Expandindo-se para além dos espaços ficcionais, a obra de Clarice Lispector (1920-1977) caracteriza-se pela recusa à narrativa fechada e acabada ao buscar formas líquidas e inconclusas, que perpetuamente se desmancham para novamente se construírem. É o caso do romance A paixão segundo G.H, publicado em 1964. Nesta obra, a massa textual assinala a intersecção en abyme de encadeamentos significativos diversos, um intrigante jogo narrativo especular, percorrendo um itinerário poético e labiríntico. A estrutura dos capítulos é marcada por um recurso técnico original, em que cada última frase de um capítulo se repete como a primeira do seguinte, num sinal de continuidade e retomada, ao modo de rimas dispostas em uma poesia. A repetição das frases potencializa o efeito de circularidade e o movimento de consciência da personagem G.H, que se apresenta desorganizada. Em linhas gerais, buscamos empreender um caminho possível de análise ao romance mencionado, guiando-nos pelos estudos de Gérard Genette (1982), Jean-Yves Tadié (1978), Lucien Dallenbach (1979), Laurent Jenny (1979), entre outros.
Resumo Este artigo busca analisar o espelhamento presente em Instantâneo da desmedida, penúltimo texto de Um beijo por mês (2018), de Vilma Arêas. Ao criar uma personagem que, em visita a uma galeria de arte, depara-se com fotografias de diferentes escalas, a autora possibilita um jogo abismal capaz de gerar reflexões em torno da própria arte literária, uma vez que o arranjo dos objetos articula ocorrências que perturbam a espectadora, confundindo-a quanto à real escala das cenas e espaços, tais como os “instantâneos” do volume de Arêas. Com base nessas considerações, salientamos a mise en abyme como uma das bases de produção da escrita de Vilma Arêas. Para tanto, lança-se aqui a proposta de uma análise possível ao texto mencionado a partir das formulações de Lucien Dallenbach (1979; 1977; 1972), entre outros teóricos. Ademais, as reflexões de André Malraux (2006; 1996) acerca do museu imaginário auxiliarão na discussão.
Resumo: Este artigo tem por objetivo discutir o deslocamento e a subversão dos conceitos mais tradicionais de gêneros literários, a partir dos contos "Pega ela", de Ferréz, e "Justiça", de Claudio Galperin. As questões levantadas analisam a potencialidade da experimentação formal de ambas as narrativas, procurando estabelecer relação de mediação com a realidade social em que foram produzidas. Por meio de diálogos dissonantes, a estrutura de "Pega ela" possibilita novas maneiras de pensar o modo narrativo dramático ao mimetizar a estrutura rítmica do rap, gerando ambiguidades e rejeições a convenções e formas. Do mesmo modo, "Justiça" aponta para a fragmentação narrativa que, ao fundir mecanismos e recursos expressivos ligados ao texto dramático e ao cinema, fraturam os constructos espaciais e temporais. No conjunto, tais estratégias convergem para a temática da violência na literatura brasileira contemporânea, na medida em que potencializam descontinuidades e rupturas como força criativa da ficção desses autores.Palavras-chave: experimentação formal; Ferréz; Claudio Galperin.
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