FEIJÓ. O revolucionário cordial: Astrojildo Pereira e as origens de uma política cultural. São Paulo, Boitempo, 2001. Mariza LajoloO revolucionário cordial é um belo livro, elegante e apaixonado, mas que a cada linha parece brigar com a própria paixão, ficando para o leitor o direito de escolha a qual das duas vozes aderir: à voz das entrelinhas que manifestam admiração grande e generosa por Astrojildo Pereira, ou à voz das outras tantas linhas (sobretudo as com letras miudinhas nos rodapés) que ficam policiando a paixão, relativizando a solidariedade, polemizando consigo mesma.Ao longo de todo o livro, encontramos um autor lutando para conter seu envolvimento com o tema, para deixar à tona apenas o rigor da pesquisa que reconstrói vida e obra de Astrojildo Pereira, figura gauche na história brasileira. Quem sai ganhando é o leitor, que acaba tendo em mãos um ensaio que expõe, nesta fratura coração/razão, as melhores marcas do gênero.Feijó acompanha de forma meticulosa a trajetória de Astrojildo Pereira no contexto da histó-ria brasileira. Nasce daí sua tese maior, a qual inclusive, dá nome ao livro: definir Astrojildo pelo atributo da cordialidade tal como a concebe Sér-gio Buarque de Holanda, cujas relações com Astrojildo Pereira, aliás, Feijó registra.Não é a primeira vez que este pesquisador toma como tema de pesquisa a figura de Astrojildo. Em 1985, é de sua lavra a Formação política de Astrojildo Pereira (São Paulo/Rio de Janeiro, Novos Rumos/Instituto Astrojildo Pereira), obra sisuda, amarrada e compacta mas que já prenuncia o trabalho mais recente. De lá para cá, Feijó temperou a mão. Liberado das pesadas amarras de um texto ideologicamente preso, como era o que se ocupava da formação política de Astrojildo, no ensaio de agora, o autor traça um retrato com muito mais perspectiva deste comunista que nasceu em Rio Bonito, morreu no Rio de Janeiro, e que não deixou filhos: deixou lições importantís-simas para a cultura e a política brasileira.É esta herança que Feijó resgata e discute em O revolucionário cordial, pisando em ovos talvez por serem ainda muito mal-assombrados certos bastidores da história do Partido Comunista Brasileiro, partido que Astrojildo ajudou a criar e com o qual parece ter vivido sempre às turras.Buscando em A rosa do povo (Drummond de Andrade) versos com os quais abre seu livro, Feijó tem como objetivo estabelecer "uma ponte para o diálogo com homens de tempos partidos, sem julgá-los, mas tentando compreendê-los no tempo que lhes foi dado para viverem" (p. 13).Na esteira do amargo trocadilho do poeta, que embaralha leitores entre diferentes sentidos da palavra partido, este livro realiza e mesmo ultrapassa seu projeto original: ao dar prosseguimento aos múltiplos significados da metáfora drummondiana homens partidos, Feijó encontra aí um antídoto seguro para o engessamento que poderia representar a transformação de Astrojildo em paradigma do intelectual às voltas com as exigências da militância partidária.O revolucionário cordial é organizado em torno de duas vertentes, cada uma refl...
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