falar não é a "expressão" do pensamento de um sujeito que utiliza a linguagem como instrumento, mas entrar numa instituição que domina o sujeito. Falar é entrar nessa "ordem do discurso", para retomar uma fórmula de Foucault. (2000, in Guirado, 2000, P. 22) Eis aqui explicitadas, nessas poucas palavras, as referências teóricas e metodológicas de nosso trabalho: a psicanálise, o pensamento de Michel Foucault, a Análise do Discurso de Dominique Maingueneau, ou seja, tudo aquilo que foi reunido e articulado no trabalho ímpar de Guirado [(1986)2004, (1995)2006, 2000), ou no método por ela mesma denominado "análise de discursos" [GUIRADO, (1994)2006, passim]. Isso nos remete a uma certa concepção de sujeito e de discurso, resultando numa analítica própria, que Guirado sintetizou por meio do termo "sujeito-dobradiça", ou um certo modo de conceber o sujeito, não mais em relações de externalidade com a instituição, mas como efeito, até certo ponto singular, de sua posição institucional. Nas palavras de Guirado [(1987)2004, p. 111]: Esta concepção privilegia a posição na estrutura institucional e não as características ou capacidades individuais e pessoais. Assim os conflitos, os distúrbios, os desvios, as inadequações são considerados, sobretudo, como expressão da articulação de posições e não como sintoma de um indivíduo que está na instituição. (grifos da autora)
O processo judicial impõe ao conflito familiar uma forma triangular, constituída de duas partes litigantes que demandam a decisão de um terceiro, o juiz. A análise institucional do discurso, por meio de suas concepções de discurso, de sujeito, de instituição e de transferência, contribui para melhor compreensão do lugar do perito-psicólogo na cena processual configurada pela instituição judiciária e para um debate mais consistente sobre os diversos fatores implicados em suas ações. Por meio dela, podemos compreender como se constitui o perito psicólogo a partir da triangulação configurada no processo e a importância da análise da transferência processual. A leitura crítica dos autos é o primeiro passo dessa análise, e contribui para posicionar o perito em relação à demanda da instituição. A entrevista, que coloca o perito em contato direto com os litigantes, evidencia a relação de exterioridade que, não obstante demandado pelo processo, o saber psicológico mantém em relação ao Direito. Expectativas e afetos, bem como possíveis efeitos subjetivos da relação com o perito, devem ser considerados. O laudo é o momento em que o perito psicólogo toma a palavra no processo judicial e tem um caráter interventivo. A perícia, como prova judicial, afirma-se em uma certa vontade de verdade característica da instituição jurídica e, ao mesmo tempo, na intenção do perito de, como coadjuvante da cena processual, nela produzir efeitos singulares. É importante que se reconheça que o que se produz na perícia judicial não é a Verdade, mas uma verdade relativa, a atribuição de um sentido possível ao conflito configurado no processo.
Introdução: a Síndrome do Túnel do Carpo (STC) é caracterizada pela compressão do nervo mediano na área em que este atravessa a região do carpo. Além de sintomas físicos dolorosos e incômodos que podem resultar em limitação de atividade e incapacidade para o trabalho, a STC está ligada a sintomas afetivos e emocionais, bem como mudanças no âmbito familiar, no trabalho e no auto-cuidado que podem refletir na adesão ao tratamento proposto. Os pacientes vivenciam angústia por seu quadro não ser visível, o que gera descaso social e familiar. em virtude de tais demandas, identificadas pela equipe do ambulatório de terapia de mão de um grande hospital, foi proposto um trabalho interdisciplinar de cuidado integral a um grupo de portadores de STC, envolvendo estagiários e docentes dos Cursos de Psicologia e de Terapia Ocupacional de uma universidade pública, com base no princípio pedagógico de formação de profissionais voltados para o trabalho interdisciplinar e humanização da saúde. Objetivos: Geral: Oferecer aos pacientes de um grupo de portadores de STC um tratamento que vá além da reabilitação física, identificando e propondo respostas a demandas que não são apenas da doença ou do trauma físico, mas interferem no tratamento e, mais ainda, na vida do sujeito como um todo. Específicos: (1) Tornar o grupo de reabilitação um espaço de identificação com o outro, troca de experiências, acolhimento, socialização, ampliação da rede de suporte social entre os participantes, sendo abordadas