A economia é uma fotografia da realidade ou um elemento de formatação da realidade social? Publicações mais ou menos recentes em ciências sociais testemunham o interesse por esta problemática -em posições e domínios de observação diversos (Cf. Garcia-Parpet 1996; Mackenzie et alli 2007;Neiburg 2006). 1 Neste artigo, nós propomos a nos debruçar sobre as transformações ocorridas na agricultura francesa no período do pós-guerra. Para tanto, estudamos a criação e a produção da revista Economie Rurale, analisando seus enunciados, a identidade social de seus autores, procurando associá-los ao espaço social e científico no qual se inscrevem, o que deveria permitir a compreensão de sua conexão prática com a ciência e a realidade econômicas. Mais precisamente, desejamos ver, através do filtro constituído pela revista, o papel das instituições de pesquisa e dos cientistas que contribuíram para a mudança radical vivenciada pela França rural nos trinta anos que se seguiram à Liberação, verdadeira revolução técnica, econômica e simbólica, após a qual o "camponês" tornou-se "agricultor", "dirigente de empresa". 2 Ao analisar os artigos da revista e as produções conexas, procuramos compreender em que medida a revista contribuiu para forjar e transmitir esquemas de percepção da atividade econômica e das práticas que permitiriam ao movimento da Juventude agrícola católica e à sua representação no sindicalismo (CNJA) -que apostavam no progresso técnico e na organização dos produtores para assegurar a promoção social e humana da massa dos pequenos produtores (Duby & Wallon 1976) 3 -impor um modelo de exploração agrícola limitado ao período de criação e aos 25 primeiros anos de seu funcionamento, ou seja, os anos que se seguiram às leis de orientação agrícola. 4
O artigo inicia com o exame da associação inabitual de etnografias sobre o mundo rural da Cabília com métodos estatísticos, por ocasião das pesquisas pioneiras de Pierre Bourdieu na Argélia, nos anos 1960. Esses trabalhos serviram de fonte de inspiração para as investigações sobre as grandes plantações canavieiras no Nordeste, efetuadas por jovens docentes e estudantes inscritos em Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) do Museu Nacional (MN). Diante da ameaça de fim desse curso superior por interrupção dos financiamentos internacionais, novo projeto de pesquisas coletivas foi concebido por professores e estudantes para a salvação do PPGAS, em que a referência às obras realizadas na Argélia foram centrais para legitimar o uso de métodos antropológicos no estudo de questões habitualmente analisadas por economistas e cientistas políticos. Esse ponto foi decisivo para obter novos patrocinadores à pós-graduação baseada em pesquisas. Os autores sintetizam as investigações realizadas no quadro do projeto “Emprego e mudança socioeconômica no Nordeste”, sua contribuição para melhor entender o mundo rural no Brasil, e revelam como permitiram a intensificação do diálogo com Bourdieu e sua equipe na França e o desenvolvimento de modos de cooperação científica originais. O desenraizamento maciço das clientelas que viviam no seio das plantations açucareiras, expulsas para periferias das cidades desde os anos 1960, aprofundou a hierarquia implantada com a instalação de casas-grandes e de senzalas.elocation-id: e2230208Recebido: 9.jul.2022 • Aceito: 17.out.2022 • Publicado: 2.dez.2022Artigo original / Revisão por pares duplo-cego / Acesso aberto
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