (ao menos em princípio) detectáveis ou nelas emergentes passaram, assim, a compor o vocabulário elementar e o mapa mental de "referências, experiências e afetos" (Said, 2003) pelo qual a disciplina se definiu.De toda forma, parentesco e etnografia africanista são duas categorias que sintetizam acúmulos fundamentais e sobre os quais estabeleceram-se importantes movimentos da disciplina.
Este artigo apresenta reflexões de uma pesquisa etnográfica sobre amuletos e encantos do Pitt Rivers Museum. Pretende contribuir com reflexões críticas sobre a produção do conhecimento. Apresenta os desafios e as práticas dos antropólogos contemporâneos na gestão, no estudo e na exibição de amuletos e encantos de outras sociedades. Evidencia a constante noção de transformação na história do museu. A seguir, registra reflexões acerca de inesperadas experiências na pesquisa: recente resultado de pesquisa da equipe do museu; Movimentos de uma etnografia em grupos de cantos; as quais sugerem investigação em torno de amuletos e encantos contemporâneos. Finaliza resgatando o potencial da etnografia realizada na prática de cantar coletivamente. Assinala a importância de uma atitude crítica diante de categorias de análise e pressupostos reproduzidos pela antropologia e permitidos pela posição ocupada pela disciplina e por suas alianças – muitas vezes silenciadas – com as práticas hegemônicas de produção de conhecimento.
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