suas demandas físicas e emocionais. (2) Proporcionar aos alunos de ambos os cursos a possibilidade de uma integração entre teoria e prática, por lidar direta e pessoalmente com as questões ligadas à intedisciplinaridade e à intersubjetividade nas relações que envolvem equipes de saúde, profissionais e pacientes no contexto da instituição hospitalar. Resultados: Durante 16 encontros foram desenvolvidas atividades de reabilitação de membros superiores integradas a técnicas de redução de ansiedade e rodas de conversa temáticas entre profissionais e pacientes, que possibilitaram a expressão de sentimentos e sensações decorrentes do quadro clínico e a discussão de situações que direta ou indiretamente interferem no tratamento. em resultado, o grupo de pacientes apresentou melhor capacidade de automonitoramento frente a pensamentos disfuncionais e à ansiedade, tornando-se mais participativo e ativo frente à doença e suas consequências sociais e familiares. Conclusão: Este trabalho promove a participação social de seus agentes, contribuindo para o desenvolvimento de instrumental teórico e metodológico capaz de transformar as tradicionais práticas de educação em saúde e de autonomia para os sujeitos. Desta forma, sugere-se a continuidade da parceria desenvolvida entre universidade e serviço, para que profissionais e estagiários de Psicologia e Terapia Ocupacional possam promover um cuidado integral e humanizado às necessidades do portador de Síndrome do Túnel do Carpo.
Perder um membro gera mudanças bruscas que remetem à necessidade de reconstrução da imagem corporal e da identidade por parte do sujeito. Dolto (1992) distingue esquema corporal, o corpo em sua realidade física, e imagem inconsciente do corpo, fruto da história pessoal, síntese das vivências inter-humanas fundamentais do sujeito. uma transformação do esquema corporal por lesão deve ser acompanhada da elaboração subjetiva das vivências experimentadas nesse processo, de modo a reconstruir a imagem corporal. o grupo constitui um espaço de circulação de palavras e afetos que favorece a elaboração subjetiva, contribuindo de modo significativo para a tal reconstrução. Nessa perspectiva trabalhou-se com um grupo de pacientes que tiveram membros superiores amputados, em parte ou totalmente, atendido pelo Ambulatório de Terapia de Mão de um grande hospital. As atividades foram desenvolvidas por estagiários dos cursos de Terapia Ocupacional e de Psicologia de uma universidade pública, com base no princípio pedagógico de formação de profissionais voltados para o trabalho interdisciplinar e humanização da saúde. Objetivos: Geral: Oferecer a um grupo de pacientes amputados um tratamento que vá além da reabilitação física, identificando e propondo respostas a demandas que não são apenas da doença ou do trauma físico, mas interferem no tratamento e, mais ainda, na vida do sujeito como um todo. Específicos: (1) Tornar o grupo de reabilitação um espaço de identificação com o outro, troca de experiências, acolhimento, socialização, ampliação da rede de suporte social entre os participantes, favorecendo a reconstrução de sua imagem corporal. (2) Proporcionar aos alunos de ambos os cursos a possibilidade de integração entre teoria e prática, por lidar direta e pessoalmente com as questões ligadas à intedisciplinaridade e à intersubjetividade nas relações que envolvem equipes de saúde, profissionais e pacientes no contexto da instituição hospitalar. Resultados: Durante 20 encontros foram realizadas atividades integradas de Terapia Ocupacional e Psicologia, nas quais foram trabalhadas questões relativas à imagem corporal e identidade e sintomas oriundos da amputação, seu tratamento e possíveis adaptações. Durante a realização de um bloco de dinâmicas relacionadas a autoimagem e identidade, surgiram temas referentes à auto estima, vergonha, dificuldade de olhar para o coto e culpa, que se refletem no convívio social e nas relações familiares. Conclusão: As atividades integradas entre os estágios de Psicologia e de Terapia Ocupacional, com preceptoria e supervisão por parte de profissionais do serviço e docentes da universidade, comprovou a importância de um trabalho interdisciplinar com os pacientes amputados. Considerase também a continuidade e ampliação do trabalho, comparticipação de profissionais e/ou estudantes do curso de Serviço Social. Assim os aspectos social, físico e emocional poderão ser cuidados de modo mais efetivo, integral e humanizado.
